"Estamos no meio de três furacões", diz António Costa
O primeiro-ministro reconhece que o problema do interior passa por não haver valorização económica. Ninguém está a aderir à proposta de reconstruir noutro local casas isoladas que arderam.
Na preparação da próxima época de incêndios, o primeiro-ministro vê o tempo encurtar e defende que, apesar de a sua maior aposta ser o médio-longo prazo, não vai descurar uma resposta de curto-prazo. E já vê sinais positivos: "É muito positivo ter-se ganho consciência de que estamos no centro de três furacões muito importantes: as alterações climáticas; a dramática desvitalização do interior e o desordenamento da floresta", disse António Costa esta quinta-feira à tarde numa conferência na Gulbenkian sobre “a protecção das comunidades em cenário de incêndio rural”.
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Na preparação da próxima época de incêndios, o primeiro-ministro vê o tempo encurtar e defende que, apesar de a sua maior aposta ser o médio-longo prazo, não vai descurar uma resposta de curto-prazo. E já vê sinais positivos: "É muito positivo ter-se ganho consciência de que estamos no centro de três furacões muito importantes: as alterações climáticas; a dramática desvitalização do interior e o desordenamento da floresta", disse António Costa esta quinta-feira à tarde numa conferência na Gulbenkian sobre “a protecção das comunidades em cenário de incêndio rural”.
Os três "furacões" de que fala o chefe do Governo são os três pilares em que o executivo se baseia para começar a mexer nas questões estruturais de forma a evitar a repetição das tragédias como as do ano passado: "Todos [os "furacões"] concorreram dramaticamente para este resultado", defendeu.
No discurso que fez na conferência organizada pela Estrutura de Missão para a Instalação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, liderada por Tiago Martins Oliveira, o primeiro-ministro concordou que o mais difícil é mudar a base dos problemas: o despovoamento do interior. "Houve algo que foi dito e que é particularmente relevante. Se não pusermos a economia a funcionar neste território, não temos solução para ele. O interior desertificou-se porque deixou de haver actividade económica, isto aconteceu no espaço rural e urbano".
Para o professor Filipe Duarte Santos, orador na conferência, "pode tornar-se impossível criar valor económico para as florestas no Centro e Norte de Portugal". Mas António Costa consente e acredita que "a floresta que tem capacidade de valorização económica é a que menos arde".
"No dia em que for rentável, os proprietários aparecem imediatamente", disse, lembrando que há actualmente um problema em saber quem são os proprietários dos terrenos porque a actividade não é fonte de rendimento, mas de prejuízo. Sem dar valores, o primeiro-ministro revelou que o projecto-piloto em 11 concelhos para lançar o cadastro simplificado "está a correr bem".
Além do despovoamento do interior, para o primeiro-ministro é muito importante "o ordenamento". Neste caso, Costa lembrou que nas áreas ardidas foram feitas propostas para que as pessoas deixassem de reconstruir casas em zonas isoladas no meio da floresta e optassem por aglomerados populacionais, mas até agora ninguém aceitou. "Não temos só povoamentos dispersos, temos casas completamente dispersas no meio da floresta. Quando se tratou da reconstrução, introduzimos um mecanismo para que os municípios, em vez de reconstruírem no local onde a casa estava, propusessem uma recolocação junto ao núcleo populacional mais próximo. Não tem tido nenhum sucesso", lamentou.
Como resumo da sua ideia que o país enfrenta os "três furacões", Costa disse: "Se continuarmos a achar que as alterações climáticas são uma mera abstração (...), se nada for feito na floresta, será mais desordenada de ano para ano. Se nada acontecer de muito significativo no interior, vai ficar mais desertificado".
Na mesma conferência, o líder da estrutura de missão seguiu a mesma linha. Tiago Martins Oliveira defende que "o problema não se resolve com balas de prata com mais aviões", mas com trabalho na prevenção e nas florestas. "É um call to action. É preciso criar um movimento de fundo. Os problemas têm mesmo de ser enfrentados. É uma questão de sobrevivência, de desígnio nacional", defendeu.