Legislativas na Colômbia são teste ao compromisso com a paz do eleitorado fragmentado
Escolha dos membros do Parlamento colombiano servirá para tomar o pulso aos eleitores enquanto se afinam estratégias para a eleição presidencial de Maio. Partido de Uribe é o favorito para este domingo.
Envolto num clima de enorme polarização política o eleitorado colombiano vai neste domingo às urnas para escolher os representantes das duas câmaras do Parlamento. De um acto eleitoral que servirá igualmente para os partidos apalparem terreno e tomarem decisões antes das presidenciais, agendadas para o final do Maio, augura-se a renovação de um Congresso disperso, ainda que com protagonistas distintos dos eleitos em 2014.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Envolto num clima de enorme polarização política o eleitorado colombiano vai neste domingo às urnas para escolher os representantes das duas câmaras do Parlamento. De um acto eleitoral que servirá igualmente para os partidos apalparem terreno e tomarem decisões antes das presidenciais, agendadas para o final do Maio, augura-se a renovação de um Congresso disperso, ainda que com protagonistas distintos dos eleitos em 2014.
O Centro Democrático, de Álvaro Uribe, lidera as intenções de voto dos colombianos, superando os mais moderados Partido Liberal e Partido Conservador, e o seu antigo partido, o Partido Social de Unidade Nacional, que é o mais representado nos actuais Senado e Câmara dos Representantes.
O próprio ex-Presidente encabeça a lista para a câmara alta e aposta em começar já nesta eleição a marcar posição para a grande batalha presidencial que se adivinha com a esquerda e, concretamente, com o seu mais que previsível candidato, o ex-guerrilheiro do M-19 e ex-líder do governo de Bogotá, Gustavo Petro.
Mais que previsível porque no mesmo dia em que os eleitores decidem a nova composição do Congresso da República Colombiana realizam-se duas importantes consultas – que são na prática as primárias dos dois movimentos favoritos à sucessão de Juan Manuel Santos. No bloco “uribista”, Iván Duque disputa com outros dois políticos conservadores a nomeação à corrida presidencial, ao passo que no bloco da esquerda anti-sistema, Petro é cabeça de cartaz contra o ex-presidente da câmara de Santa Marta. Os eleitores são livres de participar, mas só podem votar numa das duas consultas, ou na da esquerda ou na da direita.
De acordo com as últimas sondagens sobre as presidenciais, divulgadas há uma semana pelo jornal colombiano El Espectador, Petro (22,6%) e Duque (21,9%) lideram as preferências dos colombianos para 27 de Maio, em detrimento dos candidatos mais moderados, como Germán Vargas Lleras – ex-vice-presidente de Santos –, Sergio Fajardo (auto-intitulado candidato do centro) e Humberto De La Calle, candidato pelo Partido Liberal.
Nestas contas já não entra Rodrigo “Timochenko” Londoño, que por motivos de saúde desistiu de se candidatar pela Força Alternativa Revolucionária Comunitária – a FARC que deixou de ser guerrilha, que se transformou em partido e que, na sequência dos acordos de paz liderados por Juan Manuel Santos, já tem garantidos cinco deputados e cinco senadores.
Este manifesto corte do eleitorado com as soluções políticas ao centro e a consequente propagação das preferências dos colombianos para pólos mais extremistas do espectro político espelham a fractura existente na sociedade colombiana, agravada nos últimos dois anos com o controverso processo de desarmamento das FARC.
A escolha do sucessor do homem que liderou essa causa – e que por ela foi premiado com o Nobel da Paz em 2016 – ganha, por isso, importância redobrada, num país que esteve em guerra civil durante mais de 50 anos e que, como prova a divisão dos eleitores, está muito longe de uma reconciliação interna.
Estas legislativas são também relevantes nesse sentido, uma vez que o seu desfecho tratará de redesenhar o mapa de alianças para a eleição de Maio. Dificilmente poderá ser encontrado um vencedor logo na primeira volta das presidenciais – é necessário que um dos candidatos junte mais de 50% dos votos –, pelo que os compromissos negociados entre os partidos e coligações arrumados no novo Congresso, podem ser decisivos para segunda e derradeira volta.