As novas vidas da centenária A Brasileira
Fechada desde 2013, a famosa cafetaria do Porto reabriu após uma profunda remodelação do edifício. E para além do café, passa a contar com um restaurante de autor e um hotel de cinco estrelas.
São 8h. Há precisamente 5994 semanas, o café A Brasileira?, no Porto, abriu pela primeira vez ao público – a 4 de Maio de 1903. Nesta sexta-feira, 23 de Março de 2018, as portas voltaram a abrir-se à cidade e ao mundo. Mas já não é apenas um café. A centenária casa comercial na Rua de Sá da Bandeira tem um currículo renovado. Nesta nova reencarnação, cinco anos após ter fechado, A Brasileira apresenta-se como cafetaria, restaurante e hotel de cinco estrelas. Para a abertura, “houve pessoas que vieram de Lisboa e de Guimarães de propósito”, conta a responsável da zona Norte do Grupo Pestana, Mariana Lacerda.
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São 8h. Há precisamente 5994 semanas, o café A Brasileira?, no Porto, abriu pela primeira vez ao público – a 4 de Maio de 1903. Nesta sexta-feira, 23 de Março de 2018, as portas voltaram a abrir-se à cidade e ao mundo. Mas já não é apenas um café. A centenária casa comercial na Rua de Sá da Bandeira tem um currículo renovado. Nesta nova reencarnação, cinco anos após ter fechado, A Brasileira apresenta-se como cafetaria, restaurante e hotel de cinco estrelas. Para a abertura, “houve pessoas que vieram de Lisboa e de Guimarães de propósito”, conta a responsável da zona Norte do Grupo Pestana, Mariana Lacerda.
São 8h02. As visitas começam a entrar pela porta do n.º 71 daquela rua, que tem vizinhos bem conhecidos, como os teatros Rivoli e Sá da Bandeira e também o Coliseu do Porto. Paira no ar a curiosidade e a expectativa de quem vai reencontrar-se com um velho conhecido. A casa estava fechada desde Fevereiro de 2013. Mas vamos por partes.
A fachada novecentista foi recuperada e o interior restaurado sem apagar marcas e memórias do passado – graças a António Oliveira, o antigo seleccionador nacional de futebol, agora na pele de empresário, que comprou "por paixão" o edifício em 2013. “A paixão [do meu pai] começou nos tempos de escola, quando vinha para aqui com um amigo, beber café e ver os passantes”, conta o filho de Oliveira, Pedro.
À entrada do café, há espelhos à direita, com o mesmo design dos de antigamente. No chão, um mosaico de flores, mas é o verde água que se destaca nas paredes, com apontamentos dourados sob um fundo branco. O tom geral é de uma certa informalidade. Com o objectivo de ser um café para todos e de levar as pessoas numa viagem ao passado, nem a origem dos grãos de café nem o famoso bolo 4 de Maio foram descurados: o café que agora é servido vem de uma fazenda brasileira próxima do local de onde, no século XX, o fundador da casa, Adriano Telles, importava os grãos de café que vendia depois n'A Brazileira, com "z" na grafia original.
E o café era bom? Ao que tudo indica não. Nos primórdios, a bebida era oferecida a quem comprasse um saco de café – e isto numa sociedade que não tinha o hábito de o consumir em chávena. “Era tão azedo que as pessoas cuspiam [o café]”, conta Mariana Lacerda. E o que se lê nas placas que ainda existem em duas colunas, existentes na cafetaria, sugerem que era mesmo esse o caso: “Por favor: não cuspam no chão”. Agora, os tempos são outros. Para além dos grãos importados do Brasil, os proprietários querem apostar também no café de especialidade, torrado artesanalmente na Maia. E nem o chá é ao acaso. Querendo remontar ao século passado, os promotores escolheram a marca francesa Compagnie Coloniale, cujas latas ainda ajudam à decoração.
“É um negócio de café de excelência e é aí que nos queremos posicionar: no roteiro das cafetarias mais emblemáticas de Portugal e, claro, do Porto”, explica a mesma responsável, destacando como aspecto positivo a localização, onde há “uma azáfama natural". Ali perto fica a estação de São Bento, "os comboios deixam diariamente pessoas que trabalham no Porto", destaca Mariana Lacerda. Ali na Baixa portuense, a cidade fervilha de movimento.
Porém, A Brasileira, como já se disse, já não é só a cafetaria. A partir das 19h dá lugar a um bar – que fecha às 24h (de segunda a quinta) e à 1h, de sexta a sábado. “Se sentirmos que A Brasileira começa a ter uma centralidade nocturna (...) vamos ter de ajustar o horário.”
Os planos não ficam por aqui. Com o propósito de ser um ponto convergente de diferentes culturas, o espaço quer reavivar as antigas tertúlias – embora num molde mais moderno –, vai criar uma esplanada e, possivelmente, um Grab and Go, para quem comprar um café e seguir marcha.
Na ponta oposta à entrada da cafetaria, fica a entrada para o hotel de cinco estrelas. Tem 90 quartos (89, se excluirmos a suite privada do proprietário) e será gerido pelo grupo Pestana, o maior grupo hoteleiro nacional, através de uma parceria de apoio à gestão. Esta unidade passa a integrar a linha Pestana Collection, a marca topo de gama deste grupo.
Os hóspedes podem contar com ginásio, duas salas de reuniões e um pátio francês com um jardim vertical (sim, há mesmo plantas naturais dispostas em três grandes tapetes que vão desde o primeiro ao sexto andar).
O arquitecto brasileiro Jaime Morais, responsável pela decoração do hotel, idealizou seis pisos temáticos distintos. Cada andar representa uma especiaria introduzida em Portugal na época dos Descobrimentos. Como? Sobretudo através do odor – cada piso tem um perfume característico, desde o chá ao anis, passando pela canela, cacau e a acabar na pimenta e... no café.
Mas há mais elementos distintivos. À saída do elevador encontra-se uma estante com as especiarias expostas em pequenos frascos. À direita, está um touch screen explicativo da história, origem e uso das especiarias. E o tema prolonga-se, quer nas diferentes imagens vísiveis nos corredores, quer dentro dos quartos, nas cabeceiras.
Os pequenos-almoços, almoços e jantares podem ser servidos na cafetaria. Isto porque, diz Mariana Lacerda, a ideia é interligar as diferentes áreas do edifício.
O restaurante abre segunda-feira, 26 de Março e terá a assinatura de Rui Martins (chefe do Rib Beef & Wine), apostando num "conceito de cozinha portuguesa".
O Grupo OPPA (propriedade de António Oliveira) investiu 12 milhões de euros nesta remodelação, cujo projecto é da autoria do gabinete de arquitectura APEL, do portuense Ginestal Machado e Maria Ginestal.