Renzi demite-se e garante que o PD não faz coligações com extremistas
"Não faremos acordos, mas oposição”, disse o ex-primeiro-ministro, eleito senador nas listas de Florença.
Chegou com mais de uma hora de atraso, responsabilizou “o vento extremista” e levantou-se sem responder a perguntas. “Reconhecemos que se trata de uma derrota clara que nos impõe a abertura de uma página nova no interior do Partido Democrático (PD)”, afirmou Matteo Renzi, na sede da formação de centro-esquerda, em Roma. “É óbvio que como consequência deste resultado eu deixe a liderança do PD”, acrescentou.
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Chegou com mais de uma hora de atraso, responsabilizou “o vento extremista” e levantou-se sem responder a perguntas. “Reconhecemos que se trata de uma derrota clara que nos impõe a abertura de uma página nova no interior do Partido Democrático (PD)”, afirmou Matteo Renzi, na sede da formação de centro-esquerda, em Roma. “É óbvio que como consequência deste resultado eu deixe a liderança do PD”, acrescentou.
Renzi, que tomou de assalto o PD e o Governo no início de 2014 para se demitir de ambos depois de ver a sua reforma constitucional chumbada em referendo, no fim de 2016, não fez grande autocrítica face ao pior resultado de sempre do partido que entretanto voltara a liderar. Preferiu deixar claro que, com ou sem ele, o PD nunca entrará “num governo com os extremistas”.
“Não mudamos de opinião em 48 horas. Há pelo menos três elementos que nos separam de [Matteo] Salvini e de [Luigi] Di Maio: o antieuropeísmo, a antipolítica e o ódio verbal que caracterizou a sua campanha. Que façam governo sem nós”, insistiu, visivelmente irritado com a sugestão de um entendimento com pelo menos parte do PD feita por Di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas.
Não era o discurso que os analistas antecipavam, até porque Renzi não sai imediatamente. Pediu a convocação de uma Assembleia Geral do partido para organizar um Congresso; entretanto, permanece no lugar durante o processo de consultas que se segue à tomada de posse das duas câmaras do Parlamento.
A expectativa era que Renzi deixasse campo aberto para que outros no PD decidissem o que fazer face ao M5S, o partido mais votado, mas atrás da coligação de direita, liderada por Salvini. Ora Renzi fez exactamente o oposto. “Eu não vou desaparecer, vou ser senador de Florença”, disse. “Não faremos acordos mas oposição, foi onde os italianos escolhessem que estivéssemos”, garantiu.
Na análise à derrota, o dirigente preferiu falar de calendário, explicando que o PD deveria ter aproveitado outros momentos e ido às urnas “numa das duas janelas abertas em 2017, quando teria sido possível impor uma agenda europeia na campanha”, afirmou, numa referência às eleições em França e na Alemanha. Assim, os italianos votaram “no meio de um vento extremista que se anunciava”, disse.
“O outro erro foi termos feito uma campanha muito técnica, não mostrámos a alma das coisas feitas e das que queríamos fazer”, concedeu. Nada que se tenha interposto entre ele e os seus eleitores directos. “Estou muito orgulhoso dos resultados no meu círculo. É a 14ª vez que me apresento a votos em Florença, para a região, para a cidade, e é impressionante como quem me conhece confie sempre em mim”, congratulou-se.
Sem “fugas” nem mortes políticas precoces, Renzi demite-se mas deixa avisos aos opositores internos. “O novo secretário-geral tem de ser escolhido em eleições primárias, não na fogueira”. Aos 43 anos, Renzi não está pronto para sair de cena.