Protagonista do Supernanny vê "efeito perverso" no processo judicial e não no programa

Ministério Público instaurou acção judicial contra SIC, produtora e pais das crianças envolvidas no programa.

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Teresa Paula Marques intervém no julgamento como testemunha da SIC DR

À semelhança do que dizem os criadores do Supernanny  na Warner Bros., também a nanny da versão portuguesa do programa, Teresa Paula Marques, defende que este é um documentário e não um programa de entretenimento ou um reality show.

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À semelhança do que dizem os criadores do Supernanny  na Warner Bros., também a nanny da versão portuguesa do programa, Teresa Paula Marques, defende que este é um documentário e não um programa de entretenimento ou um reality show.

Um documentário, contudo, em que a psicóloga Teresa Paula Marques representa um papel, como se de uma actriz se tratasse – uma ama, uma supernanny, chamada a ajudar pais com crianças em fase difícil. "Não estou ali como psicóloga", insistiu quando questionada em tribunal como testemunha em defesa da SIC.

Nesta sexta-feira, Teresa Marques demorou algum tempo a esclarecer – primeiro a pedido da juíza, depois a pedido da procuradora – qual o vínculo que mantém com a estação de televisão, se era chamada a dar a sua opinião no programa já editado e pronto a ser transmitido, e por que motivo avançou mesmo depois de pedir um parecer à Ordem dos Psicólogos – que acabou por ser negativo. Mais uma vez, disse que avançou por considerar o "programa válido". 

É prestadora de serviços da SIC e o contrato, para este programa, mantém-se, apesar de o Supernanny estar suspenso por uma acção judicial instaurada pelo Ministério Público (MP) em representação das crianças e contra a SIC, a Warner Bros. e os pais que consentiram a participação das crianças de seis, sete ou 13 anos, ou ainda 18 meses.

"A pessoa que está por detrás da personagem é psicóloga. Mas esteticamente eu não sou aquela pessoa", justificou.

Já depois de ter respondido a advogados, procuradora e juíza, na qualidade de psicóloga clínica, doutorada em psicologia (com uma tese sobre riscos e oportunidades da exposição das crianças no Facebook), autora de seis livros sobre aconselhamento parental, entre outras coisas, e quando questionada pela procuradora do MP em qual destes papéis responde no Tribunal Judicial de Oeiras, Teresa Marques disse: enquanto Supernanny

Como tal, foram os aspectos positivos do programa que sublinhou. "Os riscos [da exposição de crianças] não conduzem necessariamente a danos. Os danos podem existir no futuro. Não sabemos como será daqui a dez anos”, afirmou. “Daqui a dez anos o mundo também será diferente.”

No imediato, apenas vê as “oportunidades” que este programa proporciona aos pais e às crianças.

Manteve contacto com as duas famílias cujos filhos entraram nos programas transmitidos – nos dias 14 e 21 de Janeiro – e sabe que “tudo está bem com as crianças na escola”, “o comportamento não se alterou”, “as notas não baixaram” e “estão mais felizes em casa”. E mostrou-se feliz por elas. "Os pais fizeram isto como um acto de amor e de maneira nenhuma para prejudicar os filhos", garantiu. Em nenhuma situação as crianças resistiram a serem filmadas ou recusaram.

Em resposta a uma das advogadas, declarou, depois de um breve silêncio: "O efeito é perverso." Não do programa e da exposição das imagens, mas deste processo judicial a decorrer no Tribunal de Oeiras em resultado da acção judicial instaurada pelo MP.

“Isto sim tem um impacto negativo, um efeito perverso” nas crianças. Os programas em que participaram já teriam caído no esquecimento, se não fosse esta acção judicial, afirmou Teresa Paula Marques. 

Quando questionada, disse não ter tido conhecimento da recomendação do Comité dos Direitos das Crianças da ONU a propósito do programa Supernanny ao Governo do Reino Unido, em 2008, nem conhecer a recomendação da Autoridade do Audiovisual em França relativa à utilização de crianças em programas de televisivos, com data de 21 de Janeiro de 2017. Distancia-se das questões jurídicas, da protecção da privacidade das crianças, e de consentimento dos pais.

Considera que há "uma preocupação excessiva" em torno do programa. O risco [potencial para as crianças] está equilibrado com a oportunidade para os pais, defendeu. A oportunidade para os pais de integrarem estratégias educativas que os ajudam no dia-a-dia. “E as crianças?”, interrompeu a procuradora. “As crianças vão integrar este episódio nas suas vidas”, garantiu a psicóloga, que fez questão de deixar claro: “No programa, não se está a fazer psicologia, está-se a transmitir estratégias de educação para as pessoas e a colocar a sociedade a pensar sobre estas questões.”