Inevitavelmente perdemo-nos

A humanidade tornou-se inóspita. Será que a humanidade se descaracterizou de tal forma ao ponto de perder o respeito por si mesma? Inevitavelmente perdemo-nos

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Jalal Al-mamo/Reuters

Esta humanidade não é lugar para se estar. E se viver. Já não é desinteresse, é insciência da dor. A História deixou um rasto de sofrimento, que se propaga repetidamente como uma doença. Com a emergência do absolutismo ideológico da China e a nova corrida ao (re)armamento, existe a irrefutável semelhança a eras bem recentes. Mas mais que nunca nos conformamos com a ausência, enquanto nos permeabilizamos às maravilhas do consumismo desenfreado e das redes sociais, que industriosamente nos ilibam e capitalizam a nossa imbecilidade feliz.

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Esta humanidade não é lugar para se estar. E se viver. Já não é desinteresse, é insciência da dor. A História deixou um rasto de sofrimento, que se propaga repetidamente como uma doença. Com a emergência do absolutismo ideológico da China e a nova corrida ao (re)armamento, existe a irrefutável semelhança a eras bem recentes. Mas mais que nunca nos conformamos com a ausência, enquanto nos permeabilizamos às maravilhas do consumismo desenfreado e das redes sociais, que industriosamente nos ilibam e capitalizam a nossa imbecilidade feliz.

 

Como podemos sequer ousar falar de liberdade e progresso, enquanto pomos armas nas mãos de crianças que matam outras? A liberdade tornou-se isto: licença. Até para matar. A liberdade tornou-se uma coluna vertebral sem vértebras, de tal forma insustentável que se torna uma heresia pronunciar a palavra perante mais um rosto inanimado de uma criança, um pai e marido, uma mãe e mulher, uma irmã ou irmão órfão de um mundo que os promete salvaguardar mas que os condena a um inferno cruel. Hoje, vi mais um rosto. Vi, confrontei e libertei o fantasma dele. E, no entanto, sinto-me mais assombrado que nunca. 

 

A humanidade tornou-se inóspita. Será que a humanidade se descaracterizou de tal forma ao ponto de perder o respeito por si mesma? Inevitavelmente perdemo-nos. Deixamos de entender o que somos e o que se passa. Será difícil perceber que ao cometermos e consentirmos tais atrocidades nos ameaçamos também? A partir do momento em que tais atrocidades contra outras pessoas são cometidas por ser "necessário, indispensável para restabelecer a paz", segundo o (muito) suspeito manual de instruções humano, condenamo-nos a uma desobediência deliberada e perdermos claramente a nossa essência.

 

Será que desacreditamos tanto na nossa oportunidade de unidade? Em vez de perseguirmos a grandeza e o valor precioso da vida e aprofundarmos essa comunhão, vivemos segundo pressupostos que justifiquem tais crimes contra a vida e o direito à vida dos outros. Violamos continuamente a liberdade dos outros e caímos cada vez mais fundo no poço da degradação. Perdemos, por isso, a nossa importância e a nossa própria natureza. Isto é conjuntamente sintoma preocupante e causa não marginal de uma grave derrocada civilizacional. 

 

Os crescentes atentados apresentam novas características relativamente ao passado, e levantam problemas mais profundos: é que nesta crescente "(in)consciência colectiva", estes "problemas" tendem a perder o carácter de "crimes" para assumir, paradoxalmente, o carácter de necessidade, ao ponto, diria, de se pretender um reconhecimento legítimo da guerra. A guerra agora alimenta-se furiosamente da nossa distracção como nunca se viu. Não é a superioridade racial ou o sangue de inocentes, mas o esquecimento que se tornou a nova moeda de troca na transacção de armas, influências e na orla do poder. Estamos perante uma ameaça contra a vida, não apenas dos indivíduos, mas de toda a civilização.