Sonda espacial Juno da NASA revela profundezas de Júpiter
O interior do planeta gasoso e gigante é tão deslumbrante como a sua superfície com riscos feitos de nuvens coloridas. Quatro artigos publicados na revista Nature oferecem um mergulho inédito nas profundezas de Júpiter.
No interior de Júpiter há uma mistura de hidrogénio líquido e hélio a rodopiar no centro, extensos jactos atmosféricos e propriedades gravitacionais exóticas, revelaram os cientistas esta semana num “pacote” de quatro artigos científicos publicados na última edição da revista Nature. Os dados fornecidos pela sonda espacial Juno, da agência norte-americana NASA, que se encontra na órbita do maior planeta do sistema solar desde 2016, estão a revelar detalhes surpreendentes sobre a dinâmica e estrutura do interior de Júpiter.
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No interior de Júpiter há uma mistura de hidrogénio líquido e hélio a rodopiar no centro, extensos jactos atmosféricos e propriedades gravitacionais exóticas, revelaram os cientistas esta semana num “pacote” de quatro artigos científicos publicados na última edição da revista Nature. Os dados fornecidos pela sonda espacial Juno, da agência norte-americana NASA, que se encontra na órbita do maior planeta do sistema solar desde 2016, estão a revelar detalhes surpreendentes sobre a dinâmica e estrutura do interior de Júpiter.
Até agora, existia muito pouca informação sobre o que há por baixo das densas nuvens vermelhas, castanhas, amarelas e brancas de Júpiter. “A Juno foi concebida para olhar além dessas nuvens”, lembra Yohai Kaspi, professor de ciências planetárias no Instituto de Ciência Weizmann, em Israel, que liderou uma parte da investigação apoiada nas novas medições sobre a gravidade em Júpiter obtidas pela sonda espacial da NASA.
“Em Júpiter, um planeta gasoso sem qualquer superfície sólida, só conseguimos obter informação a partir da sua órbita”, adianta Luciano Less, engenheiro aeroespacial da Universidade Sapienza de Roma (Itália), que também coordenou uma parte do trabalho. A equipa de Luciano Less dedicou-se a estudar as informações de Juno sobre o campo gravitacional de Júpiter que varia de um pólo para outro do planeta.
Alberto Adriani, do Instituto de Astrofísica e Planetologia Espacial em Roma, é o principal autor de um artigo que mostra observações esclarecedoras por infravermelhos pela sonda Juno das regiões polares. Os cientistas perceberam que os conhecidos ciclones nos pólos de Júpiter formam padrões poligonais persistentes. No pólo Norte, oito ciclones circumpolares rodam em torno de um único ciclone, enquanto o ciclone polar Sul é rodeado por cinco desses ciclones. Apesar de sabermos que estão lá, as origens destes ciclones e a forma como persistem sem se fundirem permanecem desconhecidas.
Júpiter é um planeta gigante de gás, em oposição a planetas rochosos como a Terra e Marte, e é composto (99%) por hidrogénio e hélio. Os dados da Juno mostraram que à medida que passamos a superfície e espreitamos o seu interior, o gás de Júpiter torna-se ionizado e transforma-se num líquido metálico quente e denso.
Os investigadores que estão a trabalhar com os dados da sonda espacial concluíram que as correntes de jactos de Júpiter, associadas às riscas que caracterizam a sua superfície única, mergulham cerca de três mil quilómetros abaixo do nível das nuvens e que seu interior mais profundo é composto por uma mistura de hidrogénio fluido com hélio que roda como se fosse um corpo sólido.
“O centro profundo pode conter um núcleo feito de rochas de alta pressão e alta temperatura e talvez água, mas acredita-se que seja fluido, não sólido”, afirma Tristan Guillot, cientista da Universidade de Côte d’Azur, em Nice (França), outro dos líderes de investigação.
As informações transmitidas por Juno mostraram também uma assimetria pequena mas significativa entre o campo gravitacional dos hemisférios Norte e Sul de Júpiter, impulsionado pelas imensas correntes de jactos. Quanto mais profundos os fluxos de jactos, mais massa contêm, exercendo um forte efeito no campo gravitacional de Júpiter, explica Yohai Kaspi.
Júpiter, o quinto planeta a contar do Sol, faz com que os outros planetas do nosso sistema solar pareçam minúsculos. O gigante planeta com riscas feitas de nuvens coloridas mede cerca de 143 mil quilómetros de diâmetro no seu equador, em comparação com o diâmetro da Terra que se fica por cerca 12.750 quilómetros. Ou seja, Júpiter é grande o suficiente para que nele coubessem 1300 Terras.