Aquele querido Paterson de bairro
O novo filme de Manuel Mozos é a sua melhor ficção desde Xavier, nem Jarmusch nem Gomes mas completamente Mozos.
Ramiro é alfarrabista, poeta raro nas horas vagas, podia ser uma versão lisboeta e bairrista do poeta condutor de autocarro de Adam Driver no Paterson de Jim Jarmusch. Por aí, pela truculência iconoclasta da personagem a que António Mortágua dá uma presença física fortíssima na fronteira da discrição e pelos pequenos incidentes zen que povoam a sua vida, podemos fazer a ponte entre Jarmusch e outro cineasta atento aos momentos, Miguel Gomes, cujos colaboradores regulares Telmo Churro e Mariana Ricardo escreveram Ramiro a pensar em Manuel Mozos.
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Ramiro é alfarrabista, poeta raro nas horas vagas, podia ser uma versão lisboeta e bairrista do poeta condutor de autocarro de Adam Driver no Paterson de Jim Jarmusch. Por aí, pela truculência iconoclasta da personagem a que António Mortágua dá uma presença física fortíssima na fronteira da discrição e pelos pequenos incidentes zen que povoam a sua vida, podemos fazer a ponte entre Jarmusch e outro cineasta atento aos momentos, Miguel Gomes, cujos colaboradores regulares Telmo Churro e Mariana Ricardo escreveram Ramiro a pensar em Manuel Mozos.
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Isto anda tudo ligado, pronto, é verdade, mas se dissermos que Ramiro é para nós a melhor das ficções de Mozos desde o já longínquo Xavier estaremos também a apontar como a história de um homem que quer levar uma vidinha sossegada reflecte, mesmo por interposta pessoa, a sensibilidade discreta e frágil de um cineasta a quem raras vezes as coisas terão corrido como ele merecia. Ramiro é um filme que aparece com pézinhos de lã como quem não quer a coisa e depois se instala no coração como quem ainda menos quer a coisa, e quando damos por nós estamos rendidos à sua simplicidade.