A noite de Isaura e Cláudia Pascoal
O Jardim é oficialmente a sucessora de Amar Pelos Dois na Eurovisão, que este ano se realiza pela primeira vez em Portugal. Foi a canção que ganhou a final do Festival da Canção, domingo à noite.
As vencedoras do Festival da Canção, Isaura e Cláudia Pascoal, demoraram algum tempo a ir da área dos artistas até ao palco do Multiusos de Guimarães, do outro lado da sala. A compositora – que também deu uma mão na interpretação – e a cantora de O Jardim pareciam não acreditar no que tinha acontecido. O trabalho delas é o sucessor de Amar Pelos Dois como candidato português à Eurovisão, que se realizará em Maio em Lisboa. Ao PÚBLICO, Cláudia Pascoal, que foi concorrente do The Voice, confirmou essa incredulidade: “A Isaura e eu estamos muito cansadas e ainda um bocado apáticas porque ainda não acreditamos no que aconteceu.”
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As vencedoras do Festival da Canção, Isaura e Cláudia Pascoal, demoraram algum tempo a ir da área dos artistas até ao palco do Multiusos de Guimarães, do outro lado da sala. A compositora – que também deu uma mão na interpretação – e a cantora de O Jardim pareciam não acreditar no que tinha acontecido. O trabalho delas é o sucessor de Amar Pelos Dois como candidato português à Eurovisão, que se realizará em Maio em Lisboa. Ao PÚBLICO, Cláudia Pascoal, que foi concorrente do The Voice, confirmou essa incredulidade: “A Isaura e eu estamos muito cansadas e ainda um bocado apáticas porque ainda não acreditamos no que aconteceu.”
Não que fosse assim tão difícil de prever. Logo ao início do espectáculo, quando se mencionou cada um dos concorrentes, foi Cláudia Pascoal a mais aplaudida dentro da sala. E quando chegou a altura de subir ao palco, o público fez mais barulho do que em qualquer outra canção.
Com as 14 finalistas conhecidas do público, a cerimónia juntou, com os mesmos vídeos introdutórios das meias-finais, duas canções de cada vez, para despachar essa parte. Começou exactamente nas duas canções que, nos domingos anteriores, tinham sido excluídas: Sem Medo, de Jorge Palma para a voz de Rui David, que não foi logo anunciada por causa de um erro na forma como os votos foram revelados na televisão, e Mensageira, de Aline Frazão para Susana Travassos, que entrou na corrida quando Diogo Piçarra se decidiu retirar depois de ser envolvido em acusações de ter apresentado uma música plagiada.
Seguiu-se Sunset, a canção do luso-canadiano Peter Serrado, e Zero a Zero, de Benjamim para Joana Espadinha. Lili, que se juntou ao compositor Armando Teixeira em palco, cantou O Voo das Cegonhas, seguida de Para Sorrir Eu Não Preciso de Nada, que Júlio Resende compôs e cuja letra Camila Ferraro escreveu, para a voz de Catarina Miranda, que faz música como emmy curl, uma das grandes favoritas para vencer e cuja competição com O Jardim foi renhida. Logo a seguir, o par de Anda Estragar-me Os Planos, com Joana Barra Vaz a cantar um tema de Francisca Cortesão (Minta & The Brook Trout e They’re Heading West) e Afonso Cabral (You Can’t Win, Charlie Brown), e Amor Veloz, de Francisco Rebelo para David Pessoa, com letra de Márcio Silva. Seguiu-se Patati Patata, de Paulo Flores para as vozes de Minnie e Rhayra, que começaram em lados opostos do palco, bem maior e claramente mais confortável para os intérpretes do que o Estúdio 1 da RTP, onde se tinham realizado as meias-finais, e (sem título), de Janeiro, a escolha do próprio Salvador Sobral para o festival deste ano.
Os pares finais foram Bandeira Azul, de Tito Paris com letra de Pierre Aderne e interpretação de Maria Inês Paris e P’ra te Dar Abrigo, de Fernando Tordo com letra de Tiago Torres da Silva e cantada por Anabela, cuja introdução foi fortemente aplaudida. Por fim, a canção vencedora, primeiro interpretada com Isaura de costas e, na repetição, com a compositora de frente para o público, e Só Por Ela, de Diogo Clemente para Peu Madureira, que tinha uma claque dedicada, com direito a fãs com letras a soletrar o nome e a cara impressa em paus, comparável apenas à de Joana Espadinha, que tinha t-shirts com a cara da cantora.
Depois do intervalo, o primeiro de dois apontamentos humorísticos de Eduardo Madeira – a fazer de busto de Cristiano Ronaldo –, Marta Ren, Ana Bacalhau, Selma Uamusse – cujo apelido serviu para uma infeliz e batidíssima piada do apresentador Pedro Fernandes (sim, nomes que não são europeus são hilariantes e “Uamusse” inclui “mousse”) – e Catarina Salinas, dos Best Youth, subiram ao palco no tributo às Doce que Moullinex engendrou. Pouco depois, Nuno Feist homenageou Simone de Oliveira, primeiro na voz de Aurea, depois na voz de Marisa Liz, dos Amor Electro, e depois na voz da própria Simone de Oliveira, que foi recebida com uma ovação em pé. Foram dois momentos que suscitaram do público uma reacção mais uniforme e concentrada do que qualquer canção a concurso.
Antes do anúncio dos votos dos júris regionais, Luísa Sobral, que compôs a música vencedora em 2017, apresentou uma nova canção, Maria do Mar, à guitarra acústica, acompanhada pelo veterano guitarrista de jazz (e não só) Mário Delgado. E, antes de os representantes das ilhas dizerem quem ganhou, Eduardo Madeira voltou, desta feita na pele de Osório, personagem cuja tese principal é a de que alguém que não aprecia algo, seja por que razão, é risível.
“Este ano, acho que os compositores e intérpretes pegaram naquilo que a Luísa e o Salvador nos deixaram e tentaram superar-se. Havia muitas canções belíssimas e mais do que uma canção a ter muitos votos. Fico mesmo grata pela possibilidade de ser O Jardim a ir à Eurovisão”, comentou Isaura ao PÚBLICO. O tema, dedicado à avó da compositora que morreu, é-lhe particularmente caro: “Não vou dizer que não estou com o coração um bocado apertado por ter aberto o coração para tanta gente, porque não deixa de ser uma história que ainda me está muito presente e estou a aprender a lidar com essas saudades.”
Nuno Galopim, um dos responsáveis desta edição do festival, que convidou alguns compositores, afirma que o balanço é “muito positivo”. “Posso dizer que estou muito feliz por termos uma canção que acrescenta qualquer coisa à narrativa de revitalização do Festival da Canção que se fez no ano passado com a vitória do Salvador Sobral, um outro tipo de canção no registo de modernidade.”