Dentistas emigrados não querem voltar a Portugal
Segundo o Estudo da Empregabilidade, apenas 30% dos dentistas portugueses emigrados pretende voltar a Portugal. Ordem dos Médicos Dentistas avisa para precariedade e formação em excesso.
Cerca de 70% dos dentistas que trabalham no estrangeiro não pretendem regressar a Portugal, segundo dados da Ordem dos Médicos Dentistas, que avisa que o país forma profissionais em excesso e os atira para a precariedade e a emigração. De acordo com a Ordem, um em cada dez dentistas portugueses está a trabalhar no estrangeiro, sendo um total de 1500 em 11 mil profissionais no activo.
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Cerca de 70% dos dentistas que trabalham no estrangeiro não pretendem regressar a Portugal, segundo dados da Ordem dos Médicos Dentistas, que avisa que o país forma profissionais em excesso e os atira para a precariedade e a emigração. De acordo com a Ordem, um em cada dez dentistas portugueses está a trabalhar no estrangeiro, sendo um total de 1500 em 11 mil profissionais no activo.
"Não estamos a dar condições de segurança, condições de remuneração e de carreira. O que estamos a oferecer em Portugal é uma grande precariedade a estes jovens médicos dentistas. E grande parte deles vai exercer para o estrangeiro, nomeadamente para países da Europa", afirmou o bastonário, Orlando Monteiro da Silva, em entrevista à agência Lusa.
A larga maioria dos emigrados que não pretende sequer regressar a Portugal indica que, no estrangeiro, tem melhores condições de trabalho e de vida. Segundo o Estudo da Empregabilidade, realizado no ano passado e agora divulgado, 60% dos dentistas a exercer em Portugal trabalham em dois ou mais consultórios e mais de metade dos que se formaram há menos de uma década trabalha em mais de quatro consultórios.
O bastonário dos Médicos Dentistas sublinha que as condições de trabalho são difíceis, sobretudo para os médicos mais jovens, que trabalham muitas horas, em vários consultórios ao mesmo tempo e com deslocações grandes, por vezes a uma ou duas horas do local de residência. "Os nossos colegas mais jovens, sobretudo com menos de 10 anos de profissão têm uma grande precariedade, remunerações baixas, sem perspectivas de carreira e isso leva-os, nomeadamente, à emigração. É fundamental que a sociedade e os candidatos ao curso de Medicina Dentária se informem sobre as condições de emprego que vão encontrar e que desfaçam essa ideia de que a medicina dentária é uma profissão onde se ganha muito bem. Não é assim de há muito tempo a esta parte", aconselha Orlando Monteiro da Silva.
Ao Governo, a Ordem dos Médicos Dentistas recomenda e apela a que sejam reduzidas as vagas nos sete cursos de Medicina Dentária existentes em Portugal. "Parece-me óbvio que as faculdades têm de repensar a sua oferta para não continuarmos a formar pessoas para as convidarmos a exercer fora de Portugal", indica o bastonário, lembrando que todos os anos saem dos cursos entre 600 a 700 novos licenciados em medicina dentária.
O responsável defende que este valor devia ser progressivamente reduzido, pelo menos 10 a 15 por cento por ano, apostando antes na formação pós-graduada. "As próprias faculdades sabem que estão a formar médicos dentistas ou para o desemprego ou, talvez ainda mais grave, para o subemprego, a precariedade. Um médico dentista, por ser uma profissão ainda liberal, raras vezes se pode considerar desempregado. Ele está é numa situação grave de subemprego", comenta o bastonário dos Médicos Dentistas.
Portugal tem um médico dentista por cada mil habitantes, quando as recomendações internacionais apontam para um profissional para 1500 a 2000 habitantes.