Morreu Hubert de Givenchy, o "eterno aprendiz"

O criador francês tinha 91 anos. Abandonou a Givenchy em 1995 e lamentava não ter deixado um díscipulo à altura.

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Hubert James Marcel Taffin de Givenchy, o aristocrata francês que fundou a casa Givenchy em 1952, morreu no sábado, aos 91 anos, durante o sono. A sua morte só foi anunciada esta segunda-feira, num comunicado emitido pela família, informou a AFP.

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Hubert James Marcel Taffin de Givenchy, o aristocrata francês que fundou a casa Givenchy em 1952, morreu no sábado, aos 91 anos, durante o sono. A sua morte só foi anunciada esta segunda-feira, num comunicado emitido pela família, informou a AFP.

"É com grande tristeza que Philippe Venet comunica a morte do Sr. Hubert Taffin de Givenchy, seu companheiro e amigo. Morreu durante o sono no sábado, 10 de Março de 2018. Os seus sobrinhos e sobrinhas e os filhos destes partilham a sua perda", diz o comunicado da família, citado pela revista Madame Figaro.

Nascido no Norte de França, em Beauvais, em 1927, chegou a Paris aos 17 anos, para se tornar "a quintessência da alta-costura francesa do pós-Guerra”, como notava a historiadora de moda Valerie Steele, directora do museu do Fashion Institute of Technology, em Nova Iorque, citada pelo Los Angeles Times. O costureiro acabaria por vender a sua marca ao grupo francês LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy) em 1988, abandonando a direcção criativa poucos anos depois, em 1995.

Nas redes sociais, a marca lembra agora o criador como "uma grande personalidade do mundo da alta-costura francesa e um cavalheiro que simbolizou o chique e a elegância parisienses por mais de meio século". No universo de Givenchy, a elegância era a expressão máxima do estilo. Será difícil encontrar uma palavra para melhor descrever o trabalho e a postura do criador, à excepção, talvez, de simplicidade. A inovação, para ele, não estava em peças vistosas, mas na melhor versão de uma peça tão simples quanto um vestido preto. “O vestidinho preto é a coisa mais difícil de conceber”, dizia em 2010 numa entrevista ao Independent.

Em 1957 apresentou uma das suas silhuetas mais marcantes, cunhada de sack silhouette. Em vez de marcar a cintura, o vestido caía de forma solta, independente das formas do corpo que estava por baixo. Givenchy desenhava tendo em mente o conforto e o desejo da mulher.

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Audrey Hepburn: musa e amiga

Elegância e simplicidade terão sido também as duas características que aproximaram Givenchy de Audrey Hepburn, sua grande musa (e amiga) por mais de 40 anos. A história de como os dois se conheceram já foi contada e recontada: ela procurava um guarda-roupa para o filme Sabrina – pelo qual foi nomeada para um Óscar –, e ele, contactado por uma “miss Hepburn”, assumiu que iria encontrar-se com Katharine Hepburn. Audrey chegou ao atelier do criador com uma simples t-shirt atada em nó, umas sabrinas e um chapéu e a partir de então Givenchy nunca mais deixou de desenhar para a actriz, quer a roupa do dia-a-dia, quer o guarda-roupa de filmes como Boneca de Luxo (Breakfast at Tiffany's). A sua roupa ajudava-a a "entrar nos papéis", confessou a própria, na altura, recorda agora a BBC.

O nome de Audrey Hepburn tornou-se indissociável do de Givenchy e o longo vestido preto que a actriz usou em Boneca de Luxo é a imagem de marca do criador. Em 1957, a actriz deu a cara ao primeiro perfume Givenchy, L'interdit. O sucesso do lançamento foi então notícia, já que nunca uma actriz tinha sido a imagem de um perfume, lembra a Vogue. Mas a ligação entre os dois ia muito além do benefício profissional mútuo: foi “uma espécie de casamento”, chegou Givenchy a dizer ao Telegraph.

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Para além de Hepburn, Givenchy desenhou para outras estrelas do cinema e da alta sociedade, como Jackie Kennedy, a princesa Grace do Mónaco, Jane Fonda, Elizabeth Taylor e Wallis Simpson, entre outras.

A filosofia de elegância e simplicidade era também o que ligava o criador ao seu grande ídolo, Cristóbal Balenciaga. Conheceu-o em 1953 – no mesmo ano que Audrey –, em Nova Iorque, e os dois acabaram por tornar-se amigos íntimos. "Fazer um vestido simples, onde não há nada além de uma linha, isso é alta-costura", costumava dizer-lhe o criador espanhol.

Criativo e empreendedor

Na década de 1940, o aristocrata (era conde) começou a trabalhar com Jacques Fath, enquanto ainda estudava Belas Artes; em 1946 trabalhou para Robert Piguet e um ano depois estava com Lucien Lelong, para se juntar a Elsa Schiaparelli, casa de que se tornou director artístico. Fundou a marca com o seu nome em 1952.

A 2 de Fevereiro desse ano, apresentava a sua primeira colecção. Então, soube rodear-se das melhores modelos da época, entre elas Bettina Graziani, que foi sua relações públicas. Coube à modelo abrir o desfile com aquela que se tornaria conhecida como a "blusa Bettina", uma peça de linho branco com mangas com folhos bordados.

Givenchy foi também um dos precursores do pronto-a-vestir de luxo quando inventou, na Schiaparelli, uma linha de coordenados – blusa, saia, casaco, calça – que as clientes podiam conjugar como queriam. Só em 1969 começaria a criar para homem, dando início à linha Givenchy Gentleman. Com o tempo, lançou ainda linhas de acessórios, roupa desportiva, perfumes, joalharia e maquilhagem.

Depois de vender empresa a um dos maiores conglomerados de luxo, em 1988 – por 46 milhões de dólares, de acordo com o Washington Post –, Givenchy permaneceu como director criativo. Apresentou o seu último desfile em 1995: foi um momento emocionante, com Yves Saint-Laurent, Paco Rabanne, Christian Lacroix e Valentino na primeira fila. “[O desfile] foi muito modesto, tal como ele é. E foi muito emocional, mas com emoção verdadeira – não a fingir", descrevia o jornalista Emmanuel de Brantes para as câmaras. No final, Sean Ferrer, filho de Audrey Hepburn, presenteou o criador com um bouquet de rosas colhidas dos arbustos que este tinha oferecido à actriz, deixando-o de lágrimas nos olhos.

Foi John Galliano quem primeiro deu continuidade ao trabalho de Givenchy, um ano antes de assumir o papel de director criativo da Dior. Entrou depois Alexander McQueen, que na altura já tinha lançado a sua própria marca e ficou na empresa até 2001. Seguiram-se Julien Macdonald, Riccardo Tisci – até ao ano passado – e a actual directora criativa da marca, Clare Waight Keller, que quando chegou, em Março de 2017, pediu para conhecer o criador.

Givenchy sempre evitou falar sobre o seu afastamento da marca, mas, de acordo com a revista francesa Madame Figaro, nunca se identificou com nenhum dos nomes escolhidos pela LVMH para o substituir e a sua maior mágoa foi não ter encontrado um discípulo à sua altura.

O criador ocupou os últimos anos de vida – longe do olhar público – com o restauro dos jardins de vegetais de Luís XIV, em Versalhes, e a presidência da leiloeira Christie’s em França. Chegou a publicar, em 2014, um livro com esboços de peças que desenhou para Audrey Hepburn, To Audrey with Love. Dedicou-se também à sua colecção de arte, mobília e escultura. Recebeu um prémio de carreira do Council of Fashion Designers of America em 1996.

Givenchy considerava a elegância uma característica inata, como deu a entender num evento organizado na Universidade de Oxford há oito anos, lembrava esta segunda-feira o Independent: “O ideal, se possível, é ter de nascença uma certa elegância.” Mas a isto acrescentava um conselho prático: “Simplificar.”