Trump ignorou assessores e felicitou Putin pela reeleição
No documento de preparação da conversa, redigido por uma equipa de assessores de segurança, estaria escrito “Não felicitar” a maiúsculas. Presidente dos EUA ignorou conselho.
Apesar da relutância generalizada dos países do Ocidente, Donald Trump decidiu congratular Vladimir Putin pela reeleição como Presidente da Rússia, telefonando-lhe na segunda-feira. Fora da conversa ficaram temas como a intromissão russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 ou o ataque a um ex-espião russo no Reino Unido. A chamada aconteceu e Trump congratulou Putin, apesar de ter indicações claras dos seus assessores para a segurança nacional para não felicitar o homólogo pela vitória.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Apesar da relutância generalizada dos países do Ocidente, Donald Trump decidiu congratular Vladimir Putin pela reeleição como Presidente da Rússia, telefonando-lhe na segunda-feira. Fora da conversa ficaram temas como a intromissão russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 ou o ataque a um ex-espião russo no Reino Unido. A chamada aconteceu e Trump congratulou Putin, apesar de ter indicações claras dos seus assessores para a segurança nacional para não felicitar o homólogo pela vitória.
Em declarações aos jornalistas, na terça-feira na Sala Oval, Trump descreveu a chamada como “muito boa”: “Falei por telefone com o Presidente Putin e felicitei-o pela sua vitória eleitoral”, disse. Acrescentou ainda que tenciona encontrar-se com Putin “num futuro não muito distante” para discutirem a corrida ao armamento. Trump disse que apreciava o tom mais moderado do Presidente russo no que respeita a armas nucleares, mas avisou que “ganharia uma corrida às armas” se acontecesse. “Nunca vamos permitir que alguém se aproxime do que temos”, disse Trump.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, desmentiu mais tarde que estivesse a ser planeada qualquer reunião entre os dois. Um encontro seria nesta altura controverso, tendo em conta que estão a decorrer investigações para determinar se houve conluio entre a campanha de Trump e a Rússia nas eleições presidenciais de 2016.
Trump decidiu focar a conversa nos “interesses comuns” das duas potências, como o desarmamento nuclear da Coreia do Norte e a questão Síria. O Presidente norte-americano teria alguma informação sobre os dois tópicos em pequenos cartões, que lhe foram entregues pela equipa de assessores, para guiar a conversa.
No documento de preparação da conversa estaria escrito “Não felicitar” a maiúsculas, conselho que Trump ignorou. Um responsável da Casa Branca confirmou ao Washington Post que estava escrito no briefing, mas que o Presidente não o leu. Preparou a conversa com Putin falando com os assessores por telefone.
A Casa Branca defendeu-se dizendo que não é da responsabilidade dos EUA questionar como as eleições são conduzidas noutros países. “O que sabemos é que Putin foi eleito no seu país, e não é algo que possamos dizer-lhes como fazer”, disse a secretária de imprensa, citada pelo Guardian. “Só nos podemos focar na liberdade e justiça das nossas próprias eleições, algo que apoiamos a 100%”.
O telefonema aconteceu cinco dias depois de a Administração Trump ter imposto novas sanções à Rússia, pelos “ciberataques maliciosos” que interferiram nas presidenciais de 2016. Estas sanções foram umas das mais significativas da Administração Trump contra Moscovo.
A aplicação de sanções duras contrasta com a abordagem geral do Presidente norte-americano à questão russa – o Presidente mostra relutância em criticar Putin e evita fazê-lo.
Ainda assim, os EUA juntaram-se ao Reino Unido, França e Alemanha na denúncia de violação do direito internacional pelo Governo russo no ataque ao espião Sergei Skripal e à filha, Iulia.
Angela Merkel e Emmanuel Macron ligaram a Putin mas nenhum deles lhe deu os parabéns – desejaram-lhe sucesso. Os líderes ocidentais acham que não havia “competição genuína” nas eleições que levaram à renovação do mandato de Putin.
Críticas Republicanas
A chamada de Trump motivou novas críticas do lado dos republicanos, de que foi exemplo o o senador e antigo candidato presidencial John McCain. “Um presidente americano não lidera o mundo livre a congratular ditadores por ganharem eleições de fachada”, escreveu o senador no Twitter. “Ao fazê-lo com Vladimir Putin, o Presidente Trump insultou todos os russos a quem foi negado o direito de votar em eleições livres e justas para determinar o futuro do país, incluindo um sem-número de patriotas russos que arriscaram para protestar e resistir ao regime de Putin”.
O líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, do Kentucky, também criticou o Presidente. “Quando olho para as eleições russas, tudo o que vejo é falta de credibilidade na contagem dos votos”, disse o senador, citado pelo NY Times. “Ligar-lhe não seria a minha prioridade”.
Tanto Obama quanto George W. Bush ligaram a Putin para lhe dar os parabéns por reeleições anteriores. No entanto, de acordo com o embaixador em Moscovo na era Obama, houve uma discussão interna sobre se se deveria congratular e quando. O comunicado enviado foi escrito de forma a dar os parabéns aos russos por votarem e não a Putin por ganhar, recorda o NY Times.
O Kremlin também confirmou que o Presidente dos Estados Unidos tinha felicitado por telefone Vladimir Putin pela sua reeleição nas eleições presidências de domingo passado. “Em termos gerais, a conversa foi construtiva (…), focada na resolução de problemas acumulados no contexto das relações russo-americanas”, referiu o Kremlin.