Casa onde morreu António Nobre vai ser demolida
Plataforma Fórum Cidadania Porto divulgou um protesto dirigido à Câmara do Porto e pede que esta tome posse administrativa do edifício que será substituído por prédio de habitação.
O escritor Mário Cláudio anda há mais de dez anos a pedir à Câmara do Porto que preserve a casa da Avenida Brasil, na Foz do Douro, onde morreu o poeta António Nobre e, em 2015, promoveu mesmo uma petição nesse sentido, mas a oportunidade parece, agora, definitivamente perdida. A casa de dois pisos, que há muito estava ao abandono, vai ser demolida e substituída por um novo edifício, que irá integrar o projecto imobiliário Panorama e que inclui, ainda, o prédio contíguo, com características Arte Nova. Um protesto já seguiu para a câmara liderada por Rui Moreira.
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O escritor Mário Cláudio anda há mais de dez anos a pedir à Câmara do Porto que preserve a casa da Avenida Brasil, na Foz do Douro, onde morreu o poeta António Nobre e, em 2015, promoveu mesmo uma petição nesse sentido, mas a oportunidade parece, agora, definitivamente perdida. A casa de dois pisos, que há muito estava ao abandono, vai ser demolida e substituída por um novo edifício, que irá integrar o projecto imobiliário Panorama e que inclui, ainda, o prédio contíguo, com características Arte Nova. Um protesto já seguiu para a câmara liderada por Rui Moreira.
O novo empreendimento, que prevê a recuperação do palacete com características Arte Nova e a construção de um novo prédio no local onde ainda está a casa arruinada do irmão de António Nobre, onde o poeta morreu, em 1900, pretende oferecer nove apartamentos nesta zona privilegiada da cidade, voltada para o mar. O projecto de arquitectura é do gabinete Pedra Líquida, que é parceiro da Alfa Atlântica, a imobiliária que está a promover a venda do complexo habitacional.
Na quinta-feira, a plataforma online Fórum Cidadania Porto divulgou uma carta aberta dirigida a Rui Moreira, e com conhecimento da Área Metropolitana do Porto, em que é apresentado um “protesto pela pré-anunciada destruição da casa onde morreu António Nobre”. Referindo que, apesar da petição lançada por Mário Cláudio, em 2015, a casa de dois pisos “nunca foi intervencionada pela Câmara Municipal do Porto, para grande espanto de todos quanto se preocupam com a identidade e a memória da cidade”, os signatários apelam a Rui Moreira “para que evite esta demolição e diligencie para a posse administrativa da moradia, sustendo a sua derrocada e recuperando-a enquanto casa-museu, negociando com o proprietário a eventual concessão de créditos de construção em terrenos municipais, longe de afectarem a história e o património da cidade”.
A carta, disponível online na página do Fórum Cidadania Porto, refere-se ainda ao edifício contíguo, lançando um novo apelo à câmara para que “não autorize o desfigurar irreversível do ainda interessante edifício vizinho da casa dos irmãos Nobre”.
O PÚBLICO questionou a Câmara do Porto sobre este processo e, em concreto, sobre se a autarquia pretendia responder de alguma forma aos apelos feitos, mas apenas recebeu como resposta escrita que o projecto de arquitectura dos prédios em causa “foi aprovado por despacho do senhor vereador Correia Fernandes, em Maio de 2017” – o último mês em que o socialista exerceu aquelas funções. Já o gabinete de arquitectura não esteve disponível para prestar esclarecimentos durante o dia.
Também não foi possível ouvir o escritor Mário Cláudio que já por várias vezes falou publicamente sobre a que entendia ser a necessidade de preservar um edifício que, não tendo um especial valor arquitectónico, o tinha em termos culturais e patrimoniais. Em 2007, Mário Cláudio lamentava o desaparecimento da placa colocada na fachada da casa que a identificava como o local onde morrera o autor de Só e dizia, já nessa altura, que estava a tentar sensibilizar o executivo de Rui Rio para que protegesse o edifício e ali instalasse uma casa-museu dedicada ao poeta.
Em 2015, o escritor avançou mesmo com uma petição online, que chegou a reunir 566 assinaturas, e era dirigida a Rui Moreira e ao então vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, pedindo que a autarquia mobilizasse “todos os meios para impedir o desaparecimento um importante rasto físico da passagem daquele que foi um das grandes figuras da literatura portuguesa de todos os tempos”.
“A nosso ver a classificação do imóvel como de interesse publico, ou mesmo municipal, como primeiro passo na salvaguarda do edifício, poderá constituir medida imediata para o efeito, e o precioso espólio do autor do Só, propriedade da autarquia, guardado na biblioteca pública municipal, bem poderá vir a ser adequadamente alojado nesse espaço, uma vez restituída a memória de todos nós”, referia-se no texto da petição.