Rio não teve estado de graça, mas sobe nas graças dos eleitores

Primeiro mês como presidente do partido marcado por “atrapalhações inesperadas” que envolvem três pessoas da nova direcção.

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Miguel Manso

Rui Rio não teve direito a estado de graça. O primeiro mês de liderança do novo presidente à frente do PSD foi recheado de momentos complicados e de “atrapalhações inesperadas”, como lhe chamou Pedro Santana Lopes, o que o impede de “passar a mensagem”, na perspectiva do antigo líder da bancada parlamentar, Luís Montenegro.

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Rui Rio não teve direito a estado de graça. O primeiro mês de liderança do novo presidente à frente do PSD foi recheado de momentos complicados e de “atrapalhações inesperadas”, como lhe chamou Pedro Santana Lopes, o que o impede de “passar a mensagem”, na perspectiva do antigo líder da bancada parlamentar, Luís Montenegro.

Rui Rio tomou posse como líder do PSD há exactamente um mês, mas cedo se percebeu que não ia ter a vida facilitada. O primeiro sinal disso mesmo aconteceu em pleno congresso com a sonora vaia à vice-presidente Elina Fraga. Sucede que o mal-estar que se começou a respirar no partido adensou-se, quando se tornou público que a gestão de Elina Fraga à frente da Ordem dos Advogados estava a ser investigada pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa. Seguiu-se o veto de Rio à presença de Hugo Soares, ainda líder da bancada parlamentar, na comissão política nacional. Este episódio foi, de resto, o rastilho para outras “atrapalhações” nesta primeira fase do mandato do líder social-democrata, que tiveram o seu epicentro na bancada parlamentar, com Fernando Negrão – uma escolha pessoal de Rio – a conquistar apenas 39% dos votos dos deputados. Tudo isto aconteceu na primeira semana.

Pelo caminho, o país ouviu o líder do PSD a acusar a comunicação social de estar a lançar uma campanha contra os dois elementos do seu núcleo: Elina Fraga e Salvador Malheiro. Sobre Malheiro, que foi director de campanha de Rio nas directas, recaem acusações de favorecimento enquanto presidente da Câmara de Ovar e de ter organizado um sindicato de votos.

Nos últimos dias, Rio foi surpreendido com a notícia de que um outro membro da sua equipa, Feliciano Barreiras Duarte, fez constar no seu currículo académico a referência a um estatuto de visiting  scholar em Berkeley, na Universidade da Califórnia, que não corresponderá à verdade. O Ministério Público está a investigar o percurso académico do secretário-geral do PSD com vista a um inquérito. Sobre o caso, Rio comentou que o secretário-geral tinha escrito qualquer coisa a mais, que já tinha corrigido. E mais tarde observou que, enquanto presidente da Câmara do Porto, foi “várias vezes arguido”.

Os críticos de Rio não perderam tempo a cavalgar mais esta “atrapalhação”. No programa semanal da TSF Almoços Grátis, Luís Montenegro disse que a polémica sobre o currículo de secretário-geral “cria ruído à volta do trabalho político do líder e da afirmação da liderança do PSD e isso deve ser tido em consideração com vista a que se ultrapasse rapidamente, para que o PSD e o seu líder se possam afirmar na base do seu projecto para o país, das suas ideias, daquilo que é a apresentação de uma alternativa política”.

À SIC Notícias, canal a que vai regressar como comentador político, Santana Lopes disse que as polémicas que envolvem pessoas da direcção têm “manchado” o arranque da nova liderança. Segundo Santana, que disputou as directas contra Rio, as “atrapalhações inesperadas” que têm surgido seriam “obviamente evitáveis”.

Quanto a Feliciano Barreiras Duarte, novo homem do aparelho do PSD, Santana Lopes afirma: “A questão é tentar perceber pessoalmente esta novela toda o que é que se passou. Desejo ardentemente que se esclareça rapidamente”, realçou, declarando desconhecer se há ou não um grupo de pessoas dentro do PSD a fazer sobressair essas polémicas.

