Bachelet sai de cena no Chile e leva consigo a era das mulheres Presidentes

Entre 2011 e 2014, quatro países da América Latina foram liderados por mulheres, em governos de esqueda. Uma nova viragem à direita no subcontinente afastou-as do poder.

Fotogaleria

A chegada de Sebastián Piñera à Presidência do Chile, no domingo, marcou mais uma viragem à direita no continente sul-americano, mas representou também o fim de uma outra era: ao dizerem adeus a Michelle Bachelet, os chilenos despediram-se da era das mulheres Presidentes na América Latina.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A chegada de Sebastián Piñera à Presidência do Chile, no domingo, marcou mais uma viragem à direita no continente sul-americano, mas representou também o fim de uma outra era: ao dizerem adeus a Michelle Bachelet, os chilenos despediram-se da era das mulheres Presidentes na América Latina.

Durante três anos, entre 2011 e 2014, houve quatro mulheres na Presidência de outros tantos países sul-americanos: Michelle Bachelet (Chile), Dilma Rousseff (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina) e Laura Chinchilla (Costa Rica).

Bachelet não foi a primeira, mas foi a sua eleição, em 2006, que serviu de tiro de partida para a era das mulheres Presidentes no continente – um ano mais tarde, em 2007, a Argentina escolhia Cristina Kirchner, que se seguiu no cargo ao marido, Nestor Kirchner. Do grupo que também veio a incluir Rousseff e Chinchilla, as Presidentes do Chile e da Argentina foram as que mais se aguentaram no poder: Bachelet entre 2006 e 2010, e depois entre 2014 e 2018; e Kirchner, entre 2007 e 2015.

A primeira mulher Presidente num país da América Latina foi também a primeira mulher investida nesse cargo em todo o mundo – entre 1974 e 1976, a Argentina foi liderada por Isabel Martínez de Perón após a morte do seu marido, Juan Perón. Como vice-presidente, Isabel Perón assumiu o cargo sem ter sido eleita directamente pelo povo.

Seria preciso esperar mais 14 anos, até 1990, para a América Latina ter a sua primeira mulher Presidente eleita para esse cargo: Violeta Chamorro, na Nicarágua, ao derrotar o então Presidente e ex-líder da Frente Sandinista, Daniel Ortega – que voltou à Presidência do país em 2007.

Antes de Michelle Bachelet (e do início da era das mulheres Presidentes na América Latina), o Panamá foi liderado por Mireya Moscoso, entre 1999 e 2004.

Na década de 1970, a América Latina viu três mulheres chegarem ao cargo político mais elevado dos seus países, mas nenhuma delas depois de uma eleição – para além do caso de Isabel Perón, entre 1974 e 1976, o Equador teve como Presidente Rosalia Arteaga por apenas três dias, em Fevereiro de 1997; e a Bolívia teve Lidia Gueiler por oito meses, entre Novembro de 1979 e Julho de 1980.

Arteaga assumiu a Presidência depois de o Congresso ter declarado o Presidente Abdalá Bucaram "mentalmente incapaz" para exercer o cargo, mas não teve condições para formar Governo. Saiu ao fim de apenas três dias, ainda se candidatou nas eleições de 1998, mas perdeu e afastou-se da política.

Gueiler foi posta na Presidência pelo Congresso da Bolívia em 1979, após o golpe de Estado do general Alberto Natusch Busch, mas o seu governo interino duraria pouco tempo: em Julho de 1980, foi deposta num novo golpe de Estado.