Seca: o que estamos a fazer
Se pouparmos água, comprometo-me a que, em 2018, ela não faltará na torneira dos portugueses.
Completamos mais de um ano de seca. Os valores da chuva têm sido insistentemente inferiores ao esperado, com a consequente redução da água no solo e dos níveis das albufeiras.
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Completamos mais de um ano de seca. Os valores da chuva têm sido insistentemente inferiores ao esperado, com a consequente redução da água no solo e dos níveis das albufeiras.
Na primavera passada, o Governo, e, dentro deste, os ministérios do Ambiente e da Agricultura, começou a agir e concebeu em tempo recorde um plano de contingência para a seca. Foi porque este existiu em tempo que, durante o ano de 2017, a água nunca faltou nas torneiras dos portugueses, honrando um compromisso de maio último.
Antecipadamente, foram contratados os camiões cisterna que levaram água aos reservatórios dos pequenos aglomerados, definiram-se prioridades de uso, removeram-se peixes de albufeiras para evitar a degradação da qualidade da água. O Alqueva trabalhou em 2017 ultrapassando limites conhecidos para abastecer outras albufeiras. Iniciaram-se os trabalhos de abastecimento aos concelhos do Alentejo interior, concretizando um projeto com 20 anos de espera. Iniciou-se o abastecimento a Bragança a partir da barragem de Veiguinhas. Com menos programação, porque inesperada, ocorreu-se à gravíssima situação de Viseu, conseguindo que a água nunca faltasse nas torneiras.
Como ministro do Ambiente, o meu foco é essencialmente o consumo humano, primeira das prioridades definidas. Mas acompanhei e participei nos esforços do meu colega da Agricultura para acudir ao abeberamento dos animais e, a pedido dele, licenciaram-se em tempo recorde mais de 3000 furos para rega.
Neste novo ano hidrológico, a chuva tem sido ainda menos. Escrevo num momento em que começa a chover no sul do país, chuva que deverá persistir por uma semana mas que muito dificilmente inverterá o problema com que todos nos confrontamos.
O que estamos a fazer norteia-se pelo melhor aproveitamento da água. Por essa razão, estamos a limpar os fundos em nove albufeiras do país, para que toda a água armazenada tenha qualidade para ser distribuída. Iniciámos trabalhos para aproveitar para usos secundários (regas e lavagens) as águas residuais tratadas nas 50 maiores estações de tratamento do país. Iniciámos ligações, a partir do Alqueva, a um vasto conjunto de albufeiras de menor dimensão, algumas apenas de uso agrícola, tanto nas bacias do Sado como do Guadiana. Estão também em curso intervenções na rede hidrográfica das zonas percorridas por incêndios, de forma a garantir a qualidade de água aí captada. Estamos a reabrir, em conjunto com os municípios, captações de água encerradas. E acompanhamos, ao dia, a capacidade das albufeiras, particularmente no sul e no interior do país.
Em março, lançaremos uma campanha de poupança, desta vez mais ambiciosa porque dirigida também aos consumidores agrícolas e industriais. A mais largo prazo, porque a ocorrência de secas e de fenómenos climáticas extremos deverá ser mais frequente, estamos a elaborar planos de contingência por bacia hidrográfica (exercício que nunca foi feito em Portugal), planos que ditarão, em casos de emergência, a quantidade de água que poderá ser consumida por tipo de uso. Não menos importante, estamos a lançar um grande investimento na reabilitação das redes de distribuição, para que se reduzam as fugas existentes.
Boa parte destas medidas dará frutos em 2019 e nos anos seguintes. Mesmo assim, e até lá, se pouparmos água, comprometo-me a que, em 2018, a água não faltará na torneira dos portugueses.
Temos de nos adaptar. Adaptar significa saber viver com os recursos que temos. Do lado dos consumidores — domésticos, agrícolas e industriais —, quer dizer consumir menos e ser mais eficiente. Do lado do Governo e das autarquias, quer dizer gerir melhor a água disponível, privilegiando o uso humano e a sobrevivência das culturas permanentes.
O problema da seca é grave e não é iludível. Com o esforço de todos e a redução de consumos, conseguiremos ultrapassá-lo, com a certeza de que, em 2019, teremos maior capacidade de o combater. Mas, mesmo então, a água não deixará de ser um bem escasso.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico