Somos tod@s vítimas

Os alunos que vêem o colega do lado ser maltratado, gozado, devem falar, intervir. Contar aos pais, a um funcionário, a um professor. Não devem deixar que os agressores passem impunes e que as vítimas sofram em silêncio

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Verne Ho/Unsplash

Há mais de sete anos que leio quase diariamente artigos sobre bullying. As características das vítimas, o padrão de agressores. As vítimas costumam ter características comuns, por norma são fisicamente mais fracas, têm excesso de peso, pertencem a minorias étnicas, sexuais. E os agressores fisicamente mais fortes, com elevados níveis de impulsividade e necessidade de dominar os outros. Além disso, são inúmeras as consequências psicológicas, sociais e académicas do bullying, amplamente documentadas cientificamente.

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Há mais de sete anos que leio quase diariamente artigos sobre bullying. As características das vítimas, o padrão de agressores. As vítimas costumam ter características comuns, por norma são fisicamente mais fracas, têm excesso de peso, pertencem a minorias étnicas, sexuais. E os agressores fisicamente mais fortes, com elevados níveis de impulsividade e necessidade de dominar os outros. Além disso, são inúmeras as consequências psicológicas, sociais e académicas do bullying, amplamente documentadas cientificamente.

Quando soube de ti, percebi a diferença entre ler artigos científicos, estudar o tema e ele "bater-nos à porta". Há um misto de sentimentos, confusão e impotência. É diferente ler teorias, saber definições e percentagens de cor e depois deparar-me com a realidade bem perto de mim. Sempre foste o carinhoso, ternurento, adorado por todos — ou pela maioria. Talvez seja esse o teu "problema". É fácil gostar de ti. Deixas marca em muitas pessoas pelo doce que és. E isso talvez seja revoltante para aqueles que não entendem ou que querem ser como tu. Jogaram com isso e com o teu coração doce. Acredito que em ti tenhas tentado muitas vezes entender porque eras o alvo... talvez tenhas duvidado de ti. Por muito que os que te querem bem continuassem a dizer que és lindo, que te adoram, por dentro havia a interrogação e permaneciam aqueles três diabos a infernizar-te a vida. Imagino-te no corredor perto da sala de aula — onde não entraste — a pensar no porquê. Sozinho. Ninguém te viu ali? Ninguém soube dizer que tu não estavas bem porque não paravam de te chatear? Dói muito pensar porque é que os teus colegas te viam assim e não diziam nada! Não se conseguem pôr no teu lugar? Alguém consegue imaginar o que é estar no teu lugar?

O papel dos pares no bullying tem sido identificado como um factor-chave para parar com a vitimização entre jovens. Vários estudos revelam que os pares estão presentes em mais de 80% dos episódios de bullying, podendo estes assumir diferentes papéis (e.g. incentivar o agressor, ajudar a vítima, não intervir). No entanto, os comportamentos de ajuda são pouco frequentes, apesar da elevada eficácia que têm na redução da vitimização. É importante compreender o que inibe ou promove os comportamentos de ajuda dos pares. É igualmente importante trabalhar com os alunos para que estes possam compreender e experienciar de melhor forma as emoções sentidas pelas outras pessoas, uma vez que a empatia está associada a mais comportamentos de ajuda.

Os alunos que vêem o colega do lado ser maltratado, gozado, devem falar, intervir. Contar aos pais, a um funcionário, a um professor. Não devem deixar que os agressores passem impunes e que as vítimas sofram em silêncio. Não devem ser aliados silenciosos dos agressores — sendo que eles próprios precisarão de ajuda.

Podemos todos ser vítimas. Não precisamos de ter características marcantes para sermos vítimas. Precisamos de agir, intervir e parar com o bullying. Não fiquem parad@s!