Ex-espião russo e filha podem ficar com "danos mentais irreversíveis"

Os dois permanecem internados em estado grave depois de terem sido atacados com uma arma neurotóxica no início deste mês. Londres aponta culpas a Kremlin.

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O agente neurotóxico de classe militar russo que no dia 4 de Março foi utilizado para para tentar matar o antigo agente duplo russo Serguei Skripal e a filha, Iulia, poderá ter provocado danos irreversíveis na capacidade mental de ambos, afirmou nesta quinta-feira um juiz britânico. O ex-espião russo e a filha, de 33 anos, foram encontrados inconscientes num banco num centro comercial em Salisbury, a cerca de 140 quilómetros a sudoeste de Londres. Permanecem internados em estado grave.

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O agente neurotóxico de classe militar russo que no dia 4 de Março foi utilizado para para tentar matar o antigo agente duplo russo Serguei Skripal e a filha, Iulia, poderá ter provocado danos irreversíveis na capacidade mental de ambos, afirmou nesta quinta-feira um juiz britânico. O ex-espião russo e a filha, de 33 anos, foram encontrados inconscientes num banco num centro comercial em Salisbury, a cerca de 140 quilómetros a sudoeste de Londres. Permanecem internados em estado grave.

"O efeito concreto que resultará na saúde de ambos a longo prazo, consequência da exposição ao agente neurotóxico, permanece desconhecido. No entanto, os exames médicos sugerem que a capacidade mental pode ter ficado comprometida a um nível para já ainda desconhecido e incerto", afirmou nesta quinta-feira o juiz britânico David Williams do Tribunal de Protecção de Londres, uma entidade que avalia casos relacionados com pessoas que não podem tomar decisões de forma autónoma.

No início desta semana, a primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou que era “altamente provável” que o Kremlin fosse responsável pela tentativa de homicídio do espião russo e da sua filha. Londres nota que as análises feitas à arma química encontrada concluíram que se tratava de Novichok, uma substância neurotóxica produzida na Rússia. O Governo russo rejeita a acusação, mas Londres já avançou com a expulsão de 23 diplomatas russos, aos quais foi dado o prazo de uma semana para deixarem o Reino Unido. Como resposta, também Moscovo anunciou a expulsão de 23 diplomatas britânicos e o fim das actividades do British Council no país. Em resposta às acusações de Londres, o embaixador russo na capital inglesa, Vladimir Iakovenko, defendeu ainda que, se tivesse sido usado o agente tóxico referido, o ex-espião e a filha teriam morrido.

Esta quinta-feira, May voltará a comentar o ataque durante o jantar que encerra o Conselho Europeu. "Está comprovado que a ameaça russa não respeita fronteiras e o incidente em Salisbury é exemplo de um padrão de agressão da Rússia contra a Europa e os seus vizinhos. Estamos todos em risco", dirá May, no seu discurso, já antecipado por alguns meios de comunicação internacionais durante a manhã desta quinta-feira, com base num documento de antevisão da reunião.

O Reino Unido planeia ainda pedir que os líderes europeus expulsem diplomatas russos implicados em actividades de espionagem, seguindo o exemplo britânico. 

Sergei Skripal, de 66 anos, tinha sido condenado a 13 anos de prisão pela Rússia, em Agosto de 2006, por ter revelado a identidade de agentes secretos russos a operar na Europa ao serviço de agências secretas britânicas. Em 2010, foi perdoado pelo então Presidente, Dmitri Medvedev, e nesse mesmo ano o Reino Unido concedeu-lhe asilo. Skripal foi um dos quatro prisioneiros que Moscovo libertou em troca da libertação de dez espiões então detidos nos EUA.

Esta quinta-feira um tribunal londrino autorizou a recolha de sangue a Sergei e Iulia Skripal. O juiz David Williams adiantou ainda que pai e filha estão “fisicamente estáveis”, mas ainda estão fortemente sedados, pelo que não é possível retirar conclusões sobre as capacidades mentais. Diz ainda o magistrado britânico, citado pela agência Reuters, que ambos estão “a ser tratados com base no que desejariam que fosse feito para que fossem mantidos vivos”. No entanto, ressalva que "não é inconcebível que a sua condição piore bruscamente".

Esta foi a primeira vez — desde a Segunda Guerra Mundial — que o agente neurotóxico em causa foi utilizado de forma ofensiva na Europa.