A primeira galáxia sem matéria escura veio desafiar-nos ainda mais
Pensava-se que a matéria escura – cinco vezes mais abundante no Universo do que a matéria visível – era essencial na formação das galáxias, mas esta descoberta envolta em mistério vem provar que as coisas podem não ser bem assim.
Um grupo de cientistas descobriu uma galáxia que aparenta não ter qualquer matéria escura – uma matéria que não se vê, não emite, não reflecte e não absorve luz, que até agora se pensava ser uma condição essencial na formação das galáxias. A confirmar-se que assim é, esta pode ser a primeira galáxia deste género, feita só de matéria normal (aquela que é possível detectar, como é o caso das estrelas, das luas, dos planetas ou de quem neles habita). O estudo em que é relatada a descoberta foi publicado nesta quinta-feira na revista científica Nature.
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Um grupo de cientistas descobriu uma galáxia que aparenta não ter qualquer matéria escura – uma matéria que não se vê, não emite, não reflecte e não absorve luz, que até agora se pensava ser uma condição essencial na formação das galáxias. A confirmar-se que assim é, esta pode ser a primeira galáxia deste género, feita só de matéria normal (aquela que é possível detectar, como é o caso das estrelas, das luas, dos planetas ou de quem neles habita). O estudo em que é relatada a descoberta foi publicado nesta quinta-feira na revista científica Nature.
A galáxia, que tem o críptico nome NGC1052-DF2 e que se encontra a 65 milhões de anos-luz de distância de nós, faz parte do Grupo Local de galáxias – onde está também a Via Láctea, a que pertencemos. É uma galáxia dispersa, de grandes dimensões (mais ou menos do tamanho da nossa) com uma “aparência esmorecida”.
“Encontrar uma galáxia sem matéria escura é totalmente inesperado porque esta substância invisível e misteriosa é o aspecto dominante de qualquer galáxia”, afirmou o coordenador do estudo, Pieter van Dokkum, da Universidade de Yale (EUA). “Durante décadas, pensámos que as galáxias começam as suas vidas como bolhas de matéria escura” e só então se vão transformando em galáxias. Esta descoberta, diz, acaba por “desafiar” o conhecimento que existe sobre formação das galáxias.
A matéria normal, visível, constitui apenas 5% do Universo. Tudo o resto é invisível: o cosmos é composto por 26,8% de matéria escura; depois, é tudo energia escura, uma energia que contraria os efeitos da gravidade e ajuda o Universo a expandir-se.
A equipa de 12 cientistas dos Estados Unidos, Alemanha e Canadá não estava à procura de uma galáxia desprovida de matéria escura, queriam somente analisar galáxias ultradifusas (muito pouco luminosas), que têm um tamanho similar às galáxias em espiral – como é o caso da Via Láctea –, mas com muito menos estrelas. Quando se deparou com a NGC1052-DF2, Van Dokkum disse à BBC que ficou encantado com o seu “brilho espectral”.
A galáxia tem poucas estrelas, mas muitas delas surgem próximas umas das outras, em pequenos grupos muito luminosos. Ao estudarem o comportamento destes aglomerados, os investigadores aperceberam-se de que as estrelas correspondiam a quase toda a massa da galáxia. Agora, querem tentar perceber em que circunstâncias se deu a formação desta galáxia e também encontrar outras semelhantes, com pouca ou nenhuma matéria escura. “A galáxia é um mistério total, tal como tudo o resto nela é bizarro”, admitiu o astrofísico.
O facto de a matéria escura, cuja característica principal é não emitir radiação em qualquer parte do espectro electromagnético, poder ter uma existência separada das galáxias é outra conclusão importante deste estudo, já que se pensava que eram uma condição essencial na sua formação.
O estudo tem por base dados recolhidos por vários telescópios, incluindo o telescópio espacial Hubble, e os observatórios Gemini e W. M. Keck, ambos localizados no estado norte-americano do Havai. “Se existir sequer alguma matéria escura [nesta galáxia], é muito pouca”, explicou Van Dokkum. Esta matéria que não se vê, mas que sabemos existir por causa dos seus efeitos gravíticos (no movimento das estrelas nas galáxias, por exemplo) continua a ser um dos maiores desafios da física moderna.