A primeira-ministra engravidou durante as eleições? Entrevista “sexista” causa indignação
Jornalista australiano disse que nunca conheceu uma primeira-ministra tão “atraente” como Jacinda Ardern e fez-lhe perguntas minuciosas sobre a sua gravidez, sem tempo para questões políticas.
Numa entrevista de 60 minutos à primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, pouco espaço houve para questões políticas. Em vez disso, a maior parte da entrevista focou-se na sua vida pessoal e na sua gravidez – incluindo a altura da concepção. Desde que o programa foi emitido, na noite de domingo, críticas não têm faltado ao programa e ao entrevistador: nas redes sociais, os neozelandeses referem-se à entrevista como sendo “sexista” e “perturbadora”, e dizem também que tais perguntas não seriam feitas a um homem.
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Numa entrevista de 60 minutos à primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, pouco espaço houve para questões políticas. Em vez disso, a maior parte da entrevista focou-se na sua vida pessoal e na sua gravidez – incluindo a altura da concepção. Desde que o programa foi emitido, na noite de domingo, críticas não têm faltado ao programa e ao entrevistador: nas redes sociais, os neozelandeses referem-se à entrevista como sendo “sexista” e “perturbadora”, e dizem também que tais perguntas não seriam feitas a um homem.
“Há uma pergunta política muito importante que lhe quero fazer. E é: quando é que o bebé vai nascer?”, começou por perguntar o jornalista australiano Charles Wooley, que conduziu a entrevista. Depois, perguntou indirectamente a Ardern em que altura é que tinha sido concebido o seu bebé, para ver se coincidia com o período eleitoral. A primeira-ministra da Nova Zelândia, de 37 anos, respondeu-lhe, incomodada, que foi depois das eleições. “As eleições [de Setembro] já tinham acabado. Não que precisemos de entrar nestes detalhes”, disse ainda. A seu lado, a sorrir, estava o seu companheiro, Clarke Gayford.
No segmento inicial da entrevista, o apresentador do programa televisivo 60 Minutes, transmitido aos domingos à noite, dizia já ter conhecido muitos primeiros-ministros, mas poucos tão jovens e inteligentes como Ardern. “E nunca conheci um tão atraente”, rematava.
“Como é que uma pessoa tão simpática entrou no mundo sórdido da política?”, pergunta-lhe, a certa altura. A líder do Partido Trabalhista, de centro-esquerda, manteve uma postura de cordial com o apresentador, sorrindo perante algumas perguntas mais desconfortáveis. “As pessoas simpáticas também entram na política”, disse-lhe.
Assim que a entrevista foi para o ar, começou a ser comentada nas redes sociais. Muitos utilizadores consideraram que o apresentador tinha sido incómodo e misógino, classificando a entrevista como “repugnante” e “difícil de ver”.
As críticas fizeram com que o apresentador se defendesse, referindo que só não falou com Ardern sobre política porque não era disso que os telespectadores queriam ouvir falar. “Queríamos ver este casal maravilhoso, adorei estar com eles”.
Nesta segunda-feira, numa conferência de imprensa, também a primeira-ministra neozelandesa comentou a entrevista, dizendo que não se sentia perturbada nem ofendida – ainda que tenha ficado estonteada com a pergunta da data da concepção do bebé –, até porque outros jornalistas já lhe tinham feito perguntas similares.
Não é novidade fazerem-lhe perguntas desconfortáveis sobre a maternidade. Na altura em que assumiu o cargo de primeira-ministra, no final do ano passado, perguntavam-lhe com frequência se pensava vir a ser mãe. Ela não se importava de responder, mas nem por isso concordava com o tom das perguntas. "Para as outras mulheres, é totalmente inaceitável, em 2017, dizer que as mulheres têm de responder a essa pergunta no local de trabalho. É uma decisão das mulheres quando querem ter filhos. Não deve predeterminar se são ou não contratadas.”
"Não sou a primeira mulher a trabalhar e a ter um bebé. Sei que estas são circunstâncias especiais, mas irão existir muitas mais mulheres a fazê-lo e muitas já o fizeram antes de mim", explicou Ardern quando anunciou a gravidez. O bebé deverá nascer em Junho deste ano, altura em que o vice-primeiro-ministro assumirá temporariamente as rédeas do Governo durante as seis semanas de licença de maternidade.