Mundial da Rússia: será a violência inevitável?

Adeptos ingleses na mira de hooligans russos e argentinos. Autoridades de Moscovo garantem condições de segurança.

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Confrontos entre adeptos russos e ingleses manchou o Euro 2016 Reuters/JEAN-PAUL PELISSIER

A ameaça de repetição das cenas de violência que mancharam o Europeu de 2016, em França, é algo que está na mente de todos os adeptos de futebol que se deslocarem à Rússia, para assistirem ao Mundial, que começa a 14 de Junho. As autoridades de Moscovo afirmam que as medidas de segurança apertadas impedirão confrontos, mas há indicadores de movimentos sub-reptícios que pretendem iludir as forças policiais e transformar a competição numa batalha campal.

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A ameaça de repetição das cenas de violência que mancharam o Europeu de 2016, em França, é algo que está na mente de todos os adeptos de futebol que se deslocarem à Rússia, para assistirem ao Mundial, que começa a 14 de Junho. As autoridades de Moscovo afirmam que as medidas de segurança apertadas impedirão confrontos, mas há indicadores de movimentos sub-reptícios que pretendem iludir as forças policiais e transformar a competição numa batalha campal.

A animosidade entre russos e ingleses pode tornar-se uma mistura ainda mais explosiva se os argentinos — eternos rivais dos britânicos — se juntarem à equação. A imprensa sul-americana noticiou que um grupo de hooligans russos fez a viagem de 13 mil quilómetros até Buenos Aires, onde se reuniu com membros de claques argentinas. Rafael Di Zeo, líder do grupo “La 12”, claque do Boca Juniors, terá sido o primeiro a receber a comitiva russa, que falou com os adeptos de mais quatro clubes argentinos. Em discussão terão estado formas de conseguirem aproximar-se de fãs ingleses, aumentando as hipóteses de reeditar as cenas de violência vividas em França, há dois anos.

O diário espanhol As também noticiou o encontro, dizendo que a reunião foi descoberta pelo grupo policial argentino Bancada Segura, que detectou os russos quando estes tentavam entrar no estádio do Boca Juniors com cartões falsos. Nesses encontros, a comitiva constituída por adeptos do Zenit e Dínamo de Moscovo, garantiu alojamento aos hooligans argentinos na capital russa, onde a selecção argentina ficará instalada. A selecção inglesa ficará na cidade de São Petersburgo, e o momento mais problemático poderá acontecer entre os dias 21 e 24 de Junho, período em que a Inglaterra e a Argentina jogarão na mesma cidade, com uma diferença de três dias.

Adeptos britânicos temem pela sua segurança

Os adeptos ingleses — conhecidos por se deslocarem em grandes números nas competições internacionais — não terão a presença forte que se fez sentir nas competições anteriores. Aliás, o número de fãs ingleses será dos mais baixos desde que há registo. Segundo os organizadores da competição, são esperados 10 mil adeptos, metade do número de fãs que rumaram ao Brasil em 2014. Mas também estes constituem uma ameaça: no jogo amigável entre a Holanda e a Inglaterra desta sexta-feira, 25 hooligans ingleses foram detidos em Amesterdão e acusados de "distúrbio da ordem pública". A polícia holandesa teve de impedir a venda de álcool, depois de os fãs terem arremessado objectos para os canais da cidade. 

O embaixador russo em Inglaterra, Alexander Yakovenko, disse aos jornalistas que “todas as medidas estão a ser tomadas” e que as autoridades britânicas estão em contacto com as congéneres russas “para garantir a segurança dos fãs e de todos os britânicos que estarão em território russo”.

Seis meses após os confrontos do Europeu, a BBC acompanhou vários grupos de adeptos russos que mostravam estar a preparar-se para uma verdadeira guerra. Treinos diários, combates com rivais e tácticas militares: tudo a pensar no Mundial deste Verão e na eventual vingança contra os fãs ingleses.

Em Abril de 2017, Vladimir Putin aprovou leis desportivas mais apertadas e severas. Em primeiro lugar, criou uma lista negra onde constam os nomes de centenas de hooligans que estão impedidos de entrar nos estádios de futebol. As mesmas leis duplicaram o preço das multas, dão à polícia o poder de deter adeptos desordeiros e aumentaram a duração do período de interdição dos prevaricadores até um máximo de sete anos.

“A FIFA tem completa confiança nas medidas e no conceito abrangente de segurança desenvolvido pelas autoridades russas e pelo comité local de organização”, disse um porta-voz da federação à Reuters após os confrontos entre adeptos do Spartak de Moscovo e do Athletic de Bilbau terem vitimado mortalmente um polícia espanhol.

A violência que ensombrou a França

No Europeu em que Portugal se sagrou campeão, a fase de grupos foi marcada pela violência entre adeptos russos e ingleses. No primeiro jogo de ambas as equipas na competição, hooligans russos invadiram as bancadas britânicas e semearam o caos. Mal terminou a partida, um very-light foi disparado da zona russa para a bancada central. Antes do jogo, em Marselha, violentos confrontos acabaram com um fã inglês gravemente ferido, após ter sido atingido na cabeça por um martelo. A UEFA ameaçou banir ambas as equipas do torneio, mas a Rússia foi eliminada na fase de grupos e a Inglaterra caiu nos oitavos-de-final contra a Islândia. No resto da competição, não se registaram incidentes de violência de maior.

O Mundial da Rússia terá início a 16 de Junho e terminará a 15 de Julho. A Alemanha procura defender o título conquistado em 2014, no Brasil, após ter vencido a final contra a Argentina, por 1-0, nos últimos minutos do prolongamento.

Texto editado por Nuno Sousa