Especialistas do sono alertam para riscos da mudança da hora
Um estudo publicado em 2017 pelo neurologista brasileiro Fontenelle Araujo concluiu que cerca de metade das pessoas sente de alguma forma o impacto da mudança da hora.
Especialistas em cronobiologia e medicina do sono alertam para os riscos da mudança da hora, que acontece na próxima madrugada, como alterações do sono, do estado de ânimo, de capacidades cognitivas como a memória e psicomotoras.
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Especialistas em cronobiologia e medicina do sono alertam para os riscos da mudança da hora, que acontece na próxima madrugada, como alterações do sono, do estado de ânimo, de capacidades cognitivas como a memória e psicomotoras.
Os relógios vão adiantar, no domingo, uma hora quando for 1h no continente e na Madeira e meia-noite nos Açores, dando início ao horário de Verão, que vigorará até 28 de Outubro.
"Esta mudança, decidida pela primeira vez com o argumento da necessidade de poupança energética, preocupa actualmente especialistas", que se reuniram para reflectir e estabelecer algumas directrizes, disse à agência Lusa Miguel Meira e Cruz, coordenador da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa.
Meira e Cruz, que faz parte do Grupo de Consenso sobre o Impacto da Mudança da Hora, juntamente com John Fontenelle Araujo (Brasil), Dário Acuña-Castroviejo e Eduard Estivill (Espanha), e Masaaki Miyazawa (Japão), analisaram os impactos da mudança da hora na saúde, na sequência do II Encontro Latino-Americano e 1º Congresso Português de Cronobiologia e Medicina do Sono.
O especialista português alertou para "os riscos" desta mudança, "mesmo numa amplitude aparentemente inofensiva", que podem ser "um drama real e determinante de problemas irresolúveis" para algumas pessoas e lembrou estudos recentes que, embora controversos, apontam um aumento do número de enfartes.
"Quando exigimos uma alteração horária repentina esquecemos que os relógios existentes em todas as células do organismo não têm capacidade de se adaptar de imediato", salientou.
Masaaki Miyazawa, imunologista e director da Escola de Ciências Médicas da Universidade de Kindai, salientou a "influência das alterações circadianas nas células 'natural killer'", uma primeira linha da resposta imunitária.
"É consensual que a expressão destas moléculas citotóxicas e a actividade" destas são mais elevadas durante a manhã e diminuem durante a noite.
"Sabemos que a alteração horária frequente, como sucede em circunstâncias da mudança da hora, aumentam a incidência de cancro do pulmão em modelo animal através destes mecanismos", sublinhou Miyazawa, adiantando que estas transições podem afectar, pelo menos de forma temporária, o sistema imunitário com compromissos diversos na saúde.
Um estudo publicado em 2017 pelo neurologista brasileiro Fontenelle Araujo, que envolveu 5631 pessoas, concluiu que cerca de metade das pessoas sente de alguma forma o impacto da mudança da hora.
Destas, metade é afectada durante a primeira semana, cerca de um quarto (27%) durante todo o mês e 23% não recupera durante o horário de Verão, sendo as mulheres e os vespertinos aqueles que apresentam mais queixas.
Dario Castro-Viejo, do Instituto Internacional de Melatonina, sublinhou que as repercussões da alteração da hora na saúde incluem alterações de sono, do estado de ânimo e de capacidades cognitivas como a memória e de certas capacidades psicomotoras.
"Na maioria das pessoas, o relógio biológico central procurará adaptar-se em quatro a seis dias, a partir do qual voltaremos a funcionar adequadamente", explicou Castro-Viejo.
Segundo Eduard Estivill, de Barcelona, as crianças mais novas são mais vulneráveis à mudança da hora, pelo que devem ser realizadas alterações de forma progressiva.
Veja aqui alguns conselhos para se adaptar à mudança de hora