Região Centro vai ter mais camas de cuidados continuados

Futuro passa pela prestação de cuidados em casa, sublinhou o coordenador da reforma dos cuidados continuados integrados, Manuel Lopes, num encontro em Coimbra

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RG RUI GAUDENCIO

A capacidade da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) na região Centro vai ser aumentada este ano com mais 142 camas, anunciou esta quarta-feira a presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, Rosa Reis Marques, no encontro "Cuidar em Casa", em Coimbra.

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A capacidade da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) na região Centro vai ser aumentada este ano com mais 142 camas, anunciou esta quarta-feira a presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, Rosa Reis Marques, no encontro "Cuidar em Casa", em Coimbra.

Rosa Reis Marques considerou “razoável” a resposta da rede na região Centro, onde existem 65 unidades de internamento com 2 291 camas nas diferentes tipologias de cuidados e 66 equipas domiciliárias, com 846 lugares.

Relativamente às equipas de cuidados continuados integrados no domicílio, a presidente da ARSC adiantou que está em curso o reforço dos recursos humanos, com a colocação de mais 103 enfermeiros nas unidades de cuidados de saúde primários, que efectuam a referenciação dos doentes.

O coordenador nacional da reforma do Serviço Nacional de Saúde na área dos Cuidados Continuados Integrados defendeu que o futuro do sector passa pela prestação de cuidados em casa. Segundo Manuel Lopes, cuidar em casa vai ser "um dos mais importantes complementos aos restantes cuidados e, provavelmente, vai ser aquele que mais se vai desenvolver nos tempos mais próximos".

"É uma mudança de paradigma, não tenho dúvidas nenhumas sobre isso, e estou em crer que vai cumprir alguns critérios muito interessantes: torna os cuidados mais baratos, com menos riscos [do que nos hospitais] e, ao mesmo tempo, vai aumentar a satisfação dos doentes com os cuidados", disse.

De acordo com Manuel Lopes, existem atualmente cerca de três mil vagas nas equipas de cuidados continuados integrados que não estão a ser preenchidas por falta de referenciação dos cuidados primários.

"Isto preocupa-nos, porque queremos que estas equipas estejam a ser utilizadas na sua total capacidade", sublinhou o responsável, referindo que, no caso das unidades de institucionalização, não existem vagas.

"Incapacidade" da Segurança Social

No mesmo encontro, o médico José Silva considerou que a taxa de ocupação das unidades de longa duração atingiu uma dimensão que desvirtua os princípios desta rede.

Segundo o especialista em medicina geral e familiar, que exerce no Centro de Saúde de Pedrógão Grande, os médicos são “hoje confrontados com o internamento e institucionalização abusiva nas unidades de longa duração, com custos elevados, resultados questionáveis e, por vezes, de uma violência psicológica inaceitável”.

“A taxa de ocupação de unidades de longa duração por casos unicamente sociais atinge hoje uma dimensão que desvirtua os princípios da RNCCI”, defendeu o médico, sublinhando que Portugal não é, infelizmente, “um país tão rico que permita de uma forma tão perdulária gastar recursos financeiros”.

“Se fossemos mais criteriosos e exigentes, faríamos uma aposta forte e séria nas equipas de cuidados continuados integrados e, simultaneamente, nas estruturas sociais para idosos que não necessitam de cuidados de saúde mais diferenciados”, defendeu.

Para o clínico, manter o rumo actual de crescimento das rendas das unidades de cuidados de longa duração “para dar resposta a casos exclusivamente sociais que não necessitam de cuidados de saúde específicos, mais não serve do que colmatar a incapacidade da Segurança Social em encontrar respostas e, simultaneamente, ceder e satisfazer grupos de pressão”.

O caminho de futuro dos cuidados continuados passa não só por apostar nas equipas no terreno, mas também por "trabalhar com as famílias, criar as condições para retardar a institucionalização do dependente e pedir aos técnicos da Segurança Social para estarem no terreno”.

José Silva considera urgente que se “discuta e equacione a função das famílias, quais os seus direitos, deveres e responsabilidades”, numa altura em que se vive uma “importante e significativa alteração de paradigma na estrutura familiar, com a consequente desresponsabilização e abandono das suas obrigações”.

“Acelerar o estatuto do cuidador informal e penalizar o abandono são regras essenciais na procura de soluções sustentáveis para os quais todos devemos contribuir”, disse o médico, que dirige as residências clínicas Montepio, em Coimbra.