Eurovisão: voluntariado é “normal” ou motivo de “indignação”?

Depois da RTP abrir as vagas de acesso ao voluntariado na Eurovisão, surgiram denúncias nas redes sociais sobre o uso de trabalho voluntário para as funções requeridas

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Unsplash/Adi Goldstein

O recrutamento de voluntários para o Festival da Eurovisão, que este ano se realiza em Portugal, abriu a 19 de Fevereiro e, desde aí, já se inscreveram 700 pessoas através do formulário disponível online. Para as várias fases do evento vão ser destacados 400 voluntários, que ficarão sobre a alçada de “700 elementos remunerados de staff”, diz ao P3 Marina Ramos, directora de marketing e comunicação da RTP, a televisão pública portuguesa que co-organiza o festival em 2018.

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O recrutamento de voluntários para o Festival da Eurovisão, que este ano se realiza em Portugal, abriu a 19 de Fevereiro e, desde aí, já se inscreveram 700 pessoas através do formulário disponível online. Para as várias fases do evento vão ser destacados 400 voluntários, que ficarão sobre a alçada de “700 elementos remunerados de staff”, diz ao P3 Marina Ramos, directora de marketing e comunicação da RTP, a televisão pública portuguesa que co-organiza o festival em 2018.

Foi este número, bem como a exigência de competências específicas, material próprio e experiência na área, que desencadeou denúncias nas redes socias, incluindo na plataforma Ganhem Vergonha, que analisa e expõe anúncios de emprego e é seguida por quase 40 mil pessoas.

A publicação da página, com o título "A possibilidade de se divertirem imenso!" — que é também o último ponto na secção “A que é que eu tenho direito” do anúncio da RTP, disponível no site do Instituto Português do Desporto e Juventudo (IPDJ) — salienta os requisitos para a captação de voluntários no departamento da iluminação, onde o “domínio da língua alemã será valorizado”. Refere também o exemplo dos candidatos que ficarão responsáveis pela cobertura em vídeo e fotográfica do dia-a-dia dos voluntários. Estes terão de levar o “material necessário para cumprir a função”, bem como ter “alguma experiência em fotografia, filmagem e edição de vídeo”.

A plataforma de denúncias enumera a lista de funções pedidas e deixa a pergunta: “Poderia este evento realizar-se sem a execução de todas as funções referidas?”. Questionada pelo PÚBLICO, a RTP responde que “o objectivo de ter voluntários visa essencialmente garantir uma experiência única, de ter oportunidade de fazer parte da organização do maior evento musical do mundo”. Se podia fazer-se sem eles? Podia, mas não seria a mesma coisa. Para eles [os voluntários], sobretudo”.

Marina Ramos explica que o recurso ao voluntariado “é um padrão que se repete anualmente”, uma vez que “faz parte do modelo do Eurovision Song Contest”, um formato que “pertence à EBU” e do qual a “RTP é host broadcaster [anfitriã] em 2018”. “O objectivo é proporcionar experiências profissionais e contactos, a nível internacional, normalmente muito apelativos para quem quer enriquecer o currículo”, diz, acrescentando que o mesmo acontece “noutros grandes eventos internacionais, organizados em qualquer país do mundo”.

A RTP diz ao P3 que “todos os voluntários terão turnos de cinco horas diárias e folgas normais” (apesar de, na descrição dos turnos, disponível no regulamento, estes terem seis horas, o que vai contra as bases do enquadramento jurídico do voluntariado – Lei 71/98 de 3 de Novembro) e garante que nunca estarão sozinhos numa função.

O período de participação, durante o qual é pedida disponibilidade aos voluntários, vai de 4 de Abril a 15 de Maio, com variações conforme o departamento, e não inclui os dias de formação. Os voluntários têm direito a “a transporte, refeições, vestuário, comunicações e seguro”, diz Marina Ramos. No entanto, na secção de perguntas frequentes, é dito que a organização ainda "está em negociações para que sejam entregues, a quem necessitar, bilhetes para os transportes públicos", apenas "durante os dias de participação".

O Altice Arena vai receber nove espectáculos, a que acrescem alguns eventos paralelos, entre 6 a 13 de Maio. Para cobrir o evento são esperados cerca de 1500 jornalistas em Lisboa.