Morreu Stéphane Audran, a actriz chabroliana por excelência
Rosto marcante do cinema da Nouvelle Vague, fez 24 filmes com Chabrol, mas também trabalhou com Buñuel ou Samuel Fuller. A actriz de O Charme Discreto da Burguesia e A Festa de Babette morreu esta terça-feira aos 85 anos.
Morreu esta terça-feira, aos 85 anos, a actriz francesa Stéphane Audran, um dos rostos mais marcantes do cinema europeu da segunda metade do século XX, em especial do cinema saído da Nouvelle Vague, e ainda mais especialmente do cinema de Claude Chabrol (1930-2010), com quem trabalhou em 24 filmes, entre 1954 (Les Cousins) e 1990 (Jours Tranquilles à Clichy).
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Morreu esta terça-feira, aos 85 anos, a actriz francesa Stéphane Audran, um dos rostos mais marcantes do cinema europeu da segunda metade do século XX, em especial do cinema saído da Nouvelle Vague, e ainda mais especialmente do cinema de Claude Chabrol (1930-2010), com quem trabalhou em 24 filmes, entre 1954 (Les Cousins) e 1990 (Jours Tranquilles à Clichy).
Foi uma presença recorrente na obra de Chabrol, e também na sua vida: foram casados 16 anos, entre 1964 e 1980, mas a relação de amizade e de trabalho estendeu-se bem para lá da data do divórcio. Em termos criativos, foi uma parceria de duração invulgar e singularmente feliz, tanto que é difícil pensar em Chabrol sem Audran, e em Audran sem Chabrol.
Nascida em Versalhes, arredores de Paris, em 1932, Audran vinha do teatro, que estudou, e no qual se se iniciou nos anos 50, ao lado de outros actores de longa carreira como Delphine Seyrig, Laurent Terzieff, Michel Lonsdale e Jean-Louis Trintignant (com quem foi brevemente casada antes de desposar Chabrol). Chegou ao cinema nas vésperas da Nouvelle Vague, a tempo de ter um pequeno papel, não creditado, no derradeiro filme de Max Ophüls, Les Amants de Montparnasse (1958), completado por Jacques Becker depois da morte do realizador durante a rodagem. Mas logo a seguir, em 1959, caiu no goto daquela geração de realizadores, no momento do arranque do movimento – primeiro Eric Rohmer (Le Signe du Lion, primeira longa do cineasta), depois Chabrol (Les Cousins).
E com o cinema de Chabrol passaria imediatamente a “fazer corpo”, intérprete feita daquele “teatro da crueldade” que era o território do realizador, numa presença onde o “abandono” (Les Bonnes Femmes, 1960) alternava com a “frieza” (Les Biches, 1968; La Femme Infidèle, 1969), e onde a sua beleza – às vezes tratada de modo “esfíngico” – tanto podia ser sinal de vida como manifestação de um destino mais negro. Da colaboração com Chabrol resultaram ainda dois importantes prémios de interpretação: um Urso berlinense em 1969, por La Femme Infidèle, e um César em 1978 por Violette Nozière, onde Audran contracenou com a muito jovem Isabelle Huppert.
Foi essa oscilação entre a “carnalidade” e o “gelo” que Buñuel aproveitou, sobretudo para a sua personagem n'O Charme Discreto da Burguesia, no princípio dos anos 70, década em que Audran, depois de ter passado os anos 60 num regime de quase exclusividade chabroliana, começou a ser mais vista nos filmes de outros realizadores de maior ou menor relevo no panorama da época, como Claude Sautet, Bertrand Tavernier ou Georges Lautner. Chegou a cativar o cinema americano, embora em filmes por norma pouco significativos, excepções feitas à sua participação na “autobiografia de guerra” de Samuel Fuller, O Sargento da Força 1, que o realizador americano estreou em 1980, e a um dos vários “inacabados” de Orson Welles, The Other Side of the Wind, cujo elenco também integrou.
No final dos anos 80 a sua popularidade foi reavivada pelo papel de protagonista num filme dinamarquês, A Festa de Babette, de Gabriel Axel, que se tornou um sucesso popular mundial e ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro em 1988. Mas o ritmo de trabalho de Audran foi mais reduzido nestas últimas décadas: menos filmes e nem por isso especialmente importantes. A sua carreira fechou-se em 2008, num filme de Anne Fontaine, La Fille de Monaco, não estreado em Portugal.