O regresso do olho queer

Queer Eye, o reality show de transformações e mudanças de visual que já não é só para o Straight Guy, voltou numa nova série do Netflix, mais diversa e cheia de emoções e conversas complicadas. A primeira temporada, de oito episódios, está disponível desde Fevereiro.

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A missão de Queer Eye for the Straight Guy era a tolerância. O reality show que durou cinco temporadas de 2003 a 2007 mostrava cinco especialistas em moda, cultura, gastronomia, cabelo e decoração de interiores que pegavam em homens heterossexuais e mudavam-lhes a forma como se apresentavam ao mundo exterior. Com um novo elenco e um novo cenário, que troca Nova Iorque por Atlanta, na Geórgia, Queer Eye está de volta e agora a missão é a aceitação.

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A missão de Queer Eye for the Straight Guy era a tolerância. O reality show que durou cinco temporadas de 2003 a 2007 mostrava cinco especialistas em moda, cultura, gastronomia, cabelo e decoração de interiores que pegavam em homens heterossexuais e mudavam-lhes a forma como se apresentavam ao mundo exterior. Com um novo elenco e um novo cenário, que troca Nova Iorque por Atlanta, na Geórgia, Queer Eye está de volta e agora a missão é a aceitação.

Quem o diz é Tan France, o novo especialista em moda, no trailer da série de oito episódios que está disponível no Netflix desde Fevereiro. Além dele, o “Fab Five”, que é como o programa chama ao grupo de apresentadores, inclui nomes como Bobby Berk, que faz o design de interiores e transforma casas desarrumadas e pouco apelativas em sítios fabulosos, e Antoni Porowski, que dá dicas de cozinha. Também há Karamo Brown, consultor de cultura – esta descrição é tão vaga quanto o seu papel de especialista parece ser no programa – e Jonathan van Ness, que corta cabelos e barbas. Este último, que foi nomeado para um Emmy em 2016 pela hilariante Gay of Thrones, do Funny Or Die, em que Van Ness recapitula episódios de A Guerra dos Tronos enquanto corta cabelo, é claramente quem mais se destaca, alguém com piada a rodos e uma personalidade que aceita e acomoda toda a gente de uma forma por vezes tocante.

É uma encarnação do programa que representa um espectro mais amplo da experiência gay e é mais diversa do que a original – Brown é um homem negro, France é um muçulmano britânico de origem paquistanesa – e com um foco mais alargado: já não é For the Straight Guy, um nome que se foi perdendo ao longo da série dos anos 2000, e acomoda agora também homens gay como participantes nas transformações. Além disso, como a representação LGBTQIA mudou muito nestes últimos 15 anos – mesmo que não seja, de todo, ideal –, já não há tanta pressão sobre cada um dos apresentadores para serem representativos do que é um homem gay.

Ainda assim, parte da piada do programa é como o "Fab Five" conquista as pessoas que transformam e vemos a tal aceitação a acontecer diante dos nossos olhos. É que, muitas vezes, os convidados vêm de meios em que a relação com a homossexualidade se cinge a “desde que não façam isso à minha frente” ou “não tenho nada contra, mas…”. Claro que isso é mais fácil quando já aceitaram participar num programa com esta premissa, mas não deixa de impressionar.

O novo Queer Eye está cheio de emoção. Há um episódio que gira à volta de resolver algo que está quebrado numa família, como um homem negro gay no armário que quer honrar a memória do pai e tem medo de se assumir perante o mundo e, em especial, a sua madrasta; outro em que um criador de aplicações de telemóvel de origem indiana tem de quebrar as barreiras que construiu à sua volta; ou um homem que quer voltar para a sua terceira ex-mulher. É tudo resolvido em poucos dias, de uma forma que pode parecer pouco realista, mas que funciona bem.

Esta versão não se coíbe, também, de ter conversas complicadas, seja sobre orientação sexual, masculinidade, temas raciais e até brutalidade policial. No quinto episódio, por exemplo, Bobby Berk, a quem foi incutida uma mentalidade altamente reprimida da sua identidade sexual por ter crescido religioso, tem uma conversa séria com um participante que é o patriarca de uma família altamente religiosa.

Antes disso, no terceiro episódio, o alvo da transformação é um polícia que apoia Donald Trump – tem um boné a dizer “Make America Great Again” e foi recomendado para o programa por um colega que pára os apresentadores na estrada quando Karamo Brown está a guiar. É um momento intenso numa série cheia deles, que depois dá azo a uma pungente conversa entre um homem negro e um polícia branco, em que se encontra terreno comum e há um alívio quando o polícia admite que há casos em que os seus colegas vão demasiado longe na forma como tratam pessoas negras que não estão armadas. É isso que eleva Queer Eye.