Funcionários suspeitos de desviar dinheiro da Câmara de Pedrógão

Chefe de divisão foi detido e suspenso de funções, tendo sido apreendidos mais de 400 mil euros. Desvio não está relacionado com donativos recebidos por causa de incêndio.

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A Polícia Judiciária apreendeu mais de 400 mil euros numa investigação que levou à detenção, na terça-feira, de um chefe de divisão da Câmara de Pedrógão Grande, suspeito de vários crimes de peculato e de falsificação de documentos.

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A Polícia Judiciária apreendeu mais de 400 mil euros numa investigação que levou à detenção, na terça-feira, de um chefe de divisão da Câmara de Pedrógão Grande, suspeito de vários crimes de peculato e de falsificação de documentos.

Além do chefe de divisão, o caso envolve uma contabilista e uma tesoureira desta autarquia do distrito de Leiria, também suspeitas da prática de "vários crimes de peculato e de falsificação de documentos", disse fonte da PJ. Uma das funcionárias foi constituída arguida. O quadro superior da Câmara de Pedrógão namora com uma das suspeitas. 

"Não temos ainda um valor final apurado [do dinheiro desviado da autarquia], mas nas diligências de terça-feira apreendemos, em numerário, um valor superior a 80 mil euros", sendo que, juntamente com o saldo bancário, foram apreendidos "mais de 400 mil euros", acrescentou a mesma fonte. Quanto ao valor final do dinheiro desviado, ainda não foi apurado, podendo ser superior ou inferior a este montante. Mas será sempre um valor elevado. 

Segundo a PJ, a prática destes crimes terá decorrido, pelo menos, ao longo de 2017 e início de 2018, mas há uma "suspeita forte de que esta actividade já vinha sendo praticada muito antes". A denúncia "partiu da própria Câmara de Pedrógão Grande" e a investigação arrancou no início deste ano, referiu a mesma fonte, frisando que o desvio de dinheiro não está relacionado com fundos de donativos associados ao apoio pós-incêndio.

O suspeito alegadamente "elaborava ordens de pagamento, falsas ou falsificadas, aparentemente em benefício de terceiros, no todo ou em parte", sendo que terá recolhido "as assinaturas de verificação e de autorização desses pagamentos, de que depois beneficiava pessoalmente, usando, para o efeito, o fundo de maneio da autarquia, que mantinha acima dos valores legais", refere a PJ, em comunicado.

Através ainda da elaboração de ordens de pagamento falsas, terá liquidado "diversas despesas particulares, recebendo em seguida o respectivo valor, fazendo constar que o pagamento de tais despesas era da responsabilidade da autarquia", acrescenta a Directoria do Centro da Judiciária. Terá por exemplo abastecido o seu automóvel à custa do erário municipal, fazendo depois constar dos registos camarários que tinha atestado o depósito de uma viatura da autarquia. 

Na origem da investigação da Polícia Judiciária estão desconfianças dos responsáveis da Câmara de Pedrógão, que encomendaram uma auditoria que confirmou as suas suspeitas. Os resultados da auditoria foram entregues às autoridades, que desencadearam esta investigação, que ainda não terminou. 

Presente esta quarta-feira à tarde ao Tribunal de Leiria para primeiro interrogatório, o chefe de divisão viu serem-lhe aplicadas várias medidas de coacção: suspensão de funções, proibição de contactos com a outra arguida e apresentação semanal às autoridades. Actualizado às 17h50 com medidas de coacção aplicadas pelo tribunal.