Subir às ameias ou ouvir o que não se vê tem de ser possível para todos
Onze projectos, públicos e privados, querem tornar a oferta turística nacional mais acessível a quem tem problemas de mobilidade. O Governo vai dar, para já, 1,7 milhões para que estas ideias saiam do papel e para que Portugal se torne o "destino mais inclusivo e acessível do mundo".
Se Portugal vai somando Óscares no turismo, o desafio é que se torne agora um destino mais inclusivo, mais acessível. E isso pode passar por instalar um elevador no Palácio Nacional de Mafra, relocalizar a bilheteira do Convento de Cristo, pôr a andar um novo comboio turístico na Tapada Nacional de Mafra ou ter uma carrinha de apoio a acompanhar quem quer percorrer os Caminhos de Santiago e tem dificuldades por qualquer razão.
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Se Portugal vai somando Óscares no turismo, o desafio é que se torne agora um destino mais inclusivo, mais acessível. E isso pode passar por instalar um elevador no Palácio Nacional de Mafra, relocalizar a bilheteira do Convento de Cristo, pôr a andar um novo comboio turístico na Tapada Nacional de Mafra ou ter uma carrinha de apoio a acompanhar quem quer percorrer os Caminhos de Santiago e tem dificuldades por qualquer razão.
Estes são alguns dos 11 projectos que querem tornar monumentos e atracções nacionais mais acessíveis a quem não lhes consegue aceder com facilidade. Os protocolos foram assinados esta terça-feira, no Mosteiro da Batalha, entre o Turismo de Portugal e nove empresas e entidades públicas que vão investir 2,1 milhões de euros para tornar a oferta turística mais acessível. O Governo entra, para já, com 1,7 milhões para que estes projectos saiam do papel e para que Portugal se torne o "destino mais inclusivo e acessível do mundo", desafiou a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho.
O Governo anunciou, em Setembro de 2016, um pacote de cinco milhões de euros para “acelerar” o turismo inclusivo – que tem em conta as necessidades dos turistas séniores, dos cidadãos com deficiência e das famílias com crianças. As candidaturas decorreram até ao final do ano passado e estes são os primeiros resultados dessa vertente do Programa Valorizar, que se destina a melhorar a oferta turística em Portugal, e para o qual está previsto um financiamento de 60 milhões de euros.
A Linha de Apoio ao Turismo Acessível tem já 69 projectos aprovados (concorreram 261), que vão envolver um investimentos de 8,5 milhões de euros, detalhou Ana Mendes Godinho.
"Só na Europa, existem cerca de 90 milhões de turistas com necessidades específicas de mobilidade", lembrou a secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, também presente na assinatura dos protocolos. "Isto é mercado. Quem não fizer esta aposta, vai perder este sector, um sector que gasta mais, que fica mais e que volta mais", notou.
"Ou se adaptam rapidamente ou perdem o comboio"
O maior apoio, de 770 mil euros, vai ser entregue à Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), que avançou com um plano para obras no Mosteiro para tornar o Claustro de D. Afonso V mais acessível. Também o Convento de Cristo, em Tomar, será alvo de intervenções com a relocalização da recepção/bilheteira e com a definição de percursos de visita acessíveis. Já no Palácio Nacional de Mafra, será instalado um elevador para aceder aos três pisos e instalada uma plataforma elevatória para aceder à basílica.
Na Batalha, Tomar, Alcobaça, Coimbra (Museu Nacional Machado de Castro) e Mafra, pretende-se tornar a comunicação mais acessível, recorrendo a maquetes, réplicas e sinalética (legendas em braille, guias no chão, setas direccionais) que lhes facilite a visita.
Em Lisboa, a EGEAC - empresa municipal responsável pela gestão de vários equipamentos culturais da cidade - vai melhorar as acessibilidades no Castelo de São Jorge e no Cinema São Jorge. Já na Tapada de Mafra, a viagem de comboio passará a ser possível a quem se desloque de cadeira de rodas.
Para quem percorre os Caminhos de Santiago, a agência de viagens Capacitur quer organizar programas adequados às necessidades e capacidades de cada pessoa. "Vamos assegurar que na caminhada que pode ser de quatro, cinco, seis, sete dias, consegue chegar a Santiago e fazer os 100 quilómetros que são os exigidos para ter o diploma de peregrino”, explica Maria López, responsável da empresa que quer que séniores e quem tem necessidades especiais possa percorrer o caminho.
Para isso, “os pacotes serão muito personalizados”, diz. Os peregrinos serão acompanhados de uma auto-caravana onde podem descansar numa cama, ter uma casa de banho. Além disso, será disponibilizado transporte para cães guia. A ambição, confessa Maria, é estender depois o mesmo serviço à Via Algarviana e à Rota Vicentina.
E é precisamente o turismo, como lembrou Ana Sofia Antunes, “a porta” que está a ajudar “a fazer esta sensibilização até junto de outras áreas governativas para a necessidade que existe de investir nestas questões, noutros sectores". Em concordância, a secretária de Estado do Turismo frisou, no entanto, que "há muito a fazer a nível de adaptação, nomeadamente dos espaços privados, dos hotéis, dos restaurantes e há aqui uma oportunidade de um mercado de milhões". E deixou um desafio: ou se adaptam rapidamente ou “perdem o comboio". "Se queremos garantir que conseguimos atingir os mercados que gastam mais, temos que ser também inteligentes em preparar a nossa oferta para tal”, rematou.
Ainda do lado dos privados, o grupo Vila Galé vai tornar 17 quartos acessíveis em três hotéis no Porto (Vila Galé Porto, sete quartos), Lisboa (Vila Galé Opera em Lisboa, cinco quartos) e Vilamoura (Vila Galé Ampálius, cinco quartos). A par destas intervenções, cada hotel passará a ter um quarto antialérgico, uma carta de restaurante e directório de serviços em braille, o staff receberá formação sobre atendimento inclusivo.
A agência de viagens Tourismforall vai comprar um autocarro com 53 lugares, que pode transportar até dez pessoas em cadeiras de rodas, direccionado a grupos de pessoas com necessidades específicas.
Algumas destas intervenções já estão em curso e a maioria deverá estar concluída ainda este ano.
Ana Mendes Godinho lembrou ainda que está a ser feito um trabalho conjunto com a secretaria de Estado da Inclusão, para "capacitar quer a oferta pública, quer a privada", e apostando na comunicação. "Muitas vezes, as adaptações são simples, custam pouco e as pessoas só não sabem como fazer", notou.
Neste momento, as escolas de turismo estão já a formar profissionais para as questões do turismo acessível. E há uma app - Tur4all – que já diz a “oferta acessível” que temos no país.