Procuradora discordou de tratamento privilegiado a Manuel Vicente. Mas assinou por baixo

Teresa Sanchez elogiou em tribunal a competência do ex-procurador Orlando Figueira. Mas também disse que o processo que envolvia Manuel Vicente merecia ter sido mais aprofundado.

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Nuno Ferreira Santos

A procuradora Teresa Sanchez, que durante ano e meio trabalhou com Orlando Figueira no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), disse nesta quinta-feira em tribunal ter discordado da rapidez com que este magistrado arquivou a investigação em que era suspeito o vice-presidente angolano Manuel Vicente. Mas assinou por baixo o despacho de arquivamento redigido por este superior hierárquico seu, hoje arguido da chamada Operação Fizz.

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A procuradora Teresa Sanchez, que durante ano e meio trabalhou com Orlando Figueira no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), disse nesta quinta-feira em tribunal ter discordado da rapidez com que este magistrado arquivou a investigação em que era suspeito o vice-presidente angolano Manuel Vicente. Mas assinou por baixo o despacho de arquivamento redigido por este superior hierárquico seu, hoje arguido da chamada Operação Fizz.

Orlando Figueira terá, segundo a acusação, descartado as suspeitas que impendiam em 2011 sobre o então futuro governante angolano a troco de dinheiro e de um emprego bem pago, que conseguiu depois de trocar o DCIAP pelo sector privado, neste caso o Banco Comercial Português, que tem capitais angolanos.

Hoje coordenadora da área cível do Ministério Público para os municípios da Margem Sul,     , Teresa Sanchez não apontou o dedo ao antigo superior hierárquico. Pelo contrário: elogiou a sua competência e garantiu que não lhe levantou quaisquer suspeitas aquele arquivamento, num processo que visava apurar se o dinheiro para a compra de um apartamento de luxo no Estoril por Manuel Vicente tinha uma proveniência lícita.

Mas também acrescentou que se tivesse sido ela a titular do processo, e não uma mera ajudante de Orlando Figueira, como era o caso, teria aprofundado mais a investigação antes de a dar por encerrada. Em vias de se tornar vice-presidente angolano na altura, Manuel Vicente fez chegar ao Ministério Público português comprovativos de que os seus rendimentos chegavam e sobravam para pagar o apartamento em causa, no valor de 3,8 milhões de euros. “Interessaria ter investigado as empresas que lhe passaram essas declarações de rendimentos”, defendeu Teresa Sanchez.

Porém, Orlando Figueira fez-lhe ver a inutilidade de continuar a investigar Manuel Vicente por duas razões, contou: em primeiro lugar porque nunca chegariam a lado nenhum, dado a empresa através da qual o apartamento foi comprado ser uma offshore; em segundo, porque insistir em manter sob suspeita alguém que ia pertencer ao Governo de Luanda prejudicaria os dois países.

Teresa Sanchez acolheu os argumentos do seu superior hierárquico e assinou por baixo, muito embora discordando do tratamento privilegiado conferido a Manuel Vicente. É que sob suspeita estava não só este homem, que até ali tinha dirigido a petrolífera Sonangol, como muitos outros compradores de apartamentos no mesmo condomínio de luxo do Estoril. Vários deles pertenciam também à elite angolana, mas havia ainda um russo e várias outras pessoas cujos rendimentos era preciso escrutinar.

Acontece que a celeridade que Orlando Figueira imprimiu ao inquérito que dizia respeito a Manuel Vicente não teve par com os restantes casos sob análise, assinalou a magistrada. Mais tarde, com Orlando Figueira já a trabalhar no sector privado, alegadamente em troca do arquivamento, o processo ainda seria reaberto por um colega de Orlando Figueira que Teresa Sanchez passou a assessorar. Mas acabou por ser novamente arquivado.

O julgamento da chamada Operação Fizz teve início a 22 de Janeiro.