A “Arca de Noé” já tem dez anos e um milhão de sementes

Criada há dez anos, a a caixa-forte do Árctico tem como objectivo preservar as espécies vegetais para o caso de existir alguma catástrofe – natural ou humana. Mas o derretimento do gelo do Árctico, potenciado pelas alterações climáticas, pode ser um perigo para o depósito.

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A caixa-forte do Árctico, que guarda milhares de sementes, fez dez anos nesta segunda-feira e recebeu uma encomenda especial: foram mais de 70 mil sementes que chegaram ao depósito e juntaram-se às mais de 980 mil que já lá estavam, totalizando mais de um milhão. “Chegar ao marco de um milhão é verdadeiramente importante”, disse à BBC o cientista Hannes Dempewolf da Crop Trust, a organização que gere o cofre-forte em conjunto com o governo norueguês.

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A caixa-forte do Árctico, que guarda milhares de sementes, fez dez anos nesta segunda-feira e recebeu uma encomenda especial: foram mais de 70 mil sementes que chegaram ao depósito e juntaram-se às mais de 980 mil que já lá estavam, totalizando mais de um milhão. “Chegar ao marco de um milhão é verdadeiramente importante”, disse à BBC o cientista Hannes Dempewolf da Crop Trust, a organização que gere o cofre-forte em conjunto com o governo norueguês.

O banco mundial de sementes está localizado no arquipélago de Svalbard, na Noruega, a pouco mais de mil quilómetros do Pólo Norte, e a sua origem surge de um esforço para preservar espécies vegetais para o futuro, em caso de catástrofe — ambiental ou humana.

O cofre só é aberto para receber novas sementes duas a três vezes por ano. Lá dentro há espaço para muita variedade: estão conservadas, a uma temperatura de -18ºC, espécies mais tradicionais, mas também algumas mais exóticas e menos comuns, como a ervilha guandu ou o milho sorgo. Nesta segunda-feira, o cofre recebeu mais variedades únicas de arroz, milho, cevada, trigo e ainda o feijão-bambara, que pode ser criado em regiões afectadas pela seca.

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Até hoje, as únicas sementes que foram tiradas do cofre foram pedidas por investigadores na Síria, depois de um banco de sementes do país ter sido afectado pela guerra civil em Alepo.

A caixa-forte, feita para resistir ao tempo, foi inaugurada em 2008 no Árctico, numa zona onde não há vulcões e o risco de sismos é reduzido. Mesmo que haja um corte de electricidade, permanecerá congelada durante pelo menos 200 anos. Vários países, incluindo Portugal, enviaram sementes para o depósito.

A ameaça das alterações climáticas

As alterações climáticas foram um dos principais motivos para a construção do banco mundial de sementes. A ameaça da guerra e de outros tipos de catástrofes causadas pelo homem ou pela natureza levaram um consórcio internacional a constituir uma reserva para preservar a diversidade vegetal (e garantir que existe alguma forma de nos conseguirmos alimentar) em caso de cataclismo – como uma guerra nuclear ou efeitos drásticos das alterações climáticas.

Agora, o governo norueguês vai investir mais de dez milhões de euros para melhorar as condições da caixa-forte, que enfrenta alguns riscos devido às alterações climáticas e consequente derretimento do gelo. Em Maio do ano passado, o permafrost (solo permanentemente gelado, por definição) que rodeia a caixa-forte derreteu parcialmente, fazendo com que alguma água entrasse no túnel de acesso ao edifício, não chegando às sementes.

Nessa altura, o cofre tinha 880 mil sementes guardadas (sendo que tem capacidade de armazenar até 2,5 mil milhões).

“É razoável dizer que a agricultura nunca enfrentou maiores desafios do que aqueles que temos hoje”, disse à Reuters Marie Haga, directora-executiva da Crop Trust. No site desta organização sem fins lucrativos, que tem como objectivo preservar a diversidade das colheitas, é possível fazer uma visita interactiva ao cofre-forte das sementes, incluindo à zona exterior e ao túnel por onde são levadas as sementes.