A improvável amizade entre um “caquéctico” e o “Rocket Man pequeno e gordo”
Ao contrário dos seus antecessores, Donald Trump respondeu à letra aos excessos verbais do líder norte-coreano.
Até Donald Trump ter entrado em força na política, no Verão de 2015, era difícil ouvir algum responsável norte-americano a derrotar um líder da Coreia do Norte ou a agência oficial do regime, a KCNA, numa guerra de palavras. Mas isso mudou logo em Setembro de 2015, no segundo debate entre os candidatos do Partido Republicano: "Ninguém fala sobre aquele louco que está sentado lá na Coreia do Norte, e eles têm armas nucleares."
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Até Donald Trump ter entrado em força na política, no Verão de 2015, era difícil ouvir algum responsável norte-americano a derrotar um líder da Coreia do Norte ou a agência oficial do regime, a KCNA, numa guerra de palavras. Mas isso mudou logo em Setembro de 2015, no segundo debate entre os candidatos do Partido Republicano: "Ninguém fala sobre aquele louco que está sentado lá na Coreia do Norte, e eles têm armas nucleares."
A primeira referência pouco cordial do candidato Trump sobre a Coreia do Norte não foi particularmente violenta ou humilhante, mas nos últimos dois anos e meio não faltam exemplos mais significativos do estado a que chegaram as relações entre os dois líderes, antes da surpreendente abertura que ambos mostraram para se sentarem à mesma mesa.
"Eu consigo levar a China a fazer desaparecer esse tipo muito rapidamente, de uma forma ou de outra. Esse tipo é um gajo mau", ameaçou o Presidente norte-americano durante uma entrevista à CBS, em Fevereiro de 2016.
No Verão do ano passado, já como Presidente dos EUA, Donald Trump usou o Twitter para ridicularizar Kim Jong-un: "A Coreia do Norte acabou de lançar outro míssil. Este tipo não tem nada melhor para fazer com a sua vida?"
Mas o já conhecido gosto de Trump pelas alcunhas só atingiu Kim em Setembro do ano passado, no primeiro discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Depois de ter apresentado ao mundo o "Little" Marco, o "Lyin' Ted", a "Crooked" Hillary e o "Crazy" Bernie, Trump revelou a alcunha que inventou para o líder norte-coreano: "O 'Rocket Man' está numa missão suicida, para ele e para o seu regime."
A resposta de Kim Jong-un chegou poucos dias depois, e deixou os norte-americanos a coçar a cabeça enquanto corriam em direcção ao dicionário mais próximo: "A acção é a melhor opção para se lidar com um dotard [caquéctico] que, sendo duro de ouvido, limita-se a balbuciar aquilo que quer dizer."
Escreveram-se textos só sobre isso – a editora Merriam-Webster, conhecida pelos seus dicionários, aproveitou a oportunidade e correu para o Twitter: "Kim Jong-un chama a Trump um dotard americano com perturbações mentais. As pesquisas por dotard estão lá em cima."
Como seria de esperar, fosse qual fosse o significado de "dotard", dificilmente seria um elogio. "Dotage", explicou a Merriam-Webster, é "o estado ou período de decadência senil marcada pelo declínio do equilíbrio mental e do estado de alerta". E a surpresa dos norte-americanos tinha razão de ser: "'Dotard', que vem da palavra do inglês médio 'doten', tinha inicialmente o significado de 'imbecil' quando começou a ser usada, no século XIV."
Afinal, deduziu Trump, Kim estava a chamar-lhe velho – o que abriu a porta a uma nova investida do Presidente norte-americano no Twitter: "Porque é que o Kim Jong-un acha que me insulta ao chamar-me velho, quando eu NUNCA o chamaria pequeno e gordo? Eu esforço-me tanto para ser amigo dele – e talvez um dia isso aconteça!"