Que Educação para a Infância temos e qual queremos?
Estamos no bom caminho para o cumprimento da meta de tornar, até 2020, a educação para a infância dos 3-5 universal. Mas ainda temos alguns desafios.
A investigação tem confirmado o que há muito se suspeita sobre a importância das aprendizagens nos primeiros anos de vida. Hoje sabemos como a arquitectura cerebral se desenvolve, como se aprende e adquirem competências, e que factores favorecem, ou pelo contrário comprometem, o desenvolvimento.
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A investigação tem confirmado o que há muito se suspeita sobre a importância das aprendizagens nos primeiros anos de vida. Hoje sabemos como a arquitectura cerebral se desenvolve, como se aprende e adquirem competências, e que factores favorecem, ou pelo contrário comprometem, o desenvolvimento.
O maior desenvolvimento sináptico ocorre nos primeiros três anos de vida e os diferentes circuitos cerebrais estabelecem-se de forma sequencial e cumulativa: os mais simples primeiro, os mais complexos mais tarde. Nesta fase, a criança adquire as competências emocionais, sociais, linguísticas, cognitivas e motoras em que se alicerçam as aquisições seguintes. Apesar de ocorrerem em diferentes momentos, porque estão associadas a períodos de maturação e sensibilidade neuronal distintos, estas aquisições estão interligadas. Ilustremos essa relação com um exemplo simples e comum: o sentimento de segurança e a capacidade de regular as próprias emoções dão à criança a confiança de que necessita para explorar o ambiente e interagir com os outros e, assim, levam à aprendizagem.
Sabemos também que o desenvolvimento é altamente sensível à experiência e estimulação ambiental e que esta neuroplasticidade se estende pela vida adulta. O contexto em que a criança se desenvolve, em particular as interacções com os cuidadores e as experiências por estes proporcionadas, moldam o desenvolvimento e a aquisição de novas competências. Por este e outros motivos, que se prendem com as necessidades das famílias e o direito a uma igualdade de oportunidades, os cuidados e educação na infância têm um enorme valor.
Em Portugal, nos últimos 30 anos, demos passos importantes. Criou-se uma rede de estabelecimentos que cuidam e educam as crianças em idade pré-escolar, publicou-se legislação, formaram-se profissionais e definiram-se orientações para a educação pré-escolar. As estatísticas confirmam que o progresso foi considerável. Em 2015, a taxa de pré-escolarização era já de 80% aos três anos, 90% aos quatro e 95% aos cinco. Estamos no bom caminho para o cumprimento da meta de tornar, até 2020, a educação para a infância dos 3-5 universal. Mas ainda temos alguns desafios. Como apontam diversos especialistas, os serviços para crianças dos 0-3 deveriam aliar ao cuidar uma intencionalidade educativa em articulação com o trabalho que se desenvolve nas etapas posteriores; podemos afinar a continuidade entre o pré-escolar e o 1.º ciclo; necessitamos de mecanismos de monitorização da própria acção educativa e de um maior conhecimento dos efeitos de diferentes modelos e práticas pedagógicas.
Debater o verdadeiro impacto da educação dos zero aos seis, ou seja, antes da entrada no ensino obrigatório, as políticas para a infância e as práticas pedagógicas de qualidade, é o objetivo de mais uma EDUTALKs "Educação de Infância: o que temos e o que queremos?”, um evento promovido pelo EDULOG – Think-tank para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo, que se realiza a 20 de março, em Évora.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico