Ministro da Defesa falha entrega de dossier sobre Tancos

Azeredo Lopes tinha-se comprometido a entregar no Parlamento até final de Fevereiro um “dossier documental” com todas as medidas estruturais que foram tomadas na sequência do roubo de material militar em Tancos.

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Ministro disse que o dossier iria esclarecer a opinião pública LUSA/MÁRIO CRUZ

O ministro da Defesa comprometeu-se, a 16 de Janeiro, a entregar na Comissão Parlamentar de Defesa, até ao final de Fevereiro, um “dossier documental” com todas as medidas estruturais que foram tomadas na sequência do apuramento do que ocorreu em Tancos. O prazo terminou há sete dias e os documentos ainda não chegaram ao Parlamento.

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O ministro da Defesa comprometeu-se, a 16 de Janeiro, a entregar na Comissão Parlamentar de Defesa, até ao final de Fevereiro, um “dossier documental” com todas as medidas estruturais que foram tomadas na sequência do apuramento do que ocorreu em Tancos. O prazo terminou há sete dias e os documentos ainda não chegaram ao Parlamento.

“O dossier documental encontra-se em preparação”, disse ao PÚBLICO um assessor do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, sem revelar, porém, quando será entregue o conjunto de documentos. Segundo o governante, a elaboração deste “dossier documental visava “esclarecer a opinião pública” sobre tudo o que foi feito neste processo.

Em Janeiro, um membro do gabinete de Azeredo Lopes revelou ao PÚBLICO que o conjunto de documentos a entregar aos deputados teria matéria que seria tornada pública e outra, “com material sensível”, que seria classificada. “A entrega destes documentos não deve, porém, ser vista como uma declaração formal do encerramento do caso”, afirmou o membro do gabinete do ministro.

Já a 8 de Fevereiro, numa entrevista ao Diário de Notícias, Azeredo Lopes reafirmava que, em relação a Tancos, da parte do seu ministério, apenas faltava a entrega do referido dossier. “Falta aquilo a que me comprometi: um dossier em que, de forma sistemática, se descreva o que já se sabe quanto ao que aconteceu. Repito, sem nunca interferir na investigação criminal quanto à autoria, cumplicidade e comparticipação, sabendo que esse elemento é absolutamente decisivo para conseguir compreender o que aconteceu”, salientou.

Esta falha da entrega do prometido dossier acontece depois de o Presidente da República ter afirmado, na passada semana, que o “apuramento interno” de alguns “casos” vividos no seio das Forças Armadas permitiu “identificar omissões, insuficiências ou erros estruturais” e definir mudanças. Mas, ao mesmo tempo, “não permitiu identificar cabalmente quem e como agiu” em casos como o de Tancos. E, por isso, Marcelo disse esperar que os responsáveis pela investigação não desistam de ir “mais longe e fundo” para apurar responsabilidades.

Esta intervenção de Marcelo foi feita durante a tomada de posse do novo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), em que esteve presente Azeredo Lopes, no dia 1 de Março. Precisamente um dia depois de ter terminado o prazo para a entrega dos documentos da Defesa no Parlamento e que podem conter informação que responda a alguns dos esclarecimentos pedidos pelo Presidente da República.

Mas as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, no dia em que tomou posse o novo CEMGFA, mostram também que o chefe de Estado não terá gostado que o Exército tenha revelado, no final de Janeiro, que não vai divulgar mais nenhuma informação sobre o roubo de material militar de Tancos de Junho do ano passado, depois de ter concluído os processos disciplinares instaurados a quatro militares.

“O Exército não tem mais nada a revelar sobre o assunto”, disse ao PÚBLICO, a 25 de Janeiro, o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira. O Presidente deixou claro que, para ele, o dossier Tancos não está encerrado.

A 29 de Junho do ano passado foi divulgado que tinham sido roubados, dos Paióis Nacionais de Tancos, 150 granadas de mão ofensivas, 18 granadas de gás lacrimogéneo, 1450 cartuchos de munição de nove milímetros e outro material militar que, mais tarde, foi avaliado em 34 mil euros.

A 18 de Outubro, após uma denúncia anónima, a maior parte do material furtado foi encontrado pela Polícia Judiciária Militar na Chamusca, a cerca de 20 quilómetros do complexo de Tancos. Faltavam apenas algumas munições, mas, em contrapartida, como revelou mais tarde Rovisco Duarte, havia uma caixa contendo material militar que não constava da lista oficial do roubo dos paióis.