O professor e comentador político, António Costa Pinto, considera que a “contaminação de casos externos, como o de Elina Fraga e de Feliciano Barreiras Duarte”, a par da “oposição frontal que o líder do partido teve ao longo de todo o seu processo de candidatura e logo a seguir à tomada de posse por parte do sector fortemente apoiante de Passos (…) foram responsáveis para que Rui Rio não tivesse tido estado de graça”.

“Rio não está a conseguir unir o PSD”

Segundo António Costa Pinto, o” líder do PSD subestimou a mensagem política externa”, mostrando-se mais empenhado em “gerir a agenda interna, resolver o problema do grupo parlamentar e iniciar o funcionamento da nova direcção – pensar em porta-vozes para todas as áreas”. “Esta é uma aposta complexa porque a personalidade política dos líderes é cada vez mais importante “. “Ainda não nos apercebemos de qual será o estilo político do dr. Rui Rio”, observa o professor.

Sobre a polémica à volta do secretário-geral, não a vê, para já, como um problema jurídico. “É mais um problema para um líder que tem reforçado muito a dimensão ética da vida política”, clarifica, afirmando que “o que aconteceu é simbólico, significa que Rui Rio não está a conseguir unir o PSD e unificar o partido deve ser a primeira tarefa de um presidente para que se possa apresentar a eleições com o partido unido”.

Já António Tavares, que se preparar para disputar as eleições na distrital do PSD do Porto, considera que Rio tem gerido com a “habilidade possível” os conflitos que têm surgido neste primeiro mês de liderança no PSD. “Todos sabemos o rigor que Rui Rio coloca nas escolhas que faz. De certeza absoluta que as pessoas em causa lhe apresentaram argumentos convincentes para que os tenha mantido na sua equipa”, disse o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto.

Em declarações ao PÚBLICO, António Tavares destaca, por outro lado, o “esforço” do líder do partido em colocar novas temáticas na agenda política e afirma que “é natural” que nos próximos dias surjam temas novos, na área da economia social e da coesão territorial, por exemplo. “Depois deste primeiro período de adaptação à vida do partido, Rui Rio vai começar a trabalhar na sua própria agenda”, vaticina.,

Outra fonte do PSD, que solicitou o anonimato, disse ao PÚBLICO, que Rui Rio “está com um défice de visibilidade” e que o seu discurso tem de “ser mais consistente”. Mas se internamente há vozes a insurgirem-se contra o novo líder, a sua estratégia está a ser bem recebida pela sociedade em geral que concorda com a sua estratégia” e “entende a abordagem que está a fazer ao PS”.

O Barómetro de Março da Eurosondagem, divulgado nesta sexta-feira pelo Expresso, diz que no primeiro mês de Rio como presidente do PSD o partido regista a “maior subida em termos de intenções de voto de toda a legislatura”. Contudo, a subida do PSD não chega para impedir que o PS se reforce e caminhe na direcção de uma maioria absoluta.

O mesmo Barómetro mostra que é desejo dos inquiridos que os acordos entre PSD e PS vão além dos temas que estão em cima da mesa; descentralização e fundos comunitários. A saúde (mais de 40%) e a justiça (quase 20%) são as áreas em que os portugueses desejam entendimentos.

Como deve Rio lidar com os críticos internos que não desperdiçam uma oportunidade para fazer contravapor? No partido há quem acuse os mesmos que “deram uma vitória a Assunção Cristas, em Lisboa”, de estarem a tentar “minar” a estratégia do novo presidente. Dizem que a "estratégia que Rui Rio tem na cabeça” é a única que pode fazer a diferença relativamente ao consulado de Passos Coelho”. E deixam uma interrogação: “Qual seria a alternativa? Continuar a dizer que não há crescimento económico? Que vem aí o diabo?”

Pacheco Pereira é das raras vozes do PSD que acham positivo que o líder não tenha tido estado de graça. Na sua coluna na revista Sábado, escreveu que “o pior que podia acontecer a Rui Rio era ter um estado de graça, porque isso significava que a sua vitória não reflectia mudança nenhuma”.