IPO quer mais estudos sobre cannabis e não terá plantação para uso nos doentes
Administrador defende mais conhecimento sobre as repercussões do uso da cannabis para fins terapêuticos. Francisco Ramos alerta que o IPO de Lisboa está "parado em termos de contratação, o que começa a causar algumas situações muito, muito, muito complicadas".
O administrador do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa defende mais estudos sobre as repercussões do uso da cannabis para fins terapêuticos e duvida que o hospital venha a ter uma plantação para uso nos doentes. Também em entrevista à Lusa, Francisco Ramos, alerta que a falta de autonomia do instituto para contratar profissionais atingiu proporções preocupantes desde o início do ano. Nessa altura saíram 15 enfermeiros, que não foram substituídos.
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O administrador do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa defende mais estudos sobre as repercussões do uso da cannabis para fins terapêuticos e duvida que o hospital venha a ter uma plantação para uso nos doentes. Também em entrevista à Lusa, Francisco Ramos, alerta que a falta de autonomia do instituto para contratar profissionais atingiu proporções preocupantes desde o início do ano. Nessa altura saíram 15 enfermeiros, que não foram substituídos.
"Francamente gostaria de ver um pouco mais estudadas as eventuais repercussões negativas, ou ausência delas, para que isso, de facto, pudesse acontecer", disse Francisco Ramos, que dirige um dos hospitais que atende mais doentes com cancro.
O cancro é uma das doenças para a qual os defensores do uso da cannabis para fins terapêuticos identificam benefícios nesta prática, nomeadamente no alívio da dor.
"Enquanto matéria-prima para depois ser usada na produção de um medicamento de efeitos controlados e estudados, nenhum problema. Outra coisa é usar a cannabis de forma artesanal", disse.
Ressalvando que, do ponto de vista do IPO, não deve ter sequer nenhuma posição sobre isso, Francisco Ramos vaticina: "Nunca vamos ter nenhuma plantação de cannabis no IPO para uso nos nossos doentes".
O administrador defende mais conhecimento e recorda que "um hospital de referência tem de usar apenas técnicas perfeitamente demonstradas e não técnicas avulso".
"É preciso conhecer mais. A vantagem que nós temos nesta forma de prestação de cuidados de saúde é que em 99,99% das soluções que adoptamos são coisas que alguém já estudou, que alguém já se preocupou em saber quais os impactos positivos e negativos", frisou.
Por essa razão, acrescentou, é que "é tão caro". "O nível de preparação daquilo que usamos é tão grande que naturalmente aumenta os custos, mas também nos dá alguma grande tranquilidade quando usamos".
"Por enquanto, não me parece que seja expectável que alguém saia do IPO com uma receita de uma infusão de cannabis para aliviar a sua dor, com o máximo respeito por quem defende essa teoria", concluiu.
Dificuldades "preocupantes" em contratar
Em entrevista à Lusa, o presidente do IPO de Lisboa referiu-se ainda à falta de autonomia do instituto em matéria de contratação. No início do ano, saíram 15 enfermeiros, cuja substituição ainda não foi desbloqueada a sua substituição pelos ministérios da Saúde e das Finanças, disse Francisco Ramos.
"Estamos parados em termos de contratação, o que começa a causar algumas situações muito, muito, muito complicadas que se tentam resolver com solicitações e justificações específicas aos gabinetes ministeriais, na esperança de que as coisas venham a melhorar a curto prazo", afirmou o administrador. Francisco Ramos recorda que as dificuldades não são de hoje, mas que se agudizaram desde a entrada em vigor do Orçamento do Estado para este ano.
Se a situação até final do ano passado era de "ausência de autonomia", na prática as contratações iam chegando. "No fundo, a máquina já estava oleada e funcionava e as autorizações lá iam chegando de forma mais ou menos rápida".
"Em 2018, desde a entrada do Orçamento do Estado, essa máquina foi desactivada e não foi substituída por coisa nenhuma e, portanto, estamos parados em termos de contratação", adiantou.
No caso dos enfermeiros que saíram desde o início do ano, um número que Francisco Ramos reconhece ser "um pouco mais alto que o habitual", o que deveria acontecer é a sua substituição, "o que não está a ser possível".
"A minha esperança é que isto volte a ser possível quando sair o famoso decreto-lei de execução orçamental e volte a ser instituído o mecanismo burocrático para que isto volte a funcionar", referiu.
Para Francisco Ramos, "a angústia maior é não conseguir resolver uma situação pontual e ficar preso nesta imensa teia burocrática que nos últimos três meses não dá saída a coisa nenhuma".
Poupança de 10 milhões
O administrador sublinha "a facilidade com que se consegue gastar centenas de milhares de euros com um determinado medicamento – o recorde vai em meio milhão de euros num medicamento para um doente durante um ano – e a dificuldade que é gastar 10 mil euros a contratar um assistente operacional que é indispensável para ter a funcionar os cuidados intensivos, o bloco operatório e a unidade de transplantes".
"Isto custa muito a perceber para quem está à frente de um hospital público", disse.
O administrado, que está prestes a iniciar o terceiro mandato à frente deste IPO, também deu conta de que a aquisição de equipamentos permitiu poupar 10 milhões de euros por ano na compra de serviços externos.
Há cinco anos, a instituição tinha um acelerador nuclear, insuficiente para as necessidades, levando à necessidade adquirir serviços externos. Actualmente, este IPO conta com sete aceleradores nucleares e a factura anual com a aquisição de serviços externos baixou de 12 milhões para dois milhões de euros, segundo Francisco Ramos.