Tuberculose em crianças aumentou depois de mudança na estratégia de vacinação
A partir de 2017 passaram a ser vacinadas apenas as crianças com factores de risco individuais ou comunitários para a tuberculose.
O número de crianças menores de seis anos com tuberculose aumentou em 2017, quando a doença reduziu em todos os outros grupos, o que pode estar ligado à alteração da estratégia de vacinação com BCG, apontou nesta quinta-feira a Direcção-Geral da Saúde.
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O número de crianças menores de seis anos com tuberculose aumentou em 2017, quando a doença reduziu em todos os outros grupos, o que pode estar ligado à alteração da estratégia de vacinação com BCG, apontou nesta quinta-feira a Direcção-Geral da Saúde.
"Assistimos a um aumento de casos de tuberculose nas crianças com idade menor ou igual a cinco anos, particularmente das formas graves da doença", refere um relatório da DGS, apresentado nesta quinta-feira em Lisboa. O documento recorda que em 2016 foi alterada a estratégica de vacinação com a vacina BCG, passando-se de uma vacinação universal para uma vacinação selectiva, direccionada às crianças com factores de risco individuais ou comunitários para a tuberculose.
"A manutenção desta estratégia exige que seja assegurada a identificação adequada das crianças que cumprem os critérios de elegibilidade para vacinação", lê-se em Tuberculose em Portugal – Desafios e Estratégias 2018.
Em 2017 foram notificados 32 casos de tuberculose em crianças até aos cinco anos, quatro desses casos com formas graves da doença – que ocorreram em crianças não vacinadas e com menos de dois anos. No ano anterior, em 2016, tinham sido registados dois casos de forma grave da doença.
Identificar as crianças elegíveis
Raquel Duarte, directora do Programa Nacional para a Tuberculose, considera que este aumento é um sinal de que é necessário identificar melhor as crianças que são elegíveis para a vacinação. A especialista continua a considerar que Portugal "tem condições epidemiológicas que permitem uma estratégia de vacinação selectiva" e não a universal que antes se verificava.
"Mas temos de garantir que conseguimos identificar as crianças elegíveis", insiste, em declarações à agência Lusa, indicando que isso tem de ser feito a nível local, pelos cuidados de saúde, tendo muita atenção ao contacto com as grávidas e depois com os bebés.
Para Raquel Duarte é ainda necessário "um grande alerta junto dos profissionais", até porque os jovens médicos já quase não estudam a tuberculose e os profissionais acabam muitas vezes por não estar despertos para a doença.
Diagnóstico tardio
O aumento de casos em crianças pequenas, segundo a especialista, pode explicar-se com o aumento do tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico, já que as pessoas infectadas vão transmitindo a doença aos mais próximos, sobretudo aos contactos mais vulneráveis, como crianças e imunodeprimidos.
Desde o início dos sintomas, os casos de tuberculose demoram mais de cem dias, em média, a ser diagnosticados em Portugal. Há doentes que chegam aos consultórios seis meses depois de terem as primeiras queixas. Raquel Duarte aponta o encurtamento deste período como uma das missões mais relevantes.
Taxa de incidência mais baixa
Embora ainda apresente dos mais altos valores da Europa, Portugal registou nos últimos dez anos uma diminuição de cerca de 40% da taxa de notificação e de incidência da doença. Nos últimos cinco anos, a taxa tem reduzido a um ritmo de 5% ao ano e desde 2015 que a taxa de incidência está abaixo dos 20 casos por 100 mil habitantes.
Os valores provisórios de 2017 apontam para uma taxa de incidência abaixo dos 16 por 100 mil habitantes, com uma maior concentração de casos nos distritos de Lisboa e do Porto.
A responsável do Programa Nacional para a Tuberculose mostra-se cautelosa quanto ao objectivo de atingir a eliminação da doença em 2030, que é aliás um objectivo mundial. "Estamos a correr para esse objectivo, mas com muita cautela", afirmou Raquel Duarte.
Uma vacina verdadeiramente eficaz para a tuberculose seria uma ajuda essencial, admite Raquel Duarte, até porque a actual vacina BCG não previne completamente a doença, embora evite as formas mais graves. "Temos tido investigação e há algumas investigações promissoras. Mas não será para breve o aparecimento de uma nova vacina."
A tuberculose é uma doença infecciosa, que atinge geralmente o pulmão, e que pode ser transmitida de pessoa a pessoa através da tosse, por exemplo. Entre os sintomas de tuberculose estão tosse, expectoração, emagrecimento, cansaço ou febrícula.