Ghouta continua a ser bombardeada e há suspeitas de uso de armas químicas
Moscovo rejeita acusação de envolvimento das forças pró-Assad em bombardeamentos com cloro gasoso.
Depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter imposto um cessar-fogo de 30 dias na Síria, continuam os bombardeamentos e ataques de artilharia pelas forças do regime de Bashar al-Assad e os seus aliados contra a região de Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco.
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Depois de o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter imposto um cessar-fogo de 30 dias na Síria, continuam os bombardeamentos e ataques de artilharia pelas forças do regime de Bashar al-Assad e os seus aliados contra a região de Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco.
Médicos de Ghouta Oriental – um enclave controlado por forças de oposição ao regime do Presidente sírio, apoiado pelo Irão e pela Rússia – acusam as forças do Governo de usar gás de cloro (uma arma química) nos bombardeamentos sobre os arredores da capital.
Rejeitando as acusações de envolvimento das forças leais a Assad, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, veio nesta segunda-feira classificar a acusação como falsa e uma provocação destinada a sabotar o cessar-fogo, cita a Reuters. Afirmou que eram os rebeldes que estavam a usar armas químicas, para depois acusar Assad e os seus aliados de o terem feito, diz a Reuters.
Acusações dos EUA
Nas últimas semanas, os EUA têm acusado Assad de estar a usar de novo armas químicas. E, no ano passado, um inquérito conjunto das Nações Unidas e da Organização para a Proibição das Armas Químicas, concluiu que o Governo de Damasco era o responsável pelo ataque de 4 de Abril de 2017 com gás sarin contra a cidade de Khan Sheikhoun, então nas mãos da oposição, que matou 81 pessoas.
Este ataque levou os EUA a retaliar, bombardeando com 49 mísseis Tomahawk uma base militar síria, onde também havia forças russas, previamente avisadas para se retirarem do local.
Lavrov sublinhou ainda que Ghouta e Idlib não estão abrangidas pela resolução de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança, porque ali se encontram forças ligadas à Frente Al-Nusra, o braço da Al-Qaeda na Síria. Nos termos da resolução, o Governo sírio pode continuar a bombardear locais onde considere que haja terroristas.
A oposição dá conta de que aos cuidados médicos em Shifouniyeh, em Ghouta, têm chegado pacientes com dificuldades em respirar, irritação dos olhos e tonturas; segundo o grupo de assistência humanitária Sociedade Médica Sírio-Americana, pelo menos uma criança morreu na sequência de ataques das forças sírias. Os voluntários da Defesa Civil Síria, conhecidos como “Capacetes Brancos”, dizem que várias mulheres e crianças apresentam dificuldades em respirar.
Ghouta foi atacada com armas químicas em 2013 por Assad, quando morreram centenas de pessoas. Foi o momento em que mais perto se esteve de uma intervenção internacional na guerra da Síria. Assad assinou a convenção internacional para a proibição das armas químicas e aceitou entregar e destruir, alegadamente, todo o seu stock de armas químicas. Mas as acusações de que continuou a usar este tipo de armamento têm-se sucedido neste conflito.
Resolução não aplicada
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, as forças de Assad e os seus aliados retomaram os ataques e bombardeamentos em Ghouta pouco depois de o Conselho de Segurança ter aprovado, na noite de sábado em Nova Iorque, um cessar-fogo. Apesar de a resolução determinar a suspensão “sem demora” das hostilidades, o texto não é claro em relação ao momento em que entra em vigor.
Perante a vaga de ataques, a França e a Alemanha já vieram apelar para que a Rússia pressione o Governo sírio a respeitar o cessar-fogo. Paris lançou nesta segunda-feira um novo apelo. O Palácio do Eliseu dá conta de que o Presidente, Emmanuel Macron, transmitiu essa mensagem ao Presidente turco, Recep Erdogan.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente francês tiveram uma conversa conjunta por telefone com o Presidente russo, Vladimir Putin, para apelar a que seja posta em prática a resolução da ONU. A proposta inicial chegou a prever um prazo de 72 horas para se iniciar o cessar-fogo, mas essa referência acabou por ser retirada do texto final.
A resolução prevê que todas as partes em conflito devem cessar as hostilidades durante 30 dias, para permitir entrada de equipas de ajuda humanitária nos territórios em conflito e a retirada de feridos. De fora ficam o Daesh e a Organização de Libertação do Levante, uma aliança criada em torno da Frente de Al-Nusra.
O enclave de Ghouta, onde se calcula viverem perto de 400 mil pessoas, tem sido alvo de uma vaga de ataques descrita como uma das mais mortíferas naquela zona desde 2013, o que já levara Paris a descrever os bombardeamentos como uma violação da lei humanitária internacional. A autoria da ofensiva é atribuída pelo Observatório Sírio para os Direitos Humanos às forças russas e sírias, mas Moscovo nega qualquer envolvimento directo.
A semana de intensos ataques aéreos, bombardeamentos com rockets e outros projécteis já provocou a morte a pelo menos 541 pessoas, sintetiza a BBC. Mais de 120 são menores.