Corbyn duvidou do ataque russo e o Labour caiu-lhe em cima
Líder dos trabalhistas foi vaiado no Parlamento e acabou a apoiar as represálias do Governo contra o Kremlin.
Ainda a colher os frutos de um resultado bastante mais positivo do que se esperava nas eleições de Junho de 2017 e mais legitimado do que nunca enquanto líder da oposição ao Governo conservador, Jeremy Corbyn provocou uma enorme divisão dentro do Partido Trabalhista ao resistir à responsabilização do Estado russo pelo envenenamento do antigo espião Sergei Skripal.
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Ainda a colher os frutos de um resultado bastante mais positivo do que se esperava nas eleições de Junho de 2017 e mais legitimado do que nunca enquanto líder da oposição ao Governo conservador, Jeremy Corbyn provocou uma enorme divisão dentro do Partido Trabalhista ao resistir à responsabilização do Estado russo pelo envenenamento do antigo espião Sergei Skripal.
A sua opção mereceu uma reprovação pública de vários membros do Labour – incluindo ministros-sombra e outros pesos-pesados do partido – e está a abalar a popularidade conquistada por Corbyn nos últimos meses.
Na quarta-feira, o líder trabalhista e o seu porta-voz, Seumas Milne, encararam com alguma reserva as conclusões apresentadas pelo executivo tory – de que o ataque ocorrido na semana passada em Salisbury, com uma arma química, teve dedo do Kremlin. Sugeriram a existência de “uma série de possibilidades sobre quem pode ter sido responsável” pela utilização do agente de nervos Novichok contra Skripal e a sua filha – como oligarcas, máfias ou outros Estados da ex-URSS – e defenderam que é possível que a Rússia tenha simplesmente falhado no controlo do veneno.
A intervenção de Corbyn na Câmara dos Comuns provocou gritos de “vergonha” junto dos deputados do Partido Conservador, do Partido Nacionalista Escocês, do Partido Democrático Unionista e dos Liberais Democratas, e foi acompanhada por trocas de olhares desconfortáveis na bancada trabalhista.
Corbyn pediu ao Governo provas mais concretas sobre o papel do Kremlin, antes de se executarem as represálias anunciadas por Theresa May – que incluem a expulsão de 23 diplomatas russos do Reino Unido – e foi brindado com a condenação quase unânime do seu próprio partido.
Chuka Umunna, Yvette Cooper, Ben Bradshaw e Hilary Benn foram alguns dos trabalhistas que recorreram às redes sociais para criticar directamente Milne, e indirectamente Corbyn, e para demonstrar o seu apoio total à posição do Governo. Na mesma linha, as ministras-sombra Nia Griffith (Defesa) e Emily Thornberry (Negócios Estrangeiros) distanciaram-se publicamente das dúvidas levantadas pelo líder do Labour.
O Guardian escreve que o Partido Trabalhista sempre esteve “profundamente dividido” em matéria de política externa e que esta reacção de Corbyn vem colocar a nu essa fragmentação. De acordo com aquele diário britânico, alguns deputados trabalhistas consideram mesmo que o seu líder é “demasiado simpático” para a Rússia. Citado pelo Politico, um parlamentar trabalhista foi mais longe e comparou a posição de Corbyn a uma reacção típica de um membro de uma “associação de estudantes”, rotulando-a como um “disparate pró-soviético”.
Certo é que a pressão sobre Jeremy Corbyn tornou-se insustentável e o dirigente trabalhista, alertando para que não surja uma "intolerância macartista quanto à dissidência" sobre este assunto no partido, foi obrigado clarificar que “as provas apontam para a [responsabilidade] da Rússia”. “Fiz apenas perguntas sobre a identidade da arma, sobre a Convenção das Armas [Químicas] e sobre o apoio de outros aliados. É para isso que serve a oposição”, esclareceu, citado pela BBC. "O Labour não é, obviamente, um apoiante do regime de Putin - disse -, que é conservadore autoritário, comete abusos dos direitos humanos e é economicamente corrupto".
Resta saber se os trabalhistas ficaram convencidos com o esclarecimento ou se o estado de graça de Corbyn entrou definitivamente em recessão.