PSD cria Governo-sombra e equipas distritais temáticas

Rui Rio anuncia "revolução" na forma de funcionamento do partido, mas admite que as distritais podem resistir à mudança.

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Rui Rio

O PSD vai ter um conjunto de porta-vozes nacionais (coadjuvados por coordenadores) e criar equipas temáticas nas distritais abertas a simpatizantes. É um novo modelo do Conselho Estratégico Nacional (CEN) – que Rui Rio diz ser uma “revolução” a nível distrital – que contribuirá para a construção do programa eleitoral e deverá também atrair “milhares de pessoas” para o partido. O presidente do PSD diz não temer o seu apagamento, como líder do partido, mas admite que é um “desafio” para as distritais. No topo da estrutura está David Justino, vice-presidente do partido.

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O PSD vai ter um conjunto de porta-vozes nacionais (coadjuvados por coordenadores) e criar equipas temáticas nas distritais abertas a simpatizantes. É um novo modelo do Conselho Estratégico Nacional (CEN) – que Rui Rio diz ser uma “revolução” a nível distrital – que contribuirá para a construção do programa eleitoral e deverá também atrair “milhares de pessoas” para o partido. O presidente do PSD diz não temer o seu apagamento, como líder do partido, mas admite que é um “desafio” para as distritais. No topo da estrutura está David Justino, vice-presidente do partido.

Na conferência de imprensa desta quarta-feira, em que apresentou a proposta de um novo CEN – que já existe nos estatutos, mas que funcionou em moldes completamente diferentes –, Rui Rio recusou chamar “Governo-sombra” a este órgão, mas usou a expressão para explicar a nova estrutura partidária.

No novo modelo de funcionamento, há 16 áreas – desde as relações externas à reforma do Estado, passando pela educação e ambiente e natureza, por exemplo – em que o PSD terá porta-vozes para transmitir a posição do partido sobre o tema. Essas figuras terão a ajuda de uma equipa e de coordenadores, explicou Rui Rio nesta quarta-feira, após uma reunião da Comissão Política Nacional. Só o nome de um coordenador foi revelado, como exemplo de uma pessoa “mais velha e com mais experiência” - Arlindo Cunha, ex-ministro de Cavaco Silva, para a Agricultura –, em contraponto com os porta-vozes, que serão mais “jovens”.

Este modelo será replicado a nível distrital, ou seja, cada estrutura poderá criar secções temáticas em que podem participar militantes e simpatizantes. Uma medida que é “uma revolução na forma de funcionar do partido”, destacou Rui Rio. “Se são profissionais de saúde e se interessam, podem militar no sector da saúde”, exemplificou, multiplicando por outros temas. A medida reflecte uma das orientações de Rio sobre o funcionamento do PSD e pretende dar corpo a uma “outra forma de entrar no partido, que não seja para ganhar a concelhia”. Estas equipas terão de integrar “um ou dois” deputados do círculo.

Questionado sobre se há risco de estas estruturas se tornarem paralelas e se haverá resistências, Rui Rio admite que “numas distritais vai haver e noutras não”. O líder social-democrata assume que este modelo “é um desafio às distritais”, porque permitirá perceber quais têm mais secções temáticas e, por isso, quais serão mais “dinâmicas”. Convencido de que este modelo permitirá atrair “milhares de pessoas” ao partido, Rio referiu a solução permite que “alguém que queira ser militante do PSD ou que é independente e queira participar encontre um espaço” no partido. Mas o “militante de Lisboa continua a poder ir ao plenário de Lisboa”, ressalvou.

Rio foi também interpelado pelos jornalistas sobre se a criação dos porta-vozes nacionais não  apaga o líder do partido. Respondeu que o líder “não está capaz de fazer debates sectoriais sobre tudo e mais alguma coisa” e criticou o modelo actual, em que se recorre a deputados “que não são especialistas nos temas”. “Sou capaz de fazer uma síntese política”, afirmou, usando uma imagem: “Não se pode dizer que o primeiro-ministro desaparece por haver ministros e secretários de Estado”.

Assegurando que as funções dos porta-vozes na bancada parlamentar se mantêm “intactas”, Rio negou que haja uma tentativa de retirar peso ao grupo parlamentar. Mas admitiu que tem de haver “articulação”. Na véspera da primeira reunião com os deputados, Rio minimizou os eventuais problemas e considerou que, agora, já estão “reunidas condições para uma melhor coabitação” com a direcção, depois de uma “convulsãozita”. Com uma bancada de 89 deputados, Rio diz que, se houver falta de colaboração, será “de dois, três, quatro ou cinco”, um “epifenómeno”.

No novo CEN, há ainda uma tentiva de descentralização. “O porta-voz nacional de justiça pode funcionar em Coimbra”, exemplificou Rui Rio, que se escusou a chamar a esta nova orgânica uma “regionalização do PSD”.

A proposta do novo CEN – que foi entregue aos jornalistas com um organigrama – será ainda acertada dentro de 15 dias, na Comissão Política Nacional (com a aprovação de um regulamento), e é até possível que o número de temas seja ajustado.

Foi também designado o investigador Tiago Moreira de Sá para presidente da comissão de relações internacionais e o ex-secretário-geral adjunto o Luís Geraldes para coordenador do secretariado das comunidades portuguesas.