Bill Gates diz que onda das criptomoedas é "superarriscada"

Declarações não parecem ter afectado os preços. Bitcoin ronda os 10.500 dólares.

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Gates esteve, mais uma vez, a responder a perguntas no fórum Reddit Reuters/PEARL GABEL

Bill Gates também torce o nariz às criptomoedas. O fundador e antigo presidente executivo da Microsoft acha que uma das suas grandes características – o anonimato – tem efeitos negativos.

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Bill Gates também torce o nariz às criptomoedas. O fundador e antigo presidente executivo da Microsoft acha que uma das suas grandes características – o anonimato – tem efeitos negativos.

“É uma das raras tecnologias que já causaram mortes de forma relativamente directa”, escreveu Gates numa sessão de perguntas e respostas, esta terça-feira, no fórum Reddit, quando questionado sobre a sua opinião quanto à moda das criptomoedas. Tem sido notícia na imprensa internacional. O criador da Microsoft refere-se especificamente ao uso de divisas digitais (como a bitcoin, o ethereum e a litecoin) para comprar opióides em excesso de forma ilegal. “A capacidade de os governos conseguirem detectar esquemas de lavagem de dinheiro, fuga ao fisco, e financiamento de terrorismo é positiva”, acrescentou.

Na conversa no Reddit, um utilizador sugeriu que qualquer forma de dinheiro (seja electrónico ou em papel) é utilizada para financiar actividades ilegais. Gates respondeu, porém, que vê as criptomoedas como o método mais fácil. Deixou, também, um aviso: “Acho que a onda especulativa em torno das ICO e das criptomoedas é superarriscada para quem investe a longo prazo.”

Com a moda das criptomoedas, surgiu a moda dos ICO – sigla inglesa para initial coin offerings. Trata-se de um conceito de financiamento relativamente recente em que as empresas criam uma espécie de moeda digital que não funciona como dinheiro, mas representa uma parte do capital da empresa (de forma semelhante a uma acção).

O comentário de Gates não afectou o valor da bitcoin, que continuou a rondar os 10.500 euros de acordo com a plataforma CoinMarketCap. Afinal, Gates não é a primeira figura pública a criticar as divisas digitais. Em Setembro, o presidente executivo do banco de investimento norte-americano JP Morgan, Jamie Dimon, também associou as moedas digitais (mais especificamente, a bitcoin) a “traficantes de drogas, assassinos e criminosos”. Um mês mais tarde, foi a vez de “o Lobo de Wall Street” dizer que não é fã do modelo de ICO. Numa entrevista ao Finantial Times, Jordan Belfort – o homem imortalizado por Leonardo DiCaprio como um financeiro vigarista – classificou o processo como a “maior burla de sempre".

Belfort comparou o processo ao financiamento "às escuras", popular nas décadas de 1970 e 1980, em que as empresas angariavam dinheiro sem explicar em que é que ia ser gasto, geralmente ao promover o nome do indivíduo ou empresa envolvidos. Muitas dos investidores acabaram por perder o dinheiro todo.

Há quem seja menos extremista. O bilionário Mark Cuban sugeriu, em conversa com a Vanity Fair, que não faz mal investir uma pequena parte do fundo de poupanças (até 10%) em criptomoedas. Porém, acrescentou que a chave é “fingir que já se perdeu esse dinheiro”, e, talvez, ver o contrário a acontecer.