Quando o veneno é a arma escolhida para silenciar vozes incómodas

O alegado envenenamento do ex-espião russo no Reino Unido traz à memória alguns dos casos mais famosos de ataques por intoxicação levados a cabo por motivos políticos.

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Polícia britânica isolou o banco de jardim onde o ex-espião foi exposto ao veneno TOBY MELVILLE/ Reuters

Na comunicação social britânica ganha cada vez mais força a tese de que o antigo espião russo que em tempos colaborou com os serviços secretos britânicos e que foi internado por "exposição suspeita a substância desconhecida" foi envenenado. 

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Na comunicação social britânica ganha cada vez mais força a tese de que o antigo espião russo que em tempos colaborou com os serviços secretos britânicos e que foi internado por "exposição suspeita a substância desconhecida" foi envenenado. 

A entrada de Sergei Skripal num hospital do condado de Wiltshire, em estado crítico, deixou Londres e Moscovo em estado de alerta e trouxe à memória alguns dos casos mais famosos de ataques por intoxicação, executados por motivações políticas.

Levados a cabo através de técnicas mais ou menos engenhosas e protagonizadas por autores mais ou menos anónimos, eis quatro casos que encheram as páginas dos jornais durante semanas a fio e que provocaram crises diplomáticas relevantes:

Kim Jong-nam (2017)

O ataque ao meio-irmão de Kim Jong-un, em Fevereiro de 2017, foi o caso mais recente de agressão através de uma substância tóxica e esteve na origem de uma enorme crise diplomática entre a Coreia do Norte e a Malásia. Kim Jong-nam foi exposto ao agente nervoso VX no aeroporto de Kuala Lumpur, que lhe provocou um colapso respiratório e um ataque cardíaco. Morreu cerca de 20 minutos depois do contacto com o veneno, vítima de um ataque que terá sido arquitectado pelos serviços secretos norte-coreanos.

Alexander Litvinenko (2006)

Antigo espião russo e membro do KGB, Alexander Litvinenko morreu no hospital, quase um mês depois de ter ingerido polónio-210, um potente elemento radioactivo, dissolvido num chá. O ataque teve lugar num hotel no centro de Londres, em 2006 – Litvinenko pedira asilo ao Reino Unido em 2000 –, e a investigação levou à identificação dos seus autores. Russos e britânicos envolveram-se num conflito diplomático por causa do assunto, mas o Kremlin rejeitou a extradição de Andrei Lugovoi e Dmitri Kovtun.

Viktor Iushchenko (2004)

O envenenamento do antigo Presidente e primeiro-ministro da Ucrânia, e herói da Revolução Laranja, deixou-lhe marcas visíveis no rosto mas não o matou. Viktor Iushchenko ficou subitamente doente durante a campanha eleitoral das presidenciais de 2004 e três meses mais tarde os seus médicos revelaram que tinha sido exposto a dioxina. Os rumores de que o veneno teria sido colocado deliberadamente na sua comida por agentes do Kremlin – que apoiavam Viktor Ianukovich nessa eleição – nunca passaram disso mesmo.

Georgi Markov (1978)

As circunstâncias da morte do escritor e dissidente búlgaro Georgi Markov deram corpo a um dos episódios mais bizarros do período da Guerra Fria, ocorrido em Setembro de 1978. Um desconhecido utilizou um guarda-chuva modificado para injectar ricina na perna de Markov, enquanto este esperava por um autocarro numa paragem próxima da ponte londrina de Waterloo. O opositor ao Governo comunista da Bulgária sentiu a picada, mas não lhe atribuiu muita importância. Quatro dias depois, o veneno cumpriu o seu propósito e o escritor morreu.