Coreia do Norte tem ajudado a Síria a produzir armas químicas
Relatório apresentado ao Conselho de Segurança da ONU avança provas da relação entre os dois regimes, que se aprofundou com a guerra iniciada em 2011.
A Coreia do Norte tem enviado regularmente para a Síria materiais que podem ser usados para produzir armas químicas, diz o relatório de um grupo de especialistas com mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas para investigar a violação das sanções de que é alvo o regime norte-coreano.
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A Coreia do Norte tem enviado regularmente para a Síria materiais que podem ser usados para produzir armas químicas, diz o relatório de um grupo de especialistas com mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas para investigar a violação das sanções de que é alvo o regime norte-coreano.
Numa altura em que o Presidente Bashar Al-Assad é mais uma vez acusado de ter usado armas químicas (a suspeita recai sobre bombas de cloro) contra a população de Ghouta, a região nos arredores de Damasco controlada pela oposição armada, começaram a ser divulgados alguns pormenores do relatório, entregue no início do mês ao Conselho de Segurança mas que ainda não foi tornado público.
Os peritos, que incluem especialistas em armas de destruição maciça, transporte marítimo e controlo de fronteiras, recolheram provas de que foram entregues pelo menos 40 carregamentos de material relacionado com armas químicas entre 2012 e 2017, que não tinham sido registados. Foram também entregues partes de mísseis e tecnologia que a Coreia do Norte está proibida de exportar, porque pode ter um uso duplo, tanto civil como militar, explica o New York Times.
A extensão das relações comerciais entre os dois regimes surpreendeu muitos observadores, nota a revista especialista em assuntos asiáticos The Diplomat, mas não espantou os analistas que seguem de perto a estratégia para o Médio Oriente de Pyongyang. Desde o início da guerra na Síria, em 2011, escreve Samuel Ramani, a Coreia do Norte tem sido um dos aliados mais fiéis de Assad.
Uma prova considerada crucial, diz a Diplomat, que também viu o relatório da ONU, foi a descoberta em Janeiro de 2017 de mosaicos resistentes a ácidos, usados normalmente na construção de fábricas de armas químicas. Seguiam em dois navios que se dirigiam para Damasco e que foram interceptados no mar.
Esta carga de mosaicos era um dos cinco carregamentos acordados num contrato entre uma empresa estatal síria, a Fábrica de Metalomecânica – já alvo de sanções norte-americanas, por ter ligações ao Instituto de Estudos Científicos e Centro de Investigação, a entidade na Síria que produz armas químicas – e a Korea Mining Development Trading Corp, uma empresa norte-coreana que faz exportação de armas, diz o relatório. Estas outras entregas foram feitas entre 3 de Novembro e 12 de Dezembro de 2016.
Em 2013, após um ataque com gás sarin que terá morto cerca de 1400 pessoas em Ghoutta – uma acção que chocou o mundo e quase levou à intervenção internacional na guerra na Síria –, o regime de Assad assinou a Convenção Internacional que proíbe o uso de armas químicas, e aceitou eliminar os seus arsenais químicos, incluindo 1300 toneladas cúbicas de sarin. Mas já voltou a usar sarin, como a 4 de Abril de 2017, na cidade de Khan Sheikhoun, então nas mãos da oposição, num ataque que matou 81 pessoas.
A Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) suspeitava que Assad não teria entregado tudo o que possuía. E, se as relações com a Coreia do Norte continuaram a todo o vapor, pode ter refeito os seus stocks. Para além dos mosaicos, há notícia de transferência de outros equipamentos, e também de pessoal técnico e científico. Sabe-se que técnicos de mísseis norte-coreanos trabalharam em Barzeh, Adra e Hama.
O regime de Pyongyang tem uma grande admiração pela revolução Baathista da Síria, pela sua ideologia e resistência aos esforços dos Estados Unidos para derrubar o regime, escreve a Diplomat. E desde o início da guerra na Síria, vários dirigentes norte-coreanos têm elogiado as capacidades de liderança de Bashar al-Assad. Em 2015, a Síria agradeceu o apoio inaugurando em Damasco um monumento dedicado a Kim Il-Sung, o primeiro líder da dinastia Kim, conta o New York Times.