Um quarto de brincar junto ao céu

Publicamos, mensalmente, às sextas, um projecto de arquitectura e de decoração de interiores com exemplos de como aproveitar da melhor forma o pouco espaço disponível numa habitação. Bem-vindos às Casas XS. Uma curadoria do blogue Alexandra Matos Design

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Filipe Brandão

Não sendo propriamente uma casa XS, este é um bom exemplo de como podemos olhar para casas com uma dimensão um pouco maior e tirar ideias para uma casa pequena.

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Não sendo propriamente uma casa XS, este é um bom exemplo de como podemos olhar para casas com uma dimensão um pouco maior e tirar ideias para uma casa pequena.

O quarto de brincar é um dos grandes trunfos deste projecto, assinado pelo colectivo de arquitectos Parqur. Miguel Amado, Tiago Ramos, Nuno Sanches , Sofia Herrera, Filipe Brandão e Gil Ribeiro, em conjunto, responderam às nossas perguntas, considerando este espaço de brincar “inovador na maneira como desmonta, através da geometria, a ocupação vertical do espaço disponível".

"A ideia original passava por algum aproveitamento do espaço da cobertura através de uma solução em beliche, mas foi em obra e com desenhos em paralelo que tudo se concretizou. Acabou por ser uma solução económica e muito satisfatória, para além da poética inerente aos quartos de crianças que partilham um outro espaço comum, uma espécie de 'praça infantil' colada ao céu da casa, que é o próprio telhado”, explicam os arquitectos. De destacar os materiais utilizados que, “para além de económicos (maioritariamente em madeira — placas OSB e placas de gesso cartonado), permitiram, pela sua flexibilidade construtiva, ir esculpindo de alguma forma as possibilidades todas da ocupação das divisões". O resultado? "Um pequeno recanto ali, um nicho secreto acolá, um armário, entre outros.”

No piso 0, por sua vez, “optou-se pelo tratamento do existente, fazendo composições de circulação num jogo espacial de aberturas, que se concretizaram através da manutenção de uma porta já existente em diálogo com uma nova abertura". "Esta solução", contam, "permitiu a formulação de uma ironia espacial interessante, com os dois vãos novos, lado a lado, a dinamizarem ambos os espaços — permite a permeabilidade habitual da 'sala-cozinha', mas ao mesmo tempo organizar a sala de refeição como espaço central, de identidade independente”.

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Filipe Brandão

Já o piso -1, a cave “acabou por ficar definida por três espaços que a caracterizam como funciona actualmente: a caixa de escada central (um elemento estrutural de circulação que divide o espaço em dois), uma abertura directa para o quintal e as sapatas existentes, que formam uma espécie de grande prateleira". A partir destes elementos, e sobretudo com a ligação ao exterior, a cave escura "transformou-se em sala, com dois espaços distintos, uma ligada à dinâmica de gestão do habitar (lavandaria) e um escritório de trabalho". "A grande prateleira que envolve isto tudo foi completamente ocupada pela biblioteca. A opção pelo branco nas paredes e tectos, sem filtro, acabou por garantir ao espaço a qualidade necessária para as funções polivalentes a que se destina (trabalho, lazer e estudo).”

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Filipe Brandão

O resultado foi uma habitação acolhedora e confortável, para a qual dá vontade de ir viver já!

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Alexandra Matos é mestre em Ciências da Comunicação e é autora do blogue Alexandra Matos Design

Dicas para espaços pequenos

“Mais do que decoração, acreditamos na geometria e nas possibilidades espaciais do lugar", ressalvam os arquitectos. "Não havendo fórmulas que resolvam de forma generalista o problema dos espaços pequenos, a abordagem deve passar pela interpretação do espaço e pelas necessidades do ocupante. Materiais flexíveis e de tratamento simples são — em geral —uma boa abordagem para a resolução de problemas (madeiras, por exemplo) e o próprio mobiliário deve-se enquadrar à escala e à função. Fundamental é mesmo a interpretação do lugar, a geometria e as necessidades do cliente (que nos espaços pequenos obrigam a um cuidado maior por parte dos arquitectos), interpretando de facto a vontade de quem vai ocupar o espaço, antecipando necessidades futuras que possam passar despercebidas (mobilidade ou necessidades familiares, por exemplo).”