Responsável de comunicação do Papa Francisco demite-se

Acusações de censura a uma carta crítica do Papa emérito Bento XVI custaram o cargo do chefe do departamento de comunicação da Santa Sé.

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Viganò demite-se agora do cargo que ocupava desde 2015, quando foi nomeado pelo actual Papa para prefeito da Secretaria de Comunicação Reuters/STRINGER

O chefe do departamento de comunicação do Vaticano, Dario Viganò, demitiu-se esta quarta-feira. Numa carta enviada ao Papa Francisco, o responsável explica que decidiu afastar-se devido ao chamado “caso Lettergate”, em que o Vaticano foi acusado de censurar a correspondência do Papa emérito Bento XVI. Viganò demorou sete dias a reconhecer o erro.

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O chefe do departamento de comunicação do Vaticano, Dario Viganò, demitiu-se esta quarta-feira. Numa carta enviada ao Papa Francisco, o responsável explica que decidiu afastar-se devido ao chamado “caso Lettergate”, em que o Vaticano foi acusado de censurar a correspondência do Papa emérito Bento XVI. Viganò demorou sete dias a reconhecer o erro.

Num curto comunicado, o Vaticano informou que vai “aceitar” a demissão. Na carta de resposta à demissão de Viganò, o Papa Francisco acrescenta que “respeita” a decisão de Viganò “com algum custo” e que vai mantê-lo como assessor para contar com o seu “contributo humano e profissional”. No entanto, uma fonte da Santa Sé disse à Reuters que o prelado foi convidado a demitir-se.

O “caso Lettergate” eclodiu a 12 de Março, com a apresentação de uma série livros do Vaticano sobre a formação filosófica e teológica do Papa Francisco. Durante a cerimónia, Viganò seleccionou excertos de uma carta enviada por Bento XVI, onde este rejeitava o “preconceito estúpido” daqueles que dizem que falta teologia a Francisco. Só que a carta era privada — tinha sido enviada a Viganò por Ratzinger — e os excertos foram escolhidos de forma cirúrgica, omitindo outras críticas relevantes.

Na carta entretanto revelada, Bento XVI explicava que não tinha aceitado o convite para escrever uma introdução para a colecção, não só porque não tinha tido tempo para ler a obra, mas também por discordar da escolha do teólogo alemão Peter Hunermann para escrever um dos volumes da série. Bento XVI escreveu que Hunermann teve “iniciativas antipapais” durante o seu pontificado, de 2005 a 2013, e antes, no pontificado de João Paulo II. “Estou certo de que compreenderá a minha recusa”, lia-se na carta escrita a Viganò.

Dias após a apresentação da obra, o departamento de comunicação do Vaticano fez circular uma fotografia digitalmente alterada da carta, originalmente enviada a 7 de Fevereiro, que deu força à tese de censura. 

O Vaticano acabaria por publicar a carta na íntegra no sábado. A demissão de Viganò chega agora. O responsável ocupava o cargo desde 2015, quando foi nomeado por Francisco para prefeito da Secretaria de Comunicação. O cargo vai ser temporariamente ocupado pelo número dois do departamento, o sacerdote Lucio Adrián Ruiz, até que o Papa nomeie um sucessor.