Mais de 250 mil hectares irrigáveis sem água este ano por causa da seca

Associações de regantes estimam prejuízos na ordem dos mil milhões de euros.

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ADRIANO MIRANDA

Em Portugal, existem 547.838 hectares de superfície irrigável, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) para 2016. Mas a Federação Nacional de Regantes (Fenareg) estima que metade não terá água este ano. Carina Arranja, secretária-geral da federação, explica que os agricultores afectados por esta realidade têm duas alternativas: ou instalam culturas que “utilizem menos água” mas são menos rentáveis, ou “não produzem nada este ano”.

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Em Portugal, existem 547.838 hectares de superfície irrigável, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) para 2016. Mas a Federação Nacional de Regantes (Fenareg) estima que metade não terá água este ano. Carina Arranja, secretária-geral da federação, explica que os agricultores afectados por esta realidade têm duas alternativas: ou instalam culturas que “utilizem menos água” mas são menos rentáveis, ou “não produzem nada este ano”.

A Fenareg diz em comunicado que está a “efectuar um levantamento rigoroso das implicações desta situação” e já foi possível concluir que nove aproveitamentos hidroagrícolas – Divor, Veiros, Lavre, Vale do Sado, Vigia, Abrilongo/Xévora, Campilhas e Alto Sado, Caia e Lucefecit – não vão regar este ano. Só estas infra-estruturas cobrem uma área de 50.000 hectares.

Ao PÚBLICO, Carina Arranja diz que “fora destes aproveitamentos o impacto é ainda maior”.

Os regantes, que nesta altura planeiam a campanha de rega para 2018, estão a ser "obrigados" ao rateio da água disponível (divisão proporcional), "de modo a minimizar os prejuízos económicos causados pela falta de chuva". 

Para diminuir o impacto desta situação, a Fenareg defende maior “flexibilidade” nos pagamentos directos e na aplicação das medidas agro-ambientais que os agricultores estão obrigados a cumprir. Além disso, seria importante “aliviar os pagamentos da Segurança Social” e os custos relacionados com a energia utilizada para fazer chegar a água às explorações.

As estimativas dos regantes apontam para mil milhões de euros em prejuízos globais. Em termos de impactos para os produtores, Carina Arranja não tem dúvidas: “A quebra será evidente." Só no Vale do Sado, onde predomina a cultura do arroz, “as associações estimam 12 milhões de euros de prejuízo”. “Se este ano não correr bem, corre-se o risco do abandono da actividade agrícola.”

Cada hectare produzido em regime de regadio produz, nas contas da Fenareg, seis vezes mais do que um hectare em sequeiro.

Ilídio Martins, director executivo da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado, estima que 250 dos 450 agricultores associados à organização, serão afectados pela falta de água. "Temos 4000 hectares de regadio em risco", que estão instalados nos concelhos de Ourique, Santiago do Cacém e Odemira. Desses, 200 hectares são de olival em modo de produção intensivo, "cuja morte é certa" caso não chova.