Um clube de vinhos digital que é uma caixa de surpresas (ou várias)
Antes de desembrulhar as garrafas, tudo o que sabe é que foram escolhidas por um especialista, diferente todos os meses. É arriscado, mas não “é suposto o vinho ser divertido”? A Nosy nasceu para torcer o nariz a quem disser o contrário.
Imagine-se frente a frente com a garrafeira do supermercado: sabe para que lado se há-de virar? (Pode responder honestamente, ninguém está a ouvir.) O mais provável será retirar da prateleira uma garrafa já conhecida, “caindo sempre nas mesmas opções”, ou fazer a selecção com base noutro factor importante. “O preço”, ri-se Marta Maia, 23 anos.
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Imagine-se frente a frente com a garrafeira do supermercado: sabe para que lado se há-de virar? (Pode responder honestamente, ninguém está a ouvir.) O mais provável será retirar da prateleira uma garrafa já conhecida, “caindo sempre nas mesmas opções”, ou fazer a selecção com base noutro factor importante. “O preço”, ri-se Marta Maia, 23 anos.
Desde Novembro que Marta monta em casa caixas que prometem ajudar a responder à pergunta que lhe fizemos no início do texto. Como? Ao deixar a escolha nas mãos (e paladar) de quem “realmente percebe de vinhos” — sem ofensa.
É esta a proposta da Nosy Wine Club: em vez de ir até à garrafeira, três garrafas escolhidas por um ou uma especialista da área batem-lhe à porta de casa todos os meses, bastando para tal preencher um formulário online.
Por estes dias, com o clube de vinhos digital a entrar na sua primeira Primavera, começam a chegar as caixas coloridas que transportam o trio de Vítor Claro, antigo chef convertido em produtor de vinhos. Que se comece então a desembrulhar uma a uma, com toda a religiosidade, “como se fosse Natal todos os meses”, brinca Marta Maia — um aviso: se já é assinante da Nosy deve passar à frente o próximo parágrafo, não queremos estragar a surpresa.
Para todos os outros: da vinha do próprio Claro, em Portalegre, no sopé da serra de São Mamede, chega um Dominó Tinto 2015, “antes sequer de estar no mercado”. E “lá caímos, outra vez, na história de um Alentejo diferente, fresco e com mais acidez”, justifica o produtor na entrevista que acompanha a edição de Março da revista mensal do clube. A caixa fica completa com um Vale da Capucha Gouveio 2014, de Lisboa, “porque somos um povo de mar”, e um Primata Tinto 2016 do Douro, “para ser bebido com um sorriso maroto nos lábios”.
Até porque a Nosy se quer “rebelde” e “descontraída”. “Os clubes de vinho têm muito um lado snob, de tu quase teres de ser um entendedor para te inserires. E eu nunca fui assim”, conta Marta, no escritório que partilha com outras empresas, na Baixa do Porto.
Na verdade, antes de criar a start up, tirando algumas raízes em Baião, também ela pouco ou nada percebia de vinhos (confia o trabalho de “entendedor” a Fernando Correia, com quem já trabalhava noutra empresa, juntamente com Virgílio Bento, que completa a equipa). Mas gostava muito de aprender. “Queria uma coisa que fosse boa tanto para quem realmente percebe muito, e então usa a Nosy para receber recomendações, como para pessoas que estão a começar a descobrir, querem construir a própria garrafeira em casa e não sabem por onde devem começar.” Até porque “os experts acabam por escolher os vinhos que a maior parte das pessoas não vê, porque não estão nos supermercados e são produtores mais pequeninos.”
Decidida a conhecer, Marta frequentou provas e cursos com o pai, que, apesar de ser um apreciador, escolhia “sempre (“sempre!”) a mesma garrafa de vinho”. Testou ainda novos clubes que baseiam as escolhas em quizzes online: “Perguntam se gostas mais de chocolate preto ou branco, bebes café ou chá e fazem a sua recomendação baseada nas tuas respostas.” Escusado será dizer que não ficou entusiasta da fiabilidade do método. “Além disso, não quisemos entrar por aí porque se quisesses comprar vinho que tens a certeza absoluta que vais gostar, compravas o que já sabes que gostas.” “Como o meu pai”, ri-se, “que agora é o primeiro a receber a caixa todos os meses”.
Apesar do nome, a Nosy diz não se intrometer no processo de escolha pessoal do especialista. “O que logisticamente é um pesadelo”, confessa, “mas nós queremos proporcionar a maior descoberta possível, com a máxima variedade de experiências”. “Além de que não posso chegar à beira do Richard Mason [o primeiro especialista, de Novembro] e dizer ‘tens aqui esta lista de 20 e agora escolhe três, por favor’.”
A única limitação imposta é o preço: a caixa Nosy Yellow, actualmente a única disponível, custa 50 euros. O que significa que cada garrafa que transporta “ronda os 15 a 20 euros”, um valor “um pouco elevado para Portugal”. Por isso é que, dentro de dois meses, o serviço de subscrição deverá também ser lançado no Reino Unido, para onde foi inicialmente pensado.
Vai continuar por cá, garante Marta Maia, “com as pessoas que decidiram aventurar-se nesta jornada de descoberta antes sequer de imaginarem o que aí vinha”. “E com quem se quiser juntar”, diz. Querem formar uma comunidade e, sendo nativos digitais, apelam à cultura da partilha (até têm a #nosywineclub). Mas não é por isso que, como todos os clubes, não guardam segredos. Não se preocupe: eles não contam a ninguém que essa garrafa, na verdade, foi um especialista que escolheu.