Sangue, Suor e Lágrimas, a odisseia épica dos Machine Head num Coliseu rendido
Os norte-americanos regressaram ao Coliseu do Porto para apresentar o novo álbum Catharsisz. Durante três horas e mais de duas dezenas de temas toda a discografia da banda foi revisitada.
Não foi por mares nunca antes navegados que os norte-americanos Machine Head arriscaram na passagem deste sábado pelo Coliseu do Porto. Conhecem bem a casa. Em 2016 já por lá tinham passado e antes disso já tinham visitado a Invicta pelo menos um par de vezes, há mais de uma década, quando estiveram no Hard Club, ainda em Gaia, e depois no Sá da Bandeira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Não foi por mares nunca antes navegados que os norte-americanos Machine Head arriscaram na passagem deste sábado pelo Coliseu do Porto. Conhecem bem a casa. Em 2016 já por lá tinham passado e antes disso já tinham visitado a Invicta pelo menos um par de vezes, há mais de uma década, quando estiveram no Hard Club, ainda em Gaia, e depois no Sá da Bandeira.
Desta vez, sem banda de abertura, todas as atenções estavam viradas para os norte-americanos que lá estavam para apresentar o novo álbum, Catharsis. No dia anterior já o tinham feito em Lisboa.
Missão esta que era aguardada com expectativa. Faz parte do fado dos Machine Head saírem de pé quando o percurso é seguro e segue o norte sem surpresas. Tinha acontecido em 1999, após os dois primeiros álbuns, Burn My Eyes (1994) e The More Things Change... (1997), que lhes garantiram a saída do anonimato e os catapultaram para o mainstream do metal mais pesado. Quando era seguro seguir a mesma fórmula fazem uma curva de 180 graus e lançam The Burning Red (1999) e Supercharger (2001), que na altura não colheram as melhores críticas por parte dos fãs mais antigos, mas abriram-lhes portas para chegarem a outros públicos.
Volta a acontecer com o novo álbum e é aqui que arriscam. Após terem dado um passo atrás até ao ponto de partida com quatro álbuns entre 2003 e 2014 mais próximos da génese da banda. Com a saída dos primeiros singles de Catharsis surgiram também questões que punham em causa a nova direcção tomada por esta formação. O vocalista/guitarrista, Rob Flynn, em várias entrevistas fez questão de sublinhar que pouco se preocupava com as críticas que apontavam para a possibilidade de a banda estar a decalcar um género que apesar do nome já pouco tem de novo – o new metal. Na verdade, não sendo new metal, foram os dois primeiros álbuns semente para o género.
Em sábado de Aleluia, véspera de domingo de Páscoa, foram muitos os que quiseram tirar a prova dos nove e se deslocaram ao coliseu para assistir ao concerto, em dia em que uns quilómetros mais abaixo, no Hard Club, tocavam à mesma hora os Fields of Nephilim, que oito anos antes também tinham enchido a arena onde tocavam agora os Machine Head.
Entram com tudo, mas ainda a apalpar terreno com Imperium, do Through the Ashes of Empires (2003), para chegar à furiosa Volatile, do novo. Tudo certo e em termos sonoros tudo coerente. Passam por temas mais antigos, interrompidos por Kaleidoscope, um dos novos singles que mais dúvidas tinha suscitado à critica especializada quanto ao trilho que a banda poderia estar a seguir. Tem entrada quase rappada, tem refrão orelhudo e uma cadência sincopada próxima do hardcore, mas está lá a agressividade que é essência da banda. No conjunto de temas tocados até ao momento não choca pela diferença. Como com Volatile, é um tema que no alinhamento não aparece mal cosido.
E é assim que todos as músicas de Catharsis aparecem na setlist: bem coladas e sólidas. Foram cerca de meia dúzia num concerto épico de três horas, com mais de vinte músicas de toda a discografia. Talvez tempo a mais para qualquer concerto de metal, mas seguramente não podem ser acusados de não terem dado o litro. The blood, the sweat, the tears, tocada na primeira parte do concerto, lançava a pista para o périplo que se seguia.
Tocaram os clássicos: Davidian, Tem ton hammer ou Blood for Blood, no final do primeiro encore. Em homenagem aos Iron Maiden tocaram ainda uma versão de Hallowed be thy name. Houve solos de guitarra, de Phil Demmel, e de bateria, de Dave McClain. Diga-se que desnecessários pela redundância. Não foram diferentes de outros solos ouvidos em muitos outros concertos de outras bandas do género. Valerá a pena queimar dez minutos com lugares comuns?
Lugares comuns que também foram usados no discurso de Rob Flynn. Típico deste tipo de encontros são as juras de amor eterno entre banda e aquele que é “o melhor público do mundo”. Embora neste caso, exista a possibilidade de uma relação de proximidade sincera entre Flynn e companhia e o público português, cuja ligação já é antiga. Recorde-se o ano em que tocaram no Hard Club quando o vocalista chamou alguém do público ao palco. Anos mais tarde, no Sá da Bandeira, lembrou-se do nome desse fã e voltou a chamá-lo.
Mais maduro e mais contido no discurso, Flynn não faz tantas pausas para estabelecer diálogo com a audiência, apostando mais na passagem rápida entre temas que entram uns atrás dos outros em catadupa e a uma velocidade que chama pela adrenalina.
Não chegava um encore e volta-se para o segundo. Faz-se as despedidas com promessas de um regresso e entra Halo, do The Blackening, enquanto caem confettis do tecto do coliseu. “We’ll be back soon”, despede-se para uma plateia em êxtase. O mais certo é que cumpram a promessa.