Mind The Trash: eliminar o plástico, um produto de cada vez

A Mind The Trash é uma loja online que comercializa alternativas viáveis aos produtos pouco sustentáveis do dia-a-dia. De escovas de dentes de bambu a palhinhas de metal

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Nuno Ferreira Santos

Com 30 anos, Catarina Matos tem uma missão: ensinar a sociedade a ser mais sustentável, reduzindo o consumo de plástico no dia-a-dia. Para isso, a arquitecta criou a Mind The Trash, uma loja online que comercializa produtos orgânicos e ecológicos para um estilo de vida rumo ao "desperdício zero", tentando ainda consciencializar para pequenas mudanças de hábitos. 

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Com 30 anos, Catarina Matos tem uma missão: ensinar a sociedade a ser mais sustentável, reduzindo o consumo de plástico no dia-a-dia. Para isso, a arquitecta criou a Mind The Trash, uma loja online que comercializa produtos orgânicos e ecológicos para um estilo de vida rumo ao "desperdício zero", tentando ainda consciencializar para pequenas mudanças de hábitos. 

“A minha ideia foi sempre ter uma loja online com produtos que eu experimento ou uso e que recomendo”, conta, em entrevista ao P3, num café em Lisboa, onde vive. “Não quero uma loja cheia de tudo e mais alguma coisa porque depois perde-se um pouco a mensagem que pretendo passar.”

Sempre se preocupou com o ambiente. E já há algum tempo que tem vindo a reduzir o plástico na sua vida. “Há dez anos, quando ainda vivia em casa da minha mãe e íamos ao supermercado, apercebia-me do desperdício de plástico a embalar a comida, algo que me fazia muita confusão”, explica Catarina. Com um desejo de mudança, procurou novas soluções — começou, por exemplo, a ir ao mercado local comprar frutas e legumes a granel, evitando assim as embalagens.

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Catarina Matos tem 30 anos e vive em Lisboa Nuno Ferreira Santos

Mas foi apenas há três anos, quando se mudou para Londres, que as suas preocupações ambientais ganharam outros contornos, ao deparar-se com uma realidade ainda mais grave do que a portuguesa. “Fiquei horrorizada com a quantidade de plástico, sob a forma de produtos descartáveis, que via ser deitada fora,” confessa a arquitecta. “Por exemplo, eles tinham muito o hábito de ir a um café pedir uma bebida para levar e depois deitavam-na ao lixo — e se os caixotes estivessem cheios, deixavam a embalagem no chão. E isto acontecia diariamente, multiplicado por milhões de pessoas.”

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As pastas de dentes são muito procuradas Nuno Ferreira Santos

Exposta a este novo universo, criou uma conta de Instagram chamada Mind The Trash ("atenção ao lixo", em tradução livre), em que partilhava dicas para evitar o plástico e de como fazer cosméticos naturais. Foi uma forma de passar a sua mensagem. “Quando me comecei a preocupar [com o ambiente], falava muito com as pessoas, tentava convencê-las a experimentar [um estilo de vida sustentável] — e isso é um erro,” expressa, convicta. “Não há nada melhor do que darmos o exemplo e praticarmos aquilo em que acreditamos. Isso sim desperta o interesse e leva a que os outros o queiram fazer.”

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Uma das escovas para lavar a louça Nuno Ferreira Santos

Até que ao conhecer o seu actual parceiro, Christian Andersen, um dinamarquês com formação em finanças, viu a sua paixão pelo ambiente obter um apoio tremendo. A quatro mãos, evoluíram a ideia para uma loja online. “Ele", confessa a jovem, com um sorriso nos lábios, "era o único que acreditava verdadeiramente no projecto e que não tinha medo de falhar". 

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As palhinhas reutilizáveis são de metal ou bambu Nuno Ferreira Santos

Contra o plástico

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Estão disponíveis 32 produtos Nuno Ferreira Santos

Entretanto, regressou a Portugal, e Christian acompanhou-a. Juntos, criaram o site homónimo à conta de Instagram em Agosto de 2017, sem qualquer recurso externo. “Fizemos tudo sozinhos: o logótipo, o site, as fotografias e os textos dos produtos. Trabalhamos os dois a full time e investimos tudo o que temos — tempo e dinheiro — na empresa, oferecendo o que de melhor temos: a nossa inspiração”, diz a jovem empreendedora. O esforço, diz, tem compensado. O crescimento do negócio tem sido “assustador” — num bom sentido, claro.

Ao visitar a loja online, é possível escolher entre 32 produtos orgânicos e encontrar uma larga variedade de alternativas amigas do ambiente — de escovas para lavar a louça feitas de madeira e cerdas naturais, até a palhinhas reutilizáveis, de bambu ou metal, por menos de dez euros.

Os best-sellers, porém, são os itens da marca Georganics, destinados à higiene dentária. “Encontrei esta marca num supermercado inglês, o Whole Foods, quando estava em Londres à procura de alternativas às pastas de dentes de supermercado e, ao voltar a Portugal, contactei-os”, explica.

Hoje, são os distribuidores oficiais da marca e as pastas de dentes naturais tornaram-se no seu produto mais procurado. Estão disponíveis quatro variedades (da típica menta ao creme branqueador com carvão vegetal activado) por 7,95 euros. As mesmas são comercializadas em embalagens de vidro, com tampas de metal seladas com um “plástico falso”, feito de polpa de madeira — o que as torna recicláveis e compostáveis.

Os fios dentários também despertam muita curiosidade, já que poucas pessoas têm a consciência que o nylon é um material pouco degradável. As escovas de dentes são outras das muito procuradas alternativas — encontram-se neste momento esgotadas. Têm um cabo biodegradável de bambu, sem pesticidas ou fertilizantes, e as cerdas são compostas por 32% de plástico e 68% de óleo de rícino, o que as diferencia das existentes no mercado. “Só o facto de mudarmos de escova de dentes de plástico, embalada em plástico, para uma de bambu já faz uma grande diferença,” sublinha Catarina.

Se é verdade que cada vez mais pessoas se preocupam com o ambiente, também ainda há um longo caminho a percorrer, considera a jovem. “Nós vivemos numa sociedade que não está preparada para eliminar o plástico e muitas vezes não há alternativa senão ir ao supermercado", admite. "Eu não posso viver obcecada por banir o plástico da minha vida porque senão vou viver infeliz e enlouquecer”, afirma, entre risos. Mas tenta fazer a sua parte com a Mind The Trash: “O máximo que posso fazer é inspirar e tentar consciencializar enquanto aprendo.”