Ignorar os outros não é culpa da tecnologia

Académicos argumentam que a tentação de estar sempre a olhar para o telemóvel tem raízes muito antigas.

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Patrícia Martins

O cenário será familiar a muitos leitores: num almoço ou jantar, o interlocutor parece apenas semi-atento à conversa. Consulta o telemóvel com frequência e até pega no aparelho, o olhar afundado no ecrã e o dedo a deslizar por uma qualquer aplicação, enquanto garante que está a ouvir o que estamos a dizer. Alguns respondem a mensagens (cuja urgência nunca sabemos se é real), outros – com maior ou menor pudor – chegam a abrir o Facebook ou o Instagram. Muitas pessoas já tiveram conversas (em alguns casos, monólogos) com este tipo de interlocutor irritante. Muitos já terão também cedido à tentação irreprimível de pegar no telemóvel enquanto alguém à frente está a falar.

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O cenário será familiar a muitos leitores: num almoço ou jantar, o interlocutor parece apenas semi-atento à conversa. Consulta o telemóvel com frequência e até pega no aparelho, o olhar afundado no ecrã e o dedo a deslizar por uma qualquer aplicação, enquanto garante que está a ouvir o que estamos a dizer. Alguns respondem a mensagens (cuja urgência nunca sabemos se é real), outros – com maior ou menor pudor – chegam a abrir o Facebook ou o Instagram. Muitas pessoas já tiveram conversas (em alguns casos, monólogos) com este tipo de interlocutor irritante. Muitos já terão também cedido à tentação irreprimível de pegar no telemóvel enquanto alguém à frente está a falar.

A razão para este comportamento, sugere um artigo científico recém-publicado, pode estar menos relacionada com as características viciantes da tecnologia (é sabido que plataformas como o Facebook empregam múltiplos estratagemas para sugar a atenção dos utilizadores) e mais com algo muito antigo e humano: a necessidade, moldada pela evolução natural, de socializarmos e estabelecermos ligações uns com os outros, de vermos e sermos vistos, e de captarmos informação sobre o que nos rodeia.

O artigo foi publicado na revista especializada Frontiers in Psychology e escrito por dois académicos dos departamentos de Psiquiatria e Antropologia da Universidade McGill, no Canadá. “Não há nada inerentemente viciante na tecnologia móvel. Em vez disso, sugerimos que são as expectativas sociais e as recompensas de nos ligarmos a outras pessoas, e a procura de aprender com os outros, que induzem e sustentam a relação viciante com os smartphones”, escreve a dupla de investigadores. Os autores argumentam que mesmo actividades que possam parecer pouco sociais (como jogar um videojogo) acabam por criar a expectativa de recompensas relacionadas com comportamentos sociais, como o desejo de ganhar uma competição.

Da próxima vez que alguém à sua frente abrir o Facebook a meio de uma conversa, pode sempre atribuir a culpa a milénios de socialização humana e não à simples falta de educação.