Varoufakis na Grécia: o regresso do filho tão pródigo quanto maldito

O antigo ministro das Finanças dá mais um passo do seu movimento pan-europeu lançando um partido político na Grécia.

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Varoufakis, convidado a dar uma aula Centro de Estudos Sociais, em Coimbra Sérgio Azenha

Depois de dois anos a construir a base de um movimento pan-europeu, Yannis Varoufakis vai apresentar esta segunda-feira o seu partido político na Grécia – coincidência ou não, numa altura em que a especulação sobre eleições antecipadas cresce em Atenas. 

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Depois de dois anos a construir a base de um movimento pan-europeu, Yannis Varoufakis vai apresentar esta segunda-feira o seu partido político na Grécia – coincidência ou não, numa altura em que a especulação sobre eleições antecipadas cresce em Atenas. 

No seu país a polarização da sua figura atinge o zénite, e Varoufakis é visto ou como o ministro que teve coragem de lutar contra ditames por um acordo que não fosse tão penalizador, ou o louco que fez a Grécia perder milhões de euros num jogo suicida. 

A sua entrada na política grega (onde se espera que seja mais um pequeno partido de esquerda, tal como outros de dissidentes do Syriza) faz parte da estratégia do movimento DiEM25, apresentado há dois anos numa absolutamente esgotada Volksbühne, em Berlim (o “teatro do povo”, na praça com o nome de Rosa Luxemburgo), junto com o filósofo croata Srecko Horvat, que tem como objectivo aumentar a transparência e a democracia na Europa e nas suas instituições. Mas, ao mesmo tempo, a criação deste partido, chamado MeRA25, permite que dispute eleições na Grécia. 

Varoufakis foi ministro das Finanças durante cinco turbulentos meses na Grécia, em 2015, quando o recém-chegado ao poder Syriza tentou renegociar o memorando de entendimento com a troika para melhores condições no empréstimo e para diminuir as medidas com custos sociais, sem sucesso.

Depois de Tsipras ter decidido aceitar a proposta europeia acabada de recusar num emocional referendo, Varoufakis saiu. O seu jogo de bluff com o Eurogrupo teve consequências; ainda recentemente foi acusado pelo presidente do grupo de trabalho que prepara as reuniões do Eurogrupo, Thomas Wieser, de ter feito o país perder 200 mil milhões de euros (uma afirmação algo extraordinária quando o PIB anual da Grécia é menor do que isto, 176 mil milhões de euros em 2016). 

Tspiras, Assange e Shakespeare 

Depois de meses de relação amigável com Tsipras, Varoufakis diz agora que os dois não falam e não hesita em criticar os ex-colegas de Governo, como o seu sucessor, Euclides Tsakalotos, um homem que diz “não reconhecer” por se ter transformado num “yes man” e que, nota, “lê romances de Jane Austen antes das cimeiras importantes”. Já ele, Varoufakis, ainda recentemente deu uma conferência em Londres sobre Shakespeare e relatou como ouvindo a directora do FMI, Christine Lagarde, explicar que não era possível mudar de rumo na Grécia porque já tinha sido investido demasiado na solução em curso, considerou citar-lhe MacBeth e a loucura de continuar a matar só porque se começou. 

Não é, no entanto, apenas Varoufakis a figura polarizadora no DiEM25: a presença de Julian Assange, fundador da WikiLeaks que atacou Hillary Clinton durante a campanha nos EUA, motiva críticas externas e discussão interna. Varoufakis, que diz ser amigo de Assange, defende a sua presença pelo papel na Wikileaks e promoção de transparência, mas muitos membros expressam descontentamento porque vêem nele uma figura antidemocrática pela acção da Wikileaks na campanha eleitoral norte-americana. 

Sucesso na Alemanha 

A nível europeu, apesar de considerar o Parlamento Europeu obsoleto (“é o único que não pode iniciar processos legislativos”), o partido pretende concorrer, apesar de não ser possível fazê-lo com uma lista transnacional – esta foi recusada pelos eurodeputados para a próxima legislatura. 

Assim, o DiEM25 está, para já, a formar uma rede de partidos associados para disputar as eleições para o Parlamento Europeu de 2019 – o primeiro encontro foi em Nápoles no início do mês e junta movimentos como o português Livre, o movimento Génération.s de Benoît Hamon (antigo PS francês), o dinamarquês Alternativet ou o polaco Razem. Os partidos pretendem simular a lista transnacional tendo um manifesto comum e candidatos nos vários países. 

O movimento que pretende “uma Europa totalmente democrática e funcional até 2025” tem ainda uma série de grupos de base (“grassroots”) tanto nos países com partidos associados à “rede” como em países sem esta associação. Numa entrevista ao Huffington Post italiano, questionado sobre em que país europeu o movimento tem mais sucesso, Varoufakis aponta a Alemanha: “E isso dá-me muito alento”, diz. Num post sobre as eleições alemãs no seu site, o DiEM25 notava que dos grupos locais que estão a florescer, “a Alemanha é quem tem mais!”.