A democracia contra o Facebook
Agora que se percebe melhor a importância de uma imprensa livre para a democracia, interessa perceber que a ameaça sob o nosso modo de vida é real e que o Facebook é parte do problema.
Mil anos de manipulação de massas, em nome de deus, do rei, da pátria e da democracia, já nos deviam ter ensinado: quando se mexe com emoções, a racionalidade é muito pouco eficiente. O Facebook já não pode continuar a ser visto como uma mera plataforma de entretenimento, visto que é uma ferramenta perfeita para explorar medos, ódios e inseguranças – onde ganha quem tem mais dinheiro para melhor espalhar os seus anúncios.
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Mil anos de manipulação de massas, em nome de deus, do rei, da pátria e da democracia, já nos deviam ter ensinado: quando se mexe com emoções, a racionalidade é muito pouco eficiente. O Facebook já não pode continuar a ser visto como uma mera plataforma de entretenimento, visto que é uma ferramenta perfeita para explorar medos, ódios e inseguranças – onde ganha quem tem mais dinheiro para melhor espalhar os seus anúncios.
Nesse sentido aquela rede social tornou-se o grande inimigo da sociedade aberta. Se Karl Popper fosse vivo hoje, talvez colocasse o senhor Zuckerberg ao lado de Platão, Hegel e Marx. Não obviamente pela filosofia historicista, que o americano não dá para tanto, mas pelo potencial de erosão dos ideais iluministas que a sua plataforma produz. No Facebook a discussão de ideias é trocada pelo insulto, a força bruta substitui a persuasão e o método científico é abandonado a favor do achismo.
O jornalismo já foi triturado por este e por outros gigantes da era tecnológica, um efeito tido como colateral do progresso. Mas agora que se percebe melhor a importância de uma imprensa livre para a democracia, especialmente em épocas em que o obscurantismo se espalha sob a forma do populismo, interessa perceber que a ameaça sob o nosso modo de vida é real e que o Facebook é parte do problema. Não é único – o Youtube, controlado pela Google, também é uma ferramenta de disseminação do discurso de ódio com especial impacto em crianças e jovens, mas é o modelo do Facebook que o torna tão letal no impacto.
Compete aos estados agir, com as ferramentas que tem em mão, para limitar o poder destas entidades supranacionais. O discurso de ódio é sancionado nas democracias e o argumento de que estas plataformas não são responsáveis pelo conteúdo que promovem já não tem sustentação. Ao mesmo tempo, as práticas monopolistas e o desrespeito pelos direitos dos cidadãos também colocam estas empresas na mira dos reguladores – e a União Europeia é instrumental num ataque cada vez mais necessário a estes inimigos da democracia.
Mas compete também aos cidadãos informarem-se e criarem mecanismos para evitarem ser manipulados. Por definição, ninguém gosta de ser tomado por idiota. Se calhar, convém deixar de perder tempo em locais onde é exatamente esse o papel que nos está destinado